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Depois de Davos, Bolsonaro tem agenda cheia na volta ao Brasil

Depois de quatro dias em Davos, presidente retomará assuntos pendentes, como a conclusão do texto da reforma da Previdência, as eleições no Congresso e o imbróglio envolvendo o filho Flávio

Alessandra Azevedo, Gabriela Vinhal
postado em 25/01/2019 06:00

O último dia de Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial, em Davos, foi marcado por reuniões bilaterais, como com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa

Após passar quatro dias em Davos, na Suíça, participando do Fórum Econômico Mundial, o presidente Jair Bolsonaro desembarca hoje em Brasília para encarar assuntos que ficaram pendentes durante o tempo em que esteve longe. Entre os principais pontos estão a conclusão do texto da reforma da Previdência, as eleições às Presidências da Câmara e do Senado, e o impacto à gestão dele com o imbróglio envolvendo o filho, o senador eleito Flávio Bolsonaro, que teve movimentações financeiras consideradas atípicas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Além disso, o chefe do Executivo tem pela frente a operação para a retirada da bolsa de colostomia, na segunda-feira, em São Paulo. Ele viaja à capital paulista no domingo e deve ficar na cidade até 7 de fevereiro.

Bolsonaro optou por não passar o cargo novamente às mãos do vice, Hamilton Mourão, enquanto estiver em recuperação ; a previsão da equipe médica é de que ele ficará em repouso por, ao menos, 10 dias. Ele vai despachar do hospital Albert Einstein, numa espécie de extensão do gabinete da Presidência.

De São Paulo, ele deve lidar com a pressão dos investidores pela conclusão do texto da nova Previdência, porque, em Davos, ele não especificou se a proposta está próxima de ser concluída. Se, por um lado, ele busca agradar aos empresários, por outro, a relação com os militares fica novamente estremecida. Eles ainda têm dúvidas sobre como será a participação das Forças Armadas na medida. Na quinta-feira (24/1), o governo garantiu que a categoria vai ter de encarar mudanças, mas elas só ocorrerão numa ;segunda fase; da reforma, por projeto de lei. A revisão do regime dos militares não fará parte da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata dos civis, conforme reforçou o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Heleno esteve na cidade suíça com a comitiva que acompanhou o presidente. Como justificativa para a separação dos projetos, ele lembrou que os militares não têm regime de Previdência Social.


;Estranho;

O ministro da Economia, Paulo Guedes, também disse que as alterações não precisam ser feitas por emenda à Constituição. ;A PEC é para quem está previsto na Constituição. Os militares têm de ser (por um instrumento) ordinário;, frisou. Falta decidir quando encaminhar essa proposta ao Congresso. Guedes acredita que a melhor opção é enviá-la na mesma época que a PEC que trata dos demais trabalhadores, ainda que não faça parte do mesmo texto. ;Se não for simultâneo, fica estranho;, considerou. Já Mourão, que substituiu Bolsonaro na Presidência durante a viagem do titular, defendeu que o governo apresente o texto dos militares só depois de a PEC ser aprovada em primeiro turno na Câmara.

Para conseguir o tão sonhado aval do Congresso, o governo precisa conquistar 308 votos de deputados e 49 de senadores, em dois turnos. Para isso, terá de afinar o trabalho de seus interlocutores com parlamentares e, sobretudo, com as Presidências das Casas. Com o partido dele, o PSL, apoiando o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) à reeleição, a oposição e as legendas de centro tentam se unir contra a candidatura do demista. Além disso, integrantes da própria sigla de Bolsonaro protagonizaram cenas que demonstram o desentendimento entre os correligionários e as diferentes linhas de pensamento dos filiados. A falta de diálogo interfere, inclusive, na negociação do Executivo no Parlamento. Outras parlamentares reclamam, nos salões do Legislativo, que são pouco procurados por aliados do presidente da República.

Dor de cabeça

Longe de Brasília e em recuperação da cirurgia, o presidente deverá ainda traçar estratégias para que as suspeitas em torno do filho não interfiram na imagem do Planalto. Flávio é investigado na esfera cível por suspeita de improbidade administrativa, por causa de movimentações financeiras atípicas. Ontem, na Suíça, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou que o governo não vai interferir na investigação das transações financeiras do deputado estadual pelo Rio e do ex-assessor Fabrício Queiroz.

Em entrevista à Agência Reuters, Moro disse que a investigação é preliminar e está nas mãos de promotores estaduais. ;Eles estão fazendo seu trabalho de maneira normal. O governo nunca vai interferir no trabalho dos investigadores ou no trabalho dos promotores;, garantiu. O ministro ressaltou ainda que a ;primeira ideia; da pasta é combater a grande corrupção no Brasil. ;Tomei o compromisso de mudar as coisas. A primeira ideia é combater a grande corrupção, porque o Brasil é provavelmente o país que fez mais contra a corrupção nos últimos 10 anos no mundo;, emendou o ex-juiz da Operação Lava-Jato.

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