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Dados citados por Russomano em entrevista são questionados por economistas

Em entrevista concedida no CCBB, o deputado federal utilizou números considerados "minimamente confusos" para defender as reformas da Previdência e Tributária

Lucas Valença - Especial para o Correio
postado em 04/12/2018 21:21
Celso Russomano
Durante uma entrevista coletiva no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde ocorre a transição do governo federal, o deputado federal e apresentador Celso Russomanno saiu em defesa das reformas da Previdência e Tributária. No entanto, o parlamentar se utilizou de dados, sobre a carga tributária brasileira, minimamente confusos ou não especificados, segundo especialistas procurados pelo Correio. O congressista também elogiou a postura do presidente eleito, Jair Bolsonaro, de conversar primeiro com as Frentes temáticas.

Ao afirmar que ;ninguém quer; investir no Brasil por conta da alta carga tributária ; o chamado Custo Brasil ;, o parlamentar chegou a declarar que as empresas que atuam no país pagam 41% a 42% de impostos e, ao ser questionado sobre o expressivo número, foi enfático. ;Paga isso;. ;Nós estamos falando de carga tributária de empresas. Ninguém sustenta;, declarou.

Especialistas procurados pela reportagem questionaram o percentual expresso pelo congressista, mas pontuaram que há a necessidade de se corrigir distorções e problemas no sistema tributário brasileiro. Segundo o economista André Perfeito, como a carga tributária brasileira é ;altamente regressiva;, são os mais pobres e a classe média que arcam com o maior peso dos impostos, já que os maiores tributos se ensejam no consumo. ;É difícil dizer qual o imposto específico que o deputado se referiu. Pode até existir um tributo específico, que represente essa percentagem, mas não acredito que seja a média;, ressaltou.

Para Perfeito, o maior problema das empresas não é os impostos que pagam, mas a grande quantidade de burocracia que exige um custo ;homem-hora; elevado. ;Agora, a redução da tributação em empresas precisará ser compensada com aumento em outro segmento;, conta.

O economista Roberto Ellery explica que caso o olhar seja colocado em cima da questão legal das empresas, no papel, as empresas pagam um número realmente elevado de tributos, no entanto, ele faz uma ressalva à fala do deputado. ;Quanto realmente isso afeta a empresa e quanto ela repassa ao consumidor? Porque ela realmente repassa. Exemplo disso é o preço da gasolina, que é automaticamente transferido, quase que integral, para o bolso do consumidor;, lembra.

Mesmo assim, Ellery entende que o percentual levantado por Celso Russomanno lhe ;parece; elevado. E também acredita que o maior problema das empresas continua sendo a complexidade tributária que demanda ;muito tempo dedicado; dos funcionários.

O deputado federal também chegou a defender a diminuição de impostos que, segundo ele, elevariam a arrecadação do governo. No entanto, a afirmação é contestada por Roberto Ellery. ;Teoricamente é possível, mas é absolutamente questionável do ponto de vista empírico. A evidência disso é muito questionável;, enfatizou.

Celso Russomanno também saiu em defesa da reforma da Previdência e disse ser a favor que a mudança ocorra no começo do mandato, quando o Executivo possui mais força. Também defendeu a separação dos valores gastos com a Previdência e com a Assistência Social, que, segundo ele, deveriam ser transferidos para o custeio do Tesouro Nacional. ;Nós precisamos separar primeiro para saber o tamanho do rombo da previdência. Depois nós precisamos achar mecanismos para adequar este quadro;, explicou.

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