Na opinião de Alex Agostini, analista da Austin Rating, os principais pontos anunciados da reforma vinham em linha com o que o mercado já cogitava. De acordo com ele, no que tange às finanças públicas, o governo reforça a tese de que o projeto é necessário para destravar a economia. ;É algo necessário para restabelecer a confiança, a credibilidade que se perdeu há muito tempo. Nunca houve comprometimento real com o assunto, que é espinhoso, com os políticos temendo perdas de votos e capital político;, frisou.
O desafio maior, no entanto, entra agora, nas etapas de aprovação do texto no Congresso, conforme ressaltou. ;O governo sabe que alguns setores da economia vão criticar as mudanças propostas, por exemplo, servidores públicos. Categorias tratadas como especiais vão se manifestar, e isso colocará pressão no governo para negociar o assunto e, em paralelo, discutir o andamento da reforma com Rodrigo Maia (presidente da Câmara) e Davi Alcolumbre (presidente do Senado);, emendou Agostini.
De acordo com a reforma proposta, deputados e senadores vão se aposentar com o teto do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), atualmente de R$ 5.839,45; e as alíquotas para servidores públicos e privados que ganhem até um salário mínimo será de 7,5%. Os funcionários públicos que tenham ganhos mensais maiores do que R$ 39 mil pagarão alíquota de 16,79%, com a possibilidade de alcançar os 22%.
;É preciso levar em consideração que o texto tem a intenção de envolver todos e, realmente, está sendo muito abrangente. Agora, com essa previsão de equiparação, há espaço para muita coisa ser discutida. Em termos políticos, abre-se um leque de discussão mais amplo no Congresso, envolvendo diferentes setores, e isso pode contrariar a equipe econômica e o governo;, ressaltou Newton Marques, professor de finanças públicas da UnB.
O diretor de mercado da Fundação Getulio Vargas (FGV), Sidnei Gonzalez, ressaltou que o atual deficit previdenciário acaba contaminando outras áreas e, consequentemente, travando o desenvolvimento econômico do país. ;Quem está lá fora quer investir em uma estrutura sólida, consistente. O principal fator que norteia essa questão é a Previdência. Tem uma grande ;jabuticaba; nesse âmbito, mas tem que consertar o que está aí;, disse. ;Usávamos verbas de outras áreas para cobrir o rombo. Tem de arrumar o país, a infraestrutura básica, a questão macro. No momento em que se consegue a harmonia entre o Executivo e o Legislativo, abrem-se portas para aprovar outras reformas necessárias. A tributária é outra que também precisa mexer.;
Para Flávio Serrano, economista-sênior do Banco Haitong, é preciso ver as alterações que o projeto sofrerá no parlamento. ;Foi uma proposta boa, os técnicos tiveram um bom desempenho, mas a questão principal é saber o quanto disso vai resistir no Congresso. A meu ver, a expectativa de economia de R$ 1 trilhão em 10 anos e de R$ 4,5 trilhões em 20 anos é um valor considerável, mas que deve ser reduzido no Congresso;, ressaltou. No entanto, para ele, uma aprovação final que aponte para economia entre R$ 700 milhões e R$ 800 milhões ainda sinalizaria expressivo enxugamento de gastos.