Politica

De Davos, presidente acompanha denúncias contra Flávio Bolsonaro

O senador eleito pelo Rio recebeu R$ 96 mil em 48 depósitos de R$ 2 mil realizados em caixa eletrônico da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj)

Paulo Silva Pinto - Enviado Especial, Lucas Valença - Especial para o Correio
postado em 22/01/2019 06:00
foto de Flávio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro desembarcou na Suíça carregando a crise provocada pelos depósitos na conta de seu filho, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O ex-atleta Fábio Guerra disse, na segunda-feira (21/1), que pagou R$ 100 mil a Flávio em espécie, o que poderia explicar a origem dos recursos. Isso provocou certo alívio ao governo, mas está longe de encerrar as dúvidas em torno do assunto.

O chefe do Executivo está no país europeu desde segunda-feira para participar do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Ele ficou de olho na repercussão do caso envolvendo o filho nas redes sociais e na imprensa, e reforçou a determinação para que ninguém do governo se pronuncie sobre o assunto.

Em Brasília, porém, o vice-presidente, Hamilton Mourão, não evitou o tema, ainda que tenha sido cauteloso no comentário. ;O Flávio tem procurado justificar os achados que foram feitos nas contas dele e do assessor dele. Eu estou tomando a palavra dele, por enquanto;, afirmou, em entrevista à Rádio Gaúcha.

O senador eleito pelo Rio recebeu R$ 96 mil em 48 depósitos de R$ 2 mil realizados em caixa eletrônico da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) ; ele está no fim do mandato de deputado estadual. Além disso, seu ex-assessor Fabrício Queiroz movimentou R$ 7 milhões em recursos entre 2014 e 2017, o que não foi esclarecido ainda ao Ministério Público. Várias transações coincidem com as datas de pagamentos de salários na Casa, o que alimenta a suspeita de que assessores eram obrigados a repassar uma parte de seus salários. São investigados por movimentação atípica de recursos 27 dos 70 deputados estaduais do Rio no âmbito da Operação Furna da Onça.

O ex-jogador de vôlei de praia Fábio Guerra afirmou, na segunda-feira, que pagou R$ 100 mil em dinheiro a Flávio Bolsonaro pela compra de um imóvel. Explicou que os repasses de dinheiro foram feitos entre junho e julho de 2017, mesmo período em que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou depósitos suspeitos em uma conta do parlamentar.

As declarações do ex-atleta corroboram com as feitas por Flávio Bolsonaro em entrevista a emissoras de tevê no domingo. O filho do presidente alegou que fez 48 depósitos, no valor de R$ 2 mil, em sua própria conta, após receber o valor em decorrência da venda de um apartamento.

Segundo o parlamentar, o depósito fracionado ocorreu por conta do limite de depósitos via caixa eletrônico. Guerra disse que não pagou em cheque ou transferência bancária por também ter recebido em espécie. ;Paguei em dinheiro porque havia recebido em dinheiro pela venda de outro apartamento. Como recebi aos poucos, fui pagando aos poucos;, disse ao jornal Folha de S. Paulo.

Na segunda-feira (21/1), porém, o Jornal Nacional mostrou que consta da escritura do imóvel que a venda do apartamento de Flávio envolveu permuta por outros dois imóveis, uma sala comercial e um apartamento na Urca, avaliado em R$ 1,5 milhão, além do pagamento de R$ 600 mil.

O montante em dinheiro foi pago com um cheque de R$ 50 mil, em agosto de 2017, e mais R$ 550 em março do mesmo ano, de acordo com a reportagem. Assim, as movimentações ocorreram três meses antes dos depósitos, no total de R$ 96 mil, feitos por Flávio.


Deputados

O procurador-geral da Justiça do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, disse na segunda-feira que 27 dos 70 deputados estaduais do Rio são investigados por movimentação atípica de recursos a partir de informações levantadas pelo Coaf. Ele negou irregularidades nos procedimentos. ;Houve quebra do sigilo dos deputados? É óbvio que não;, frisou. O chefe do MP fluminense explicou que, há 20 anos, a lei permite ao Coaf requerer as informações bancárias de pessoas envolvidas em atividades suspeitas, sem a necessidade de autorização judicial.

;Existem investigações na área cível contra todos os deputados citados no relatório do Coaf;, ressaltou Gussem. As apurações envolvendo Queiroz foram suspensas por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, a partir de pedido de Flávio Bolsonaro, sob a alegação de que ele tem foro privilegiado como senador eleito. Como as investigações ainda não o envolvem diretamente, integrantes do governo avaliam que houve precipitação, e que, ao fazer isso, ele jogou a crise no Palácio do Planalto.

Para o cientista político André Rosa, as suspeitas de lavagem de dinheiro envolvendo Flávio Bolsonaro não devem, num primeiro momento, afetar a governabilidade. Porém, enquanto o caso durar no noticiário, a oposição pode sair ganhando. ;O PT, hoje, está um pouco mais isolado. Assim, elevar o tom do discurso pode ser uma solução. Eles só têm a ganhar com isso;, avaliou.

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