Paulo Silva Pinto, Alessandra Azevedo
postado em 31/01/2019 06:00
Os novos deputados e senadores tomam posse amanhã em um Congresso com renovação recorde ; 87% dos 54 senadores eleitos em 2018 são novatos, assim como 47% dos deputados. Ainda assim, a tendência é de que, no comando das casas, a situação seja de continuidade. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aparece como favorito à reeleição. No Senado, o candidato mais forte é Renan Calheiros (MDB-AL), que já ocupou o posto em quatro mandatos.
A situação de Renan é menos confortável do que a de Maia. Uma das rivais integra o próprio MDB: Simone Tebet (MS). Está marcada para hoje à noite uma reunião que vai definir a candidatura. Mas, se até lá a opção por Renan estiver consolidada, pode ser que o encontro sequer ocorra. Simone tem o apoio de senadores tucanos e é vista com mais simpatia pelo Planalto do que Renan. Mas, dificilmente, terá o respaldo da legenda. Declarou que pretende apoiar o candidato do partido se não for a escolhida. Porém, se tiver chances, poderá vir a se apresentar como candidata avulsa.
A grande incógnita é quem comandará as sessões de amanhã no Senado, o que poderia resultar em uma eleição em segundo turno com voto aberto. Isso é algo que pode dificultar a situação de Renan, tanto pela resistência do Planalto a seu nome quanto por protestos populares que enfrentou no passado, diante das acusações de corrupção, e que ainda são lembrados por seus adversários.
Davi Alcolumbre (DEM-AP), candidato a presidente, deve comandar a sessão das 15h, em que serão empossados os novos senadores, e a das 18h, na qual haverá eleição de presidente, vices e secretários. Esse é o entendimento da Secretaria-Geral da Mesa, pois ele é terceiro-secretário suplente na legislatura atual. Nenhum dos outros membros da mesa foi reeleito.
Os senadores do MDB não querem que Alcolumbre presida a sessão. Argumentam que ele não é titular da mesa, mas suplente. Portanto, a Presidência caberia a José Maranhão (MDB-PB), o senador mais velho. Também dizem que ele não pode presidir a eleição sendo candidato. O que, no entanto, os preocupa mesmo é o fato de que o parlamentar pode acolher uma questão de ordem para que o voto no segundo turno seja aberto. José Antônio Reguffe (sem partido-DF), que também postula a Presidência, pretende apresentar um. A Rede, também.
Na Câmara, Rodrigo Maia conseguiu o apoio oficial de mais três partidos: MDB, PP e PTB. Diante da resistência da esquerda em formar um bloco com o Centrão, eles decidiram se unir ao demista. Assim, ao menos participam das negociações por espaços importantes na Casa.
O deputado do DEM agora conta com 15 partidos aliados, o que soma mais de 300 deputados, se conseguir o voto de todos eles. Para que o presidente seja definido em apenas um turno, são necessários 257 favoráveis. Caso ninguém consiga atingir esse número, haverá segundo turno entre os dois mais votados. Essa é a aposta de Fábio Ramalho (MDB-MG), que não abriu mão de disputar como avulso, mesmo com o apoio formal do MDB ao atual presidente. ;Não tenho medo de disputar com quem quer que seja;, disse. Um dos rivais mais engajados de Maia, Ramalho acredita ter até 200 votos.
O mesmo ocorreu no PP e no PSL. Ricardo Barros (PP-PR) também vai disputar como avulso, após a bancada ter declarado apoio ao candidato do DEM. O General Peternelli (PSL-SP) contrariou a decisão do partido e lançou a própria candidatura, na segunda-feira, pelo Twitter. A legenda do presidente Jair Bolsonaro é uma das mais rachadas, nos bastidores, em relação à disputa pela Presidência da Casa.
A pulverização entre os aliados prejudica Maia mais do que os outros candidatos, porque, quanto mais adversários competindo pelos votos, menos chances ele tem de vencer em primeiro turno. Para sinalizar que não ficarão no caminho, os deputados Arthur Lira (PP-AL) e Alceu Moreira (MDB-RS) retiraram as candidaturas, após as bancadas decidirem apoiar o candidato do DEM.
Cargos
Ao definir os presidentes, os parlamentares escolhem, indiretamente, nas mãos de quem ficarão as principais comissões, secretarias e relatorias. As funções estratégicas dentro da Casa são a pauta principal nas negociações. A dificuldade de Maia é a agradar todo mundo.
Por enquanto, Maia prometeu ao PSL o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), uma das mais cobiçadas da Câmara. Pelo apoio do MDB, dará uma das vagas de suplente da Mesa Diretora e o comando de uma das estruturas da Casa, como Corregedoria ou Procuradoria Parlamentar. Já o PP ficará com a segunda secretaria.
Os deputados de esquerda que têm conversado com Maia, em geral, não pretendem votar em Marcelo Freixo (PSol-RJ). ;No PT, há poucos ideológicos. A maioria é pragmática;, comentou o cientista político Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva.
Em reunião que terminou na madrugada de ontem, o PSB decidiu, por unanimidade, manter a candidatura do deputado JHC (AL).
No Senado, Flávio se defende
Em rápida passagem pela Câmara dos Deputados, ontem, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) se disse ;vítima de perseguição; por parte do Ministério Público do Rio de Janeiro no caso que envolve movimentações financeiras atípicas feitas por ele e pelo ex-assessor Fabrício Queiroz, reveladas por um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Para Flávio, as investigações ;não têm nada a ver; com o pai dele, o presidente Jair Bolsonaro, e não devem influenciar na aprovação de matérias consideradas importantes pelo Palácio do Planalto. ;Por mais que vocês queiram, não tem nada a ver com o governo. Estamos todos trabalhando bem, com liberdade;, disse a jornalistas, ao sair da Câmara, onde esteve para fazer o registro biométrico, necessário para votações do Congresso. Ele também disse esperar que todos os candidatos à Presidência do Senado tenham sintonia com as pautas do governo ; sem excluir da lista Renan Calheiros (MDB-AL), cuja candidatura, até pouco tempo, era criticada pelo filho do presidente.