Politica

Opinião: Humanidade é posto

Ana Dubeux
postado em 09/12/2018 12:41
Mãos de várias cores com carinhas
Estamos nos últimos dias de 2018. Poderíamos, parodiando um título do cinema, dizer que foi um ano em que vivemos perigosamente. Falamos de política como nunca, discutimos com amigos e parentes, elegemos novos governantes, mas refletimos pouco sobre o que verdadeiramente importa: a humanidade. Completamos, neste ano, 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Mais do que um documento, é um compromisso mundial em preservar o que há de mais caro aos seres humanos. Deveríamos, nas páginas de jornal, na mesa do bar, nos grupos de WhatsApp ou nas rodas de família, ter falado mais sobre isso. Não falamos, mas sempre é tempo. Ou melhor: este é o tempo.

Os 30 artigos da Declaração reafirmam o que é sagrado e essencial para a sobrevivência de nossa espécie. Dignidade, liberdade, direitos individuais. Ninguém pode ser discriminado por sua raça, cor, credo ou orientação sexual. Ninguém pode ser torturado, degradado, escravizado, desonrado, perseguido.

Não é o que acontece, infelizmente. Nem aqui, nem em muitas partes do mundo. Há uma infinidade de direitos violados todos os dias. Faltam atenção e reação a flagrantes privações dessas garantias. Sinto informar, mas nós, parte da elite, contribuímos com nossa omissão para piorar esse quadro. Concentração de renda em excesso e falta de comprometimento com questões sociais, sustentáveis, ecológicas e humanistas levarão o planeta ao colapso, se não colocarmos em prática atitudes coerentes com a proteção do mundo e das pessoas.

Existe uma preocupação legítima de que a onda conservadora que inunda as nações, inclusive as desenvolvidas, afogue as minorias; de que os novos governos, aqui e lá fora, comandem um retrocesso em relação aos direitos já conquistados. Se caminhamos até aqui em marcha lenta para discutir temas espinhosos, como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo, agora, é provável que esses assuntos sejam negligenciados.

Voltaremos a deliberar uma pauta perigosa, como as armas e a redução da maioridade penal. Armar a população e aumentar o encarceramento só vão elevar à potência máxima o grau de violência por aqui. Convido a todos a olhar para a nação e até o planeta como nossa casa. Há muita coisa fora do lugar, muita bagunça, eu sei. Mas a faxina não se limita em varrer a poeira para baixo do tapete. Vamos lavar a alma antes de arrumar a casa.

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