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Brasil reduz em 23% a emissão de gases do efeito estufa

Emissões de gases de efeito estufa caíram 2,3%, queda puxada pela redução do desmatamento. Agronegócio responde por 71% das liberações

Paloma Oliveto
postado em 22/11/2018 06:00

O metano do rebanho bovino contribui para tornar o agronegócio o setor mais poluidor do país


As emissões brasileiras de gases de efeito estufa caíram em 2017. A queda de 2,3% em relação ao ano anterior foi puxada pela redução do desmatamento na Amazônia, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg) do Observatório do Clima (OC). O relatório apresentado ontem mostra que o Brasil lançou na atmosfera 2,071 bilhões de toneladas brutas de CO2e (gás carbônico equivalente), contra os 2,119 bilhões de toneladas registrados no ano anterior. Por setor, o maior responsável pelas emissões do país continua sendo o agronegócio, que responde por 71% dos gases de efeito estufa produzidos.

Uma redução desse nível, porém, não é motivo de comemoração, destaca Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas e coordenador técnico do Seeg. ;As emissões estão paradas, estamos patinando;, afirma. Ele ressalta que as emissões per capita brasileiras, desde 1990, são superiores às do restante do globo. ;A gente contribui para aumentar a média do mundo;, diz.

De acordo com os especialistas do Observatório do Clima, depois de dois anos seguidos de aumento, a queda no desmatamento, em 2017, pode ser atribuída à intensificação da fiscalização pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O órgão conseguiu recompor parte do orçamento entre 2015 e 2016 por meio do Fundo Amazônia, mantido, principalmente, pelo governo norueguês. Entre os ambientalistas, há temor de que as vistorias dos fiscais do Ibama sejam comprometidas a partir do ano que vem, pois o presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou, diversas vezes, que pretende acabar com a ;indústria das multas; dos órgãos vinculados ao Ministério do Meio Ambiente.

;Precisamos continuar com essa fiscalização para reduzirmos o desmatamento. Há ministros do governo Bolsonaro se posicionando contra o fundo. Com isso, pode ser que as emissões cresçam novamente nos próximos anos;, ressalta o coordenador técnico do Seeg. ;Chegaremos ao início de 2019 em alerta: o risco de redução do combate aos crimes ambientais, pelo próximo governo, já fez o desmatamento na Amazônia voltar a subir. Ruim para as florestas e para a imagem do país, que se candidatou a sediar a mais importante conferência global de clima do próximo ano, a COP 25;, afirma Carlos Rittl, diretor executivo do Observatório do Clima.

Agropecuária

As emissões da agropecuária caíram, embora o setor ainda seja um grande emissor. O relatório mostra que a saída da recessão, em 2017, mesmo que lenta, impulsionou o consumo de carne e, consequentemente, a diminuição do rebanho, com menor produção de metano nos pastos. O rebanho bovino brasileiro diminuiu 1,5% no ano passado, comparado ao ano anterior, quando ocorreu o inverso: menos consumo e mais animais no campo.

Pesquisadores do Imaflora, instituição que calcula para o Seeg as emissões do agronegócio, destacaram que o plantio de florestas, o manejo sustentável do pasto e os sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta vêm removendo cada vez mais carbono do ar e fixando o CO2 no solo. ;Existe um caminho real e lucrativo de sustentabilidade para o agronegócio. É possível dobrar a produtividade e reduzir as emissões em 25% com difusão de tecnologias já existentes;, afirma Marina Piatto, coordenadora de Clima e Agropecuária do Imaflora. ;Mas o setor precisa trilhar esse caminho de vez e olhar para o futuro, sem retrocessos.;

Outros setores econômicos, em contrapartida, registraram elevação nas emissões. O industrial aumentou 4%, o energético, 2%, e o de resíduos, 1,5%. Segundo o Observatório do Clima, as taxas de geração de resíduos sólidos urbanos aumentaram em comparação com a redução observada em 2016, o que pode ser atribuído ao início da retomada econômica.

;Chegaremos ao início de 2019 em alerta: o risco de redução do combate aos crimes ambientais, pelo próximo governo, já fez o desmatamento na Amazônia voltar a subir. Ruim para as florestas e para a imagem do país;
Carlos Rittl, diretor-executivo do Observatório do Clima

Poluidores

Principais constatações do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg)

Agronegócio
; Somando-se as emissões indiretas, por desmatamento, e as diretas, principalmente pelo metano do rebanho bovino, o setor responde por 71% das emissões totais do país, quase 1,5 bilhão de toneladas de CO2. Se fosse um país, o agro brasileiro seria o oitavo maior emissor do mundo, à frente do Japão.

Energia
; O transporte é o principal emissor do setor de energia (209 milhões de toneladas de CO2e, ou 48%), seguido pelo consumo energético na indústria (66 milhões de toneladas, ou 15%) e pela geração de eletricidade (59 milhões de toneladas, ou 14%).


; As emissões provenientes da geração de eletricidade tiveram a maior porcentagem de aumento (7%). As fontes renováveis não-hídricas continuam subindo de maneira consistente e estão praticamente empatadas em geração com as fósseis: em 2017, a termoeletricidade fóssil supriu 107 TWh da demanda brasileira.


Desmatamento
; O setor de mudanças de uso da terra, ou MUT, emitiu, em 2017, 46% do total das emissões de gases de efeito estufa do Brasil: foram 955 milhões de toneladas brutas de CO2 equivalente naquele ano.


; Depois de dois anos seguidos de alta (2015 e 2016), a queda no desmatamento da Amazônia não foi capaz de reverter as emissões ao mesmo patamar de 2014 (940 milhões de toneladas).

Resíduos
; O setor de resíduos emitiu 91 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2017, um aumento de 1,5%. A disposição de resíduos sólidos urbanos (lixo) é o principal responsável pelas emissões do setor (52%), seguidos do tratamento de efluentes líquidos (47%).


; O setor é, historicamente, sensível às variações do PIB e teve reduções em suas emissões durante a recessão. O maior aumento percentual das emissões em 2017 ocorreu no tratamento de efluentes (1,6%), na esteira da lenta recuperação da economia.

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