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Investigações da Lava-Jato geram confronto na Justiça peruana

Nas próximas semanas deverá haver novas relevações da Odebrecht sobre a Lava-Jato, devido a um acordo de delação premiada

Agência France-Presse
postado em 22/12/2018 18:29
As investigações resultantes da operação Lava-Jato expuseram uma espinhosa disputa interna na Justiça peruana, com um confronto entre o procurador-geral, Pedro Gonzalo Chávarry, e o coordenador da equipe especial para o caso, Rafael Vela, que denuncia falta de apoio do Ministério Público.

"Nós buscamos o apoio da instituição e só vemos fatos que, do nosso ponto de vista, significam atos de mesquinharia", declarou o promotor Vela à emissora RPP.

Ele assegurou, ainda, que sua equipe de promotores "não teve nenhuma manifestação pública de apoio do procurador-geral" e que recebeu "réplicas de crítica permanentes através das redes sociais da própria instituição".

A equipe especial comandada por Vela investiga casos de corrupção que abalaram o Peru, relacionados com a empreiteira brasileira Odebrecht, que atingem quatro ex-presidentes e uma líder da oposição.

São investigados nestes casos os ex-presidentes Alejandro Toledo (2001-2006), que fugiu para os Estados Unidos e agora tem um pedido de extradição contra ele; Ollanta Humala (2011-2016), que esteve preso por nove meses com sua esposa, Nadine; Alan García (1985-1990, 2006-2011), que buscou asilo na embaixada do Uruguai e teve o pedido negado; e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), que renunciou em março, afetado por denúncias de corrupção.

Também é investigada a líder do partido opositor Força Popular, Keiko Fujimori, que cumpre prisão preventiva de 36 meses, acusada de receber contribuições ilegais da Odebrecht para sua campanha de 2011.

Guerra interna

"O fato de ter chegado à mídia e à opinião pública o confronto entre a equipe especial da ;Lava Jato; e o procurador-geral deixa clara a existência de uma guerra interna muito forte", disse à AFP Luis Benavente, diretor do instituto de pesquisas Vox Populi.

O analista lembrou que o conflito veio à tona quando, após conseguir a prisão preventiva de Keiko, o promotor José Domingo Pérez, membro da ;Lava Jato; peruana, pediu publicamente a renúncia de Chávarry por suposto envolvimento com a organização criminosa "Los Cuellos Blancos del Puerto" (Os colarinhos brancos do porto).

"Não o afasto para que não pensei que é uma represália", foi a resposta de Chávarry.

Benavente disse existir uma clara divisão de forças: de um lado, a equipe especial de Vela, "que conta com o apoio da opinião pública, da mídia e de algumas ONGs", e do outro, o procurador-geral, que conta com o apoio de seus colegas da Força Popular (partido de Keiko).

Chávarry, atingido pelo escândalo de venda de sentenças e tráfico de influência no poder judiciário, negou-se a se afastar. AAs denúncias apresentadas contra o promotor no Congresso, controlado pelo partido opositor Força Popular, foram rejeitadas.

Mais provas do Brasil

Segundo o jornal O Globo, nas próximas semanas haverá novas relevações da Odebrecht sobre a Lava-Jato, devido a um acordo de delação premiada.

"Prevê-se uma longa e forte tempestade entre o governo e o Congresso do Peru nas próximas semanas, devido ao acordo de colaboração eficaz e judicial assinado com a Odebrecht na semana passada", destacou O Globo, citado pelo jornal peruano La República.

O presidente peruano, Martín Vizcarra, disse na terça-feira que "vai chegar informação relevante do Brasil que nos permitirá punir e sancionar quem agiu mal".

"Essa informação vai estremecer [o país, mas] temos que chegar ao fundo da verdade, doa a quem doer, custe o que custar", acrescentou o presidente.

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