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Moro defende investigação de conta de ex-assessor de Flávio Bolsonaro

Sérgio Moro defendeu que a movimentação financeira atípica de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, seja esclarecida e, se necessário, investigada, mas que não cabe a ele 'assumir esse papel'

Rosana Hessel, Hellen Leite, Rodolfo Costa
postado em 10/12/2018 13:58

Moro fala pela primeira vez que Moro fala sobre o casoO futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, defendeu que a , ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), seja investigada. A declaração foi dada nesta segunda-feira (10/12), durante uma entrevista coletiva, em Brasília. Essa é a primeira vez que Moro fala sobre o caso.

"Os fatos têm de ser esclarecidos. O presidente já apresentou os esclarecimentos, têm outras pessoas que precisam prestar os seus esclarecimentos, e os fatos, se não forem esclarecidos, têm que ser apurados", afirmou.


Porém, o ex-juiz, responsável pela operação Lava-Jato em primeira instância, ressaltou que não cabe a ele tomar qualquer tipo de providência. "Eu não tenho como ficar assumindo esse papel", disse. "Fui nomeado para ser ministro da Justiça, não cabe a mim dar explicações sobre isso. O que existia no passado do ministro da Justiça opinando sobre esses casos concretos, é inapropriado."

[SAIBAMAIS]De acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Queiroz, que até outubro era motorista e segurança do filho do presidente eleito na Assembleia Legisltaiva do Rio de Janieor (Alerj), fez uma série de movimentações "atípicas" em uma de suas contas bancárias.

Relatório do conselho mostra que ele recebeu depósitos em espécie e por meio de transferências de oito funcionários que já foram ou estão lotados no gabinete do parlamentar. Uma das transações que chamaram a atenção foi a emissão de um cheque de R$ 24 mil para a futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

O que diz Bolsonaro

No sábado (8/12), Jair Bolsonaro procurou minimizar o episódio. "Ninguém dá dinheiro sujo com cheque nominal", afirmou, após participar da formatura de oficiais da Escola Naval do Rio de Janeiro. Durante a entrevista, ele reforçou que emprestou R$ 40 mil a Queiroz, que é seu amigo, e que o valor foi devolvido na conta de Michelle, "por questões de mobilidade".

"Eu ando atarefado o tempo todo para ir ao banco. Pode considerar da minha conta. Lamento o constrangimento que ela está passando", disse o presidente eleito, referindo-se à esposa. Ele ainda contou que não declarou o empréstimo e o pagamento para a Receita Federal. "Se eu errei, arco com minha responsabilidade perante o Fisco, sem problema nenhum", pontuou.

Ao ser questionado sobre o grande volume de saques em dinheiro vivo apontados pelo Coaf na conta do policial, Bolsonaro disse que a explicação sobre todas as movimentações caberia ao próprio Queiroz. "Conheço o senhor Queiroz desde 1984. Depois, nos reencontramos, eu como deputado federal e, ele, sargento da Polícia Militar. Somos paraquedistas. Continuou a amizade. Em muitos momentos, estivemos juntos, em festas, eventos, até porque me interessava ter um segurança policial ao meu lado. Com o tempo, ele foi trabalhar com o meu filho", afirmou. Para ele, a movimentação atípica "não configura ilegalidade".

Rendimentos

Em investigação sobre movimentações suspeitas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o Coaf detectou valores na conta de Queiroz, que chegam a R$ 1,2 milhão, que não eram condizentes ao seu rendimento. Segundo Bolsonaro, quem vazou as denúncias sobre o amigo foram os advogados dos parlamentares da Alerj presos para ;desviar o foco; deles para os filhos do futuro presidente. ;Espero que esse processo, uma vez instaurado, se explique;, afirmou.

Para especialistas, essa nova crise poderá atrapalhar o futuro governo se os fatos investigados pela Justiça confirmarem irregularidades mais profundas. ;Esse é um incômodo a ser esclarecido, mas não traz risco de naufrágio do novo governo. Sem fatos adicionais, essa denúncia vai se esvaziar;, afirmou o cientista político Murillo de Aragão, presidente da Arko Advice.

"Essa denúncia é um desafio, mas precisamos ver para onde vão as investigações. Não vejo que o capital político de Bolsonaro seja impactado logo nesse início de mandato", disse o cientista política Christopher Garman, diretor-geral para as Américas do Eurasia Group, sediado em Washington. Contudo, ele lembrou que Bolsonaro foi eleito em uma plataforma de combate à corrupção. "Qualquer coisa que fere isso, preocupa. Mas, por hora, não chegou a atingir o Flávio Bolsonaro diretamente", emendou.

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