De forma sutil, a primeira-dama Michelle Bolsonaro começa a desempenhar o papel de aproximar o governo do marido, Jair Bolsonaro, de entidades sociais. A fase é de testes. Na semana passada, ela esteve em quatro eventos para promover ações de entidades que cuidam de pessoas com doenças raras e deficiências. Mas evitou acionar a máquina de publicidade do Planalto. A equipe de cerimonial do palácio não fez até agora objeções à postura e aos movimentos da mulher do presidente.
Michelle não viajou com Bolsonaro a Washington. Ela estará, no entanto, na comitiva do presidente a Santiago, no Chile no fim da semana.
Um dos próximos desafios da primeira-dama será um leilão de dez vestidos, dois deles costurados pela estilista Marie Lafayette, que custam pelo menos R$ 4 mil. O pregão vai incluir o branco fluído com detalhes em renda e cristais usado no casamento com Bolsonaro em 2013 e o rosé acetinado da posse. Foi depois de o presidente receber a faixa no parlatório do palácio que a primeira-dama fez um discurso em Libras, a Língua Brasileira de Sinais. A iniciativa arrancou aplausos da multidão na Praça dos Três Poderes e empolgou aliados do governo, preocupados com a imagem "machista" do presidente.
Ela sinalizou que não pretende entrar na disputa por cadeiras, mesas e cargos no palácio. Por enquanto, apenas ajudantes de ordem, entre eles, uma capitã do Exército, acompanham a primeira-dama em deslocamentos pela capital federal.
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Michelle não quis também ocupar a sala que antes era de Marcela Temer, mulher do ex-presidente Michel Temer. O espaço virou gabinete do assessor Célio Faria Júnior, que comanda um grupo que atua nas redes sociais do presidente. Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, morta em 2017, chegou a desalojar Frei Betto, ligado à família, de uma sala próxima do gabinete presidencial, no terceiro andar.
Atuação
A internação prolongada do presidente, no Hospital Albert Einstein, entre janeiro e fevereiro, a reestruturação do governo e a própria adaptação da família ao Palácio da Alvorada tornaram mais lentas as investidas de Michelle junto a grupos ligados ao atendimento de deficientes físicos e pessoas com doenças raras.
A primeira agenda pública de Michelle como primeira-dama, no fim de fevereiro, foi uma sessão no plenário da Câmara para discutir doenças raras. Na cerimônia, discursou por menos de cinco minutos, posou para fotos e conversou com alguns convidados, entre eles, Graça Goltara, mãe de Isabella, que é portadora da síndrome de cri-du-chat. Graça conheceu a primeira-dama no fim do ano passado, quando viajou cerca de oito horas de Vitória ao Rio de Janeiro até a casa dos Bolsonaro, na Barra da Tijuca, para apresentar a filha.
Após o encontro, Michelle convidou as duas para irem a Brasília. "Sou muito grata a ela porque já bati na porta de muita gente e nunca fui atendida. Minha intenção é divulgar essa doença", afirmou Graça.
Além dos eventos, Michelle tem mantido reuniões com os ministros da Cidadania, Osmar Terra, da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Uma delas ocorreu no gabinete de Bolsonaro.
Evangélica, Michelle não deu sinais até agora se pretende ajudar na interlocução do presidente com a bancada da Bíblia, que tem demonstrado insatisfação com o governo. Na semana passada, setores no Congresso viram a influência da primeira-dama na indicação de Iolene Lima, ligada à igreja que Michelle frequenta, para assumir a secretaria executiva do Ministério da Educação. A bancada evangélica, no entanto, buscou se desvencilhar da nomeação de Iolene para o cargo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.