Politica

Ministros do Planalto minimizam impacto do caso Queiroz no governo

Ontem, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que Bolsonaro é %u201Cvítima%u201D de um processo de tentativa de desgaste com a repercussão

Lucas Valença - Especial para o Correio, Correio Braziliense
postado em 19/01/2019 07:00
Onyx Lorenzoni e Jair Bolsonaro

Ministros de Jair Bolsonaro tentam conter a repercussão negativa da suspensão das investigações do caso Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, filho do presidente. Eles apontam as críticas à decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, como uma tentativa de atingir o chefe do Executivo e minimizam eventuais impactos ao Planalto.

Ontem, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que Bolsonaro é ;vítima; de um processo de tentativa de desgaste com a repercussão da decisão de Fux. Ele disse que agora é preciso ter ;cautela; e esperar que a Justiça se manifeste sobre o caso. ;O governo, do ponto de vista do presidente Bolsonaro, tem muita tranquilidade, porque isso não tem rigorosamente nada a ver com o que envolve o presidente. Ele é, mais uma vez, vítima desse processo;, ressaltou Onyx.


;Terceiro turno;

Questionado se, por ele ser filho do presidente, o ato não prejudicaria a imagem do governo, Lorenzoni negou: ;É filho dele. Mas, vamos lá. O filho dele nem é investigado. Olha a dimensão que tomou, sem o filho ser investigado. Ele não é réu, não tem processo aberto, não tem inquérito. Por isso que eu digo que precisamos ter cautela;.

Já o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, ressaltou que a decisão do Supremo não afeta o Planalto. ;Ele (Bolsonaro) não vê isso como um assunto de governo. É um assunto do Flávio;, rebateu. Assim como Onyx, o ministro voltou a falar que entende a reação acerca do caso como uma tentativa de forçar um ;terceiro turno;.

Apesar das negativas, o pedido de Flávio Bolsonaro causou, sim, mal-estar no Planalto. Nos bastidores, auxiliares do presidente e ministros disseram que a estratégia usada pela defesa tem potencial para provocar mais desgaste ao novo governo. Ao solicitar a suspensão das apurações, Flávio alegou que o cargo de senador lhe confere foro especial no STF. Contudo, a argumentação contradiz discurso de Bolsonaro, que sempre disse ser contrário ao foro privilegiado.

"O filho dele nem é investigado. Olha a dimensão que tomou, sem o filho ser investigado. Ele não é réu, não tem processo aberto, não tem inquérito. Por isso que eu digo que precisamos ter cautela"

Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil

"Não vivemos numa democracia?"

O líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), defendeu a prerrogativa do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a suspensão das investigações do Ministério Público do Rio relativas ao ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz.

Waldir declarou que ninguém, nem mesmo Jair Bolsonaro, ;vai passar a mão na cabeça; de Flávio se houver alguma conduta criminosa. ;Se o Flávio é responsável por alguma conduta equivocada, errada, criminosa, ele tem que responder por isso, ninguém vai passar a mão na cabeça dele. Quem erra paga o preço pelo seu erro;, disse.

Mesmo sendo a favor do fim do foro privilegiado para todas as autoridades do país, o deputado disse que, enquanto houver a prerrogativa na Constituição, Flávio tem o direito de usá-la. ;Não podemos rasgar a nossa Constituição. Não vivemos numa democracia? Não era isso que se pregava até ontem? Ir ao STF é uma ferramenta da democracia;, defendeu. ;Se Lula usa, se qualquer criminoso usa, e as pessoas que ainda não são indiciadas têm direito de usar, se tem um abuso de autoridade e pode se configurar nesse caso, tem que ser usado.;

Para o parlamentar, delegado licenciado da Polícia Civil, o MP precisa ter um ;freio; ao conduzir investigações. ;Acho que temos de ter um limite, um freio. Aquele que acusa tem de mostrar provas, não pode ficar torrando a imagem de uma pessoa sem provas e só com base em informações;, declarou, lembrando que o Congresso Nacional chegou a discutir um projeto de lei que punia investigadores por abuso de autoridade.

O líder do partido de Jair Bolsonaro minimizou o impacto no governo da polêmica envolvendo o filho do presidente. ;O efeito é zero, não há nenhuma influência no PSL e com o presidente da República;, cravou.

Críticas nas redes sociais

A deputada estadual eleita Janaína Paschoal reprovou a decisão de Fux

Simpatizantes do governo têm se pronunciado nas redes sociais contra a atitude do senador eleito Flávio Bolsonaro, filho do presidente, de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) em busca do foro privilegiado no caso Queiroz. A própria família Bolsonaro contestou o privilégio no passado.

O procurador Carlos Fernando dos Santos, ex-integrante da Lava-Jato, usou o Twitter para classificar a decisão de Fux de ;equivocada;. Ele atacou Flávio Bolsonaro. ;Ser pedra é fácil, o difícil é ser vidraça. Amparar-se em uma liminar do STF e na alegação de que possui foro privilegiado é repetir um padrão da velha política;, escreveu.

Conhecida pela atuação no processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, a deputada estadual eleita Janaina Paschoal (PSL-SP), que chegou a ser convidada para ser vice de Jair Bolsonaro, não emitiu opiniões sobre o pedido do Flávio, mas criticou Fux. ;O precedente que tratou da prerrogativa de foro realmente foi no sentido de que os casos devem ser analisados em concreto; entretanto, os fatos devem ser posteriores ao início do mandato. Não é o caso!”, enfatizou.

O movimento Vem Pra Rua Brasil cobrou avanços no discurso do presidente, o qual ajudaram a eleger, de moralizar o Estado. ;Quem se elegeu com o discurso de combate à corrupção e contra privilégios, como o foro privilegiado, deve muito mais explicações à sociedade do que qualquer outro;, declarou.

Vereador da cidade de São Paulo, Fernando Holiday entende que o pedido feito pelo senador eleito eleva a ;desconfiança; na conduta do parlamentar. ;Quem não deve, não teme. Ainda mais uma simples investigação;, enfatizou.

Para o especialista em marketing digital Marcelo Vitorino, ainda é cedo para saber se o governo perderá respaldo popular. No entanto, o analista acredita que os constantes problemas apresentados no começo do mandato municiam os adversários do Planalto. ;Como não há nenhuma prova, ainda é muito cedo para falar que a popularidade do governo vai mudar. Até porque, vivemos na era das fake news. Por isso, será preciso surgir uma verdade, praticamente absoluta, para mudar a visão da população. Mas opositores podem se aproveitar;, explicou.

;Ser pedra é fácil, o difícil é ser vidraça. Amparar-se em uma liminar do STF e na alegação de que possui foro privilegiado é repetir um padrão da velha política;
Carlos Fernando dos Santos, procurador, ex-integrante da Lava-Jato

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