Os presidentes da Argentina, Mauricio Macri, e do Brasil, Jair Bolsonaro, criticaram o protecionismo e defenderam maior abertura comercial, durante a visita oficial do chefe de Estado do país vizinho, ontem, em Brasília.
Bolsonaro propôs uma nova agenda de trabalho para o bloco, ;sempre com sentido de urgência;. ;No plano interno, o Mercosul precisa valorizar sua tradição original: abertura comercial, redução de barreiras, eliminação de burocracias. O propósito é construir um Mercosul enxuto, que continue a fazer sentido e ter relevância;, afirmou o chefe do Executivo, no Palácio do Planalto, após a assinatura de uma atualização do tratado de extradição entre os dois países, no fim da manhã. Antes, as autoridades tiveram uma reunião com os ministros dos dois governos.
Na carta conjunta divulgada no evento, os presidentes reforçaram o interesse de trabalhar ;com o objetivo de cumprir metas concretas;. Com isso, ao defender um Mercosul ;mais enxuto;, Bolsonaro sinalizou querer menos burocracia no bloco e tarifas mais baixas, segundo fontes do governo. Os dois chefes de Estado decidiram trabalhar durante as duas presidências pro-tempore, em 2019, para rever a TEC (Tarifa Externa Comum), ;melhorar o acesso aos mercados e avançar na facilitação de comércio e convergência regulatória;.
O presidente brasileiro defendeu as reformas nos dois discursos ao lado de Macri no Planalto e no Palácio do Itamaraty, onde foi realizado um almoço em homenagem ao chefe de Estado argentino. ;Estamos decididos a levar reformas econômicas de envergadura, que soltem as amarras do nosso crescimento e gerem emprego e renda para os brasileiros. Buscamos aqui um Estado eficiente e setor privado pujante. Buscamos um ambiente que favoreça o empreendedor e a abertura cada vez maior;, destacou Bolsonaro durante o brinde.
;Equívoco;
Ao defender uma maior abertura no Mercosul, Macri criticou o protecionismo das últimas décadas na região, que ele classificou como ;equivocado;. ;Achamos que o protecionismo protegeria os nossos países, mas ficamos para trás;, afirmou ele, defendendo maior dinamismo entre as economias do bloco para o progresso e a redução do desemprego. ;Essa viagem é o começo de um salto para frente do Mercosul e da convivência, que seja melhor daqui para frente;, frisou.
A Argentina está na presidência pró-tempore do Mercosul e o Brasil assume o cargo no segundo semestre. Uma das prioridades apresentadas pelos presidentes será a retomada das negociações entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Macri foi mais enfático do que o governo brasileiro em buscar a retomada das negociações com a UE, que se estendem há duas décadas. Mas, em meio a novas eleições no Parlamento europeu, neste ano, e com o Brexit (saída do Reino Unido do bloco), especialistas acham que há poucas chances de esse acordo sair em 2019. Segundo fontes do governo, outros acordos podem avançar mais rapidamente, como os com Canadá, com Cingapura e com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta).
Mais acordos
Demais países do bloco, Argentina, Paraguai e Uruguai já demonstraram interesse em negociar acordos bilaterais fora do Mercosul. E, segundo fontes do governo, nas conversas ocorridas ontem com representantes das duas nações, o governo brasileiro sinalizou pela primeira vez na mesma direção. ;Essa possibilidade está na mesa, mas ainda não existe uma proposta estruturada para mudar o acordo do Mercosul;, informaram fontes do governo, que participaram das rodadas de conversa realizadas ontem.
Para o embaixador José Alfredo Graça Lima, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), é importante que o Mercosul recupere os princípios de origem e que deixe de ser uma união aduaneira imperfeita, sem viés político e com barreiras tarifárias entre os países-membros. ;Buscar acordo bilateral fora do bloco pode ser um falso problema imposto pelos próprios parceiros. O Mercosul, se é uma união aduaneira, não pode fazer acordo em separado;, ressaltou. ;Isso foi objeto de uma resolução do bloco e sempre serviu para propósitos escusos, porque protege um pouco as indústrias. Se os países começarem a sair dessa zona de conforto, as indústrias serão afetadas negativamente;, alertou, lembrando que, nas relações bilaterais, a Argentina depende mais do Brasil do que o Brasil do país vizinho e rever as amarras e buscar ampliar as negociações conjuntas são uma estratégia que precisa ser considerada.
Alívio
Ao estrear na primeira visita oficial de um chefe de Estado ao Brasil, Bolsonaro foi mais comedido do que o visitante, para a alegria do pessoal da diplomacia. Ele seguiu o protocolo e fez um discurso mais focado no país visitante, enquanto Macri aproveitou o palco para criticar com força o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que ele acusou de ;ditador;, que prende opositores e se mantém no poder de uma maneira antidemocrática. Bolsonaro foi mais comedido, talvez, porque o Brasil não prevê sanções rígidas contra ações como as adotadas por Maduro.
Menu tem bacalhau
O menu escolhido pelo Itamaraty para ser servido no almoço dos dois presidentes, realizado na Sala Brasília, teve versões adaptadas de pratos típicos nacionais e um tradicional prato português, com bacalhau. Todos regados com vinhos nacionais. Como entrada, foi servido um escondidinho de polenta com galeto desfiado, uma versão gurmetizada do frango com polenta. O prato principal foi bacalhau à Lagareiro, acompanhado de arroz com brócolis e de batatas rústicas. Na sobremesa, frutas laminadas e uma versão mais refrescante do velho Romeu e Julieta: sorvete de queijo de Minas com calda de goiabada.
;Estamos decididos a levar reformas econômicas de envergadura, que soltem as amarras do nosso crescimento e gerem emprego e renda para os brasileiros;
Jair Bolsonaro, durante o brinde no almoço com Macri