postado em 09/01/2019 12:18
Os novos ministros do governo Jair Bolsonaro já sentem no dia a dia a polarização política que dominou a campanha eleitoral e, pelo jeito, não terminou com a contagem dos votos. Depois de a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, ser abordada por um vendedor em uma loja de shopping em Brasília, foi a vez de o ministro da Justiça, Sérgio Moro, ser confrontado em um supermercado.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que Moro é questionado sobre Fabrício Queiroz, enquanto faz compras em um supermercado. Queiroz é ex-motorista e ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro (PLS-RJ), durante mandato na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), e citado em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), após uma movimentação atípica em conta bancária ao longo de 12 meses.
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"Por que o Queiroz não é pauta? A roubalheira do PT, que perdeu por causa da roubalheira, é pauta. A roubalheira do Queiroz, do PSL, não é pauta. Ele (Moro) não pode falar sobre isso?", questiona o autor do vídeo.
Na gravação, o homem, que carrega nos ombros uma bandeira do Brasil, também se dirige a outro sujeito que estava na fila: "E aí, você quer me censurar por isso também? Você disse que ia falar comigo lá fora por que? Você disse que quer conversar comigo lá fora? Não. Fala aqui. Por que você quer falar comigo?", questiona.
O terceiro homem rebate ao afirmar que apenas quer "comprar água", e acusa o autor do vídeo de fazer "ruído". "Eu faço. Com a presença do Sérgio Moro, como que não faz ruído?", rebate o crítico ao ministro.
Pela primeira vez na gravação, o ex-juiz se manifesta: "Você está sendo desagradável e mal educado com todo mundo aqui". O autor do vídeo ironiza a resposta: "Os áudios vazados da Dilma você não foi mal educado. Agora, tem que ficar pianinho? Caladinho?", indaga.
Durante a gravação, também é possível ouvir a voz de uma mulher que cobra Moro pela onda de crimes no Ceará, e pede ajuda ao estado. "Você é do superministério. Ajuda o Ceará", cobra.
Discussão
Sem responder os questionamentos, Sérgio Moro sai do supermercado, e a gravação mostra novamente o outro sujeito na fila, com uma garrafa de água na mão, questionando o motivo da filmagem. "Eu estou gravando porque eu tenho um celular, estou em um ambiente público e ele é um ministro. Você quer me censurar?", indaga. Depois, completa: "Até porque censurar é típico de vocês, né?".
A mesma mulher que cobra o ministro Moro pela segurança no Ceará também grita ao juiz, quando ele sai pela porta: "No dia que você recusar auxílio moradia, você fala".
Também é possível ver uma outra cliente defendendo o ex-juiz e dizendo ao autor da gravação para ir "estudar". "As madame (sic) coberta de ouro é fácil ficar puxando saco de quem tem auxílio moradia", rebate o homem. Em seguida, volta a falar: "Oito reais no salário e vocês ficam caladinhos", diz em referência ao fato de que o presidente Jair Bolsonaro aumentou o salário mínimo em R$ 8 reais a menos do que o esperado. Dos R$ 1.006 estimados, o valor passou de R$ 954 para R$ 998.
"Oito reais vocês ficam caladinhos, mas se revoltam com Lula e qualquer coisa. Oito reais dá para comprar 2 kg de feijão, um refrigerante, ou um pacote de bolacha que faz toda a diferença", completa o homem antes de terminar a gravação.
Áudios
Em 2017, Moro afirmou que não se arrependia de ter divulgado o áudio de uma conversa entre a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A gravação, divulgada um ano antes, levantou polêmica por envolver a então presidente da República.
O magistrado fez as declarações no fórum Amarelas ao Vivo, da revista Veja, do Grupo Abril. ;Não me arrependo de forma nenhuma, embora tenha ficado consternado com a celeuma que a divulgação causou. Na minha opinião, eu fiz o que a lei exigia e o que eu achei que era necessário;, destacou Moro à época.
As gravações ocorreram assim que Dilma anunciou Lula como ministro chefe da Casa Civil. O magistrado levantou o sigilo do processo, inclusive da gravação em que Dilma dizia para Lula que estava lhe enviando o termo de posse.
Caso Queiroz
Durante uma entrevista coletiva, em Brasília, em dezembro, durante o governo de transição, Sérgio Moro defendeu a investigação sobre as movimentações bancárias de Fabrício Queiroz, mas disse que não caberia a ele, agora ministro, se envolvernotema.
"Os fatos têm de ser esclarecidos. O presidente já apresentou os esclarecimentos, têm outras pessoas que precisam prestar os seus esclarecimentos, e os fatos, se não forem esclarecidos, têm que ser apurados", afirmou. "Fui nomeado para ser ministro da Justiça, não cabe a mim dar explicações sobre isso. O que existia no passado, do ministro da Justiça opinando sobre esses casos concretos, é inapropriado", completou.
"Os fatos têm de ser esclarecidos. O presidente já apresentou os esclarecimentos, têm outras pessoas que precisam prestar os seus esclarecimentos, e os fatos, se não forem esclarecidos, têm que ser apurados", afirmou. "Fui nomeado para ser ministro da Justiça, não cabe a mim dar explicações sobre isso. O que existia no passado, do ministro da Justiça opinando sobre esses casos concretos, é inapropriado", completou.
Confrontos
Esta não é a primeira vez que um ministro escolhido por Bolsonaro é questionado por pessoas que gravam o momento e publicam nas redes sociais. Após frase polêmica sobre o uso das cores azul e rosa, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, se sentiu incomodada em uma loja de shopping na área central de Brasília, na semana passada.
Um vídeo postado nas redes sociais mostra a ministra deixando o estabelecimento e dizendo que um rapaz que filma a cena a deixou constrangida. O homem então, responde: "Constrangida? Você quem constrangeu, amor". Em seguida, o autor do vídeo se identifica, dizendo se chamar Thiego Amorim. É possível ver que uma pessoa que acompanha Damares também filma a cena.