Politica

Pneumonia de Bolsonaro é anormal, mas não surpreende médicos

Internado desde o dia 28, presidente apresentou febre e um possível quadro de pneumonia nesta quinta-feira

Fernando Jordão
postado em 07/02/2019 19:26
Presidente Jair Bolsonaro Recuperando-se de uma cirurgia de reconstrução intestinal, realizada no último dia 28, Jair Bolsonaro . Especialistas ouvidos pelo Correio, porém, afirmam que, apesar de inspirar cuidados, a pneumonia não coloca o presidente em risco.

Para o cirurgião especialista em aparelho digestivo Igor Vieira, do Aliança Instituto de Oncologia, a pneumonia era uma "complicação possível" durante a recuperação do presidente. "Não dá para dizer que era esperado, porque a gente sempre espera que o paciente evolua bem e vá para casa", diz. "Mas é uma complicação possível no pós-operatório. Por isso, a gente sempre recomenda fazer fisioterapia. [A pneumonia], provavelmente, explica também a febre que ele teve", acrescenta.

Segundo o médico, a pneumonia pode ter surgido pelo fato de o presidente não estar estimulando os pulmões. "Como ele não faz nenhum tipo de esforço, acaba acontecendo. Por conta da dor também, ele pode não estar expirando profundamente. É preciso fazer muita fisioterapia respiratória. Mesmo assim, é uma tentativa de evitar. Não tem como garantir que não vá acontecer", explica.

Coordenador médico do CTI do Hospital Santa Luzia e da Rede D;Or São Luiz DF e secretário-geral da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), Marcelo Maia concorda que, apesar de não ser normal, a pneumonia pode aparecer durante a recuperação desse tipo de cirurgia, inclusive pelo fato de o paciente ter "uma tendência a respirar de maneira pouco superficial". O médico destaca, inclusive, que as infecções respiratórias tendem a ser mais comuns em pacientes mais velhos. Bolsonaro tem 63 anos.

Igor Vieira, por sua vez, lembra que a cirurgia de Bolsonaro demorou mais tempo do que o habitual. "Ele deve ter apresentado o que a gente chama de abdome hostil. Para se operar, há muita dificuldade técnica. E tudo isso prejudica o paciente e aumenta a morbidade da cirurgia. Quanto maior ela for, mais tempo ele fica internado e mais tempo exposto a bactérias em hospital", detalha.

O especialista descarta, contudo, o risco de morte do presidente. "Parece ser bem inicial. Só se evoluir de tal forma que se alastre, vá para outros órgãos e vire uma infecção generalizada. Por enquanto, não", conclui.

Cirurgia precipitada

Um outro médico ouvido pela reportagem e que pediu para ter a identidade preservada corrobora a opinião de que a pneumonia é um quadro que pode aparecer, mas é um pouco mais cético e diz que a intercorrência dela não é normal. Ele também critica o fato de o presidente ter sido submetido à cirurgia de reconstrução intestinal tão cedo. "A gente espera, no mínimo, oito meses para reconstruir o trânsito intestinal e eles operaram com quatro meses", dispara.

Alta adiada

Em entrevista à Agência Estado, o cirurgião Antônio Luiz Macedo afirmou que Bolsonaro precisará ficar no hospital por mais cinco a sete dias, no mínimo. Na noite de quarta-feira (6/2), ele registrou febre (38;C).

"Ele já está tomando antibióticos, fazendo fisioterapia, andando no corredor, mas isso vai levar mais ou menos de cinco a sete dias para [a pneumonia] ser completamente debelada", disse o médico, reforçando que o presidente precisará continuar no hospital durante esse período. "Se tiver alta daqui, vai ter uma sobrecarga absurda de trabalho e pode comprometer a saúde."

Segundo o boletim médico, as funções intestinais do presidente evoluíram positivamente. Apesar de estar sem dor, foi realizado um "ajuste na antibióticoterapia" e mantidos os demais tratamentos. Ele continua com a sonda nasogástrica, dreno no abdome e recebe líquidos por via oral.

Bolsonaro deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein, em 27 de janeiro, para realizar a cirurgia de remoção da bolsa de colostomia, colocada logo após o atentado sofrido em 6 de setembro de 2018, durante ato eleitoral em Juiz de Fora (MG).

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação