Denise Rothenburg
postado em 26/11/2018 06:05
A intenção do presidente eleito, Jair Bolsonaro, de fechar a composição da equipe de ministros esta semana transforma os cinco dias num momento decisivo e crucial para arbitrar a disputa no setor de infraestrutura ; o único que não teve ministros anunciados nesses quase 30 dias após a eleição em segundo turno. Até aqui, há apenas a decisão do governo de dividir a área em dois ministérios: um de Infraestrutura, que ficará responsável por transportes (incluindo portos e aviação civil) e comunicações; e outro, de Minas e Energia. Nos dois setores, há uma briga interna entre os três grandes grupos que compõem o governo ; o econômico, o político e o militar.
Os militares consideram o setor de infraestrutura, em especial aviação, portos, petróleo e energia, estratégicos para o país. Por isso, enquanto o núcleo econômico pede privatizações em tudo, generais, almirantes e brigadeiros vão na linha do ;muita calma nessa hora;, e desejam dar opiniões e sugestões a respeito. São nacionalistas, enquanto o mercado mira apenas no quesito criação de um bom ambiente de negócios. Nessa queda de braço, economistas e militares jogam no mesmo time quando a missão é a defesa de nomes mais técnicos, afastando o núcleo político dessa seara.
Essas disputas e a decisão de dividir a infraestrutura em duas pastas terminaram por frustrar o que havia sido idealizado pelo general Oswaldo Ferreira, que coordenou esse setor durante o processo eleitoral. A equipe do general também não teria gostado de Paulo Guedes indicar o presidente da Petrobras, o que tirou uma das joias da coroa de Minas e Energia. Ou seja, a empresa estratégica do setor responderá diretamente a Guedes e não ao ministro da área.
A escolha do presidente da Petrobras por Paulo Guedes fez soar, entre empresários do setor de infraestrutura, o alerta de que o futuro ministro, seja quem for, não terá a mesma carta branca de Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) para montar a própria equipe. Há quem diga, inclusive, que isso pesou na decisão do general Oswaldo Ferreira, de não ocupar um ministério, embora ainda exista um grupo de militares tentado fazer com que ele aceite, de forma a deixar o setor mais ;protegido; do festival de privatizações que os economistas desejam.
Sem o general, a área de Minas e Energia abre a semana com três nomes cotados: o do deputado Jaime Martins (Pros-MG), do ex-secretário executivo do Ministério de Minas e Energia Paulo Pedrosa, e, ainda, o de Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura. Se optar pelo deputado, Bolsonaro, manda um recado aos políticos: ;Estamos escolhendo o melhor, quem pensa no Brasil e não na agremiação partidária;. Martins foi indicado pela Frente do Gás, enquanto Pedrosa e Pires têm mais apoios entre empresários do setor.
A ideia do presidente eleito, entretanto, é adotar um conselho dos velhos políticos em relação à briga por espaço no governo: esperar mais uns dias para ver o que acontece com cada um dos indicados. Nas palavras de um integrante da equipe de transição, o momento é de ver quem vai passar incólume de desgaste nos próximos dias. Se decidir cumprir o desejo de escolher todo o primeiro escalão até o fim deste mês, esse tempo de decantar os nomes está se esgotando.
Definições
Bolsonaro deve apresentar até o fim da semana novos nomes para o primeiro escalão
As indicações feitas até o momento se dividem em três grupos:
Pessoal e por conselheiros
Casa Civil:
Onyx Lorenzoni (DEM)
Gabinete de Segurança Institucional:
General Augusto Heleno
(sem partido)
Secretaria-Geral:
Gustavo Bebianno (PSL)
Ciência e Tecnologia:
Marcos Pontes (PSL)
Economia:
Paulo Guedes (sem partido)
Justiça e Segurança Pública:
Sérgio Moro (sem partido)
Educação:
Ricardo Vélez Rodríguez*
(sem partido)
Relações Exteriores:
Ernesto Araújo* (sem partido)
Defesa:
General Fernando Azevedo
e Silva (sem partido)
Controladoria-Geral
da União (CGU):
Wagner Rosário (sem partido)
Advocacia-Geral
da União** (AGU):
André Luiz de Almeida Mendonça (sem partido)
Por bancadas
Saúde: Luiz Henrique
Mandetta (DEM)
Agricultura: Tereza Cristina (DEM)
Por Paulo Guedes
Banco Central**:
Roberto Campos Neto
(sem partido)
(*) Indicado pelo filósofo
Olavo de Carvalho
(**) Não está definido se o ocupante manterá status de ministro