Politica

O que representaria a aproximação do Brasil da Otan, mencionada por Trump?

O presidente dos EUA afirmou intenção de "designar o Brasil como um grande aliado não integrante" da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Especialistas comentam

Fernando Jordão
postado em 19/03/2019 19:00
Sombra de Trump em frente a logo da OtanApós se encontrar com Jair Bolsonaro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (19/3) que pretende "designar o Brasil como um grande aliado não integrante" da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ou mesmo, mais futuramente, como um aliado efetivo do grupo. Especialistas consultados pelo Correio avaliam que a entrada do país na aliança é, neste momento, mais vantajosa para os EUA que para o Brasil.

Criada em 1949, durante a Guerra Fria, a Otan é um pacto militar que, entre outras coisas, estabelece um acordo de defesa mútua entre os membros, em caso de ataques por outros países. A tensão na Venezuela ; que levou Brasil, Estados Unidos e outras nações a reconhecer o líder da oposição Juan Guaidó como presidente interino do país, no lugar de Nicolás Maduro ; é o principal fator apontado pelos especialistas para considerar a entrada do Brasil no grupo como mais interessante para os EUA.

"Hoje, neste momento, sem dúvida, (é mais interessante para os Estados Unidos), porque o Brasil não tem nenhuma crise de fronteira", analisa Wagner Parente, conselheiro e CEO da BMJ Consultores Associados. "A crise mais recente é a da Venezuela e, por isso, interessa tanto aos EUA ter um parceiro na América do Sul, uma área que, além disso, registra um aumento da influência chinesa e também tem sido sondada pela Rússia", acrescenta Parente, destacando ainda que o governo brasileiro já delcarou que não tem intenção de intervir militarmente no país vizinho.

Política externa

Professor e assessor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília (UCB), Creomar de Souza aponta que a participação do país na aliança pode ser também uma forma de "amarrar" a política externa brasileira à norte-americana "na agenda de defesa", "atendendo a um compromisso de campanha do grupo político de Bolsonaro".

Por isso, para ele, a avaliação sobre se o acordo seria bom ou não para os brasileiros dependeria da perspectiva. "Para quem votou no presidente e tem a percepção de que o Brasil tem que estar mais próximo dos EUA do que da Venezuela, por exemplo, é positivo. Para que tem a percepção de que país deveria ter uma entrada mais independente nas relações internacionais, não", pontua.

O docente ressalta, contudo, que a participação do Brasil na Otan ainda "está no campo das ideias e das declarações". "Há uma distância da declaração pós-encontro e do que, de fato, vai se tornar política pública. Depende, por exemplo, dos outros membros. Como é um tratado internacional, também tem que ser validado pelo Congresso. São muitas variáveis", pondera.

Por fim, Creomar de Souza afirma que o ingresso na Otan pode ser uma condição imposta pelos EUA para que o Brasil consiga uma vaga na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): "Os EUA podem ter dito: ;Se quiser, terá que nos auxiliar na agenda de segurança;. É parte do jogo político".

Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro falou sobre a possibilidade de o país ingressar na Otan, em entrevista coletiva, após reunião com Trump, em Washington. Questionado se estaria aberto à ideia de apoiar os EUA em uma ação militar contra a Venezuela, Bolsonaro criticou o governo de Maduro, lembrou que o Brasil auxiliou na tentativa de envio de ajuda humanitária e disse que os dois países discutem a inserção do país no pacto.

Quando os jornalistas insistiram na pergunta, o presidente brasileiro afirmou: "O Brasil está a postos para cumprir essa missão e levar liberdade de democracia para esse país que, há pouco, era um dos mais ricos, e que hoje sofre com pobreza. Temos que somar esforços para botar um ponto final nessa questão ultrajante para o mundo todo".

Trump, por sua vez, voltou a dizer que o apoio do Brasil está em discussão e que "todas as opções estão abertas", não descartando a possibilidade de uma ação militar no país venezuelano.

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