Politica

Artigo: Você fará muita falta

Ana Dubeux
postado em 30/12/2018 12:03
Ilustração de Sigmaringa Seixas
Nem só de voto e de imagem vive um político. Um bom político vive e se alimenta da arte da política, no seu melhor sentido. Ele circula pelos bastidores, alinhavando acordos, costurando alianças, tolerando desafetos, negociando aqui e ali em prol de um consenso, resistindo a negociatas e fugindo das tocaias da corrupção. É um representante dos interesses da sua cidade, do seu estado, do seu país, do seu povo. Nesta semana, nos despedimos de um político assim.

Conheci bem o ex-deputado federal Sigmaringa Seixas, em quem aprendi a confiar. Pelas lentes do jornalismo e da vida, como alguém que se afeiçoou ao ofício de desvendar pessoas durante as entrevistas, consegui ver nele um político que honrou mandato, um advogado que perseguiu a justiça e um amigo que aconselhava sempre e não abandonava o barco.

Posso dizer que Brasília teve um defensor que nunca chegou ao Buriti, mas a trajetória de Sigmaringa simbolicamente representou a importância de um governador. Não apenas porque ele pavimentou o caminho da autonomia política da cidade, na comissão do Senado, dando origem ao processo de emancipação de Brasília, antes apenas sede do poder federal. Mas também porque, bem antes dessa epopeia, já defendia a população da cidade-filha da obstinação de JK e do gênio de Niemeyer e Lucio Costa.

Em 1977, advogou para os estudantes da UnB presos na época da ditadura. Enfrentou os porões para livrar a turma dos Incansáveis da Ceilândia. Ajudou a plantar as raízes da OAB local. Saiu em defesa da autonomia de Brasília em 2010, ante a iminente intervenção federal na capital em razão do escândalo da Caixa de Pandora.

Sig não foi ministro do Supremo Tribunal Federal porque não quis. Como deputado constituinte costurou avanços na área de direitos humanos. Foi uma grande fonte, absolutamente confiável, para muitos jornalistas. Discreto e gentil, participou dos bastidores de todos os momentos importantes do Brasil e da cidade que escolheu para viver. Foi um mestre na arte da conciliação. Foi íntimo dos poderosos e defensor dos injustiçados. Conseguiu ser tudo isso sem ganhar a empáfia dos idiotas. Fará muita falta em Brasília. RIP, Sig!

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