Luiz Calcagno, Gabriela Vinhal
postado em 07/03/2019 06:00
Após a repercussão negativa da postagem feita pelo presidente Jair Bolsonaro sobre o carnaval, aliados e articuladores políticos do Planalto temem que o episódio gere uma crise nos bastidores do Congresso Nacional. Além dos parlamentares da oposição criticarem a postura do chefe de Estado, aliados veem com resistência o episódio, mas minimizam qualquer tipo de impasse entre os Poderes.
[SAIBAMAIS]O senador Major Olimpio (PSL-SP) classificou a postagem do presidente como ;direta; e ;sincera;, que apenas mostrou a ;indignação dele com pessoas que extrapolam no carnaval e ferem o princípio de convivência social;. ;A forma de demonstrar isso se transformou em um assunto de ampla discussão não só no Brasil, mas no mundo todo. Mas isso não vai atrapalhar na convivência do Executivo com o Legislativo;, pontuou. O parlamentar disse ainda que as críticas a ele seriam para ;criar um antagonismo com o novo governo; e que, até o momento, aliados não temem interferência na popularidade dele no Congresso Nacional.
Já para o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), a declaração do presidente é ;inacreditável; e ;incompatível; com o decoro do cargo que ocupa. ;Passa uma imagem péssima do Brasil. Quem não conhece o país vai imaginar que o carnaval é aquela postagem. A atitude dele é incongruente, uma vez que, em Davos, estimulou a visita de estrangeiros para cá;, ressaltou.
Para o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), aliado do governo, a atitude de Bolsonaro não foi bem vista. ;Há muitas boas razões para criticar o carnaval, não faltam problemas que poderiam ser evidenciados e evitados. Isso não justifica mostrar uma obscenidade para milhões de famílias por meio de uma rede social sob o pretexto de criticar a festa. Isso não é postura de conservador;, escreveu no Twitter.
Segundo Thiago Vidal, gerente de análise política da Prospectiva Macropolítica, não é apenas a publicação sobre o carnaval que pode ameaçar a aceitação do novo governo entre congressistas, mas a série de episódios de mal-estar que envolvem o Planalto, como as polêmicas envolvendo o filho e senador Flávio Bolsonaro, a demissão de Gustavo Bebianno e a relação dele com o outro filho, Carlos Bolsonaro. ;Com isso, a reforma da Previdência fica mais cara e a seriedade com que o governo se comporta respinga, inclusive, na aprovação de projetos fundamentais para o Planalto;, acrescenta.
Tempo
Para ir ao Plenário, a PEC 6/2019, do ministro da Economia, Paulo Guedes, tem de passar pela apreciação de mérito da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara, que sequer está formada. A expectativa é de que o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), instale a comissão após retornarem do recesso de carnaval, seis dias depois do país, em 12 de março.O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) faz uma avaliação conservadora e acredita que a PEC vá a plenário na Câmara em meados de junho. ;As comissões serão instauradas nas próximas semanas. A tramitação deve começar em abril. Nesse período, o governo precisa organizar a base. Se conseguir, é possível a gente ver a reforma aprovada;, afirmou Sóstenes. Molon vê impasses. ;Para um governo organizado, com um projeto claro, uma reforma como essa já seria um grande desafio. Para um desorganizado, vai tramitar com muita dificuldade;, avaliou.
Favorável a Bolsonaro, Bia Kicis (PRP-DF) defendeu o presidente da República e disse que é precipitado afirmar que o governo não tenha base. ;Acho que semana que vem tem que estar tudo certo. Não tem porque demorar mais. O Brasil tem pressa. É precipitado dizer que um governo com a legitimidade de Bolsonaro não tenha base. Quem vai mostrar a cara e ser contra? O povo está marcando em cima;, respondeu.