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Processo de saída do Brasil da Unasul deve levar seis meses

Chanceler Ernesto Araújo diz que Jair Bolsonaro anunciará, em sua visita ao Chile, a saída do país do grupo. Ideia é ter um novo organismo internacional, sem a Venezuela

Rosana Hessel
postado em 21/03/2019 06:00
Para Araújo, o novo bloco permitirá lançar mão de iniciativas mais específicas de integração regional

O presidente Jair Bolsonaro deve anunciar, em sua visita ao Chile, hoje e amanhã, a saída do Brasil da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), grupo integrado por 12 países sul-americanos: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Chile, Guiana, Suriname e Venezuela.

A informação é do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Ele fez ontem um balanço da viagem oficial de Bolsonaro aos Estados Unidos. Segundo o chanceler, o abandono da Unasul será coordenado com os demais países do grupo e deve representar o esboço de um novo bloco sul-americano, sem a presença da Venezuela.

;Gostamos muito da ideia chilena de substituir a Unasul por outro bloco. A Unasul é um órgão falido, que foi capturado e com vício de origem, que não conseguiu avançar na integração física entre os países. Não construiu um quilômetro de rodovia;, criticou o ministro, horas antes de viajar ao Chile. Para Araújo, a criação de um outro bloco permitirá substituir a Unasul por iniciativas mais específicas de integração regional.

O ministro adiantou que as conversas entre Bolsonaro e o presidente do Chile, Sebastián Piñera, devem focar no avanço dos projetos de integração do Brasil com o Pacífico e no aumento dos investimentos. Em terras chilenas, o chefe do Executivo participará de uma cúpula que contará com 21 chanceleres e 22 presidentes, segundo o Itamaraty.

Bolsonaro retornará ao Brasil no sábado. Na semana que vem, fará uma visita oficial a Israel. Araújo, no entanto, não confirmou se, na ocasião, será anunciada a mudança efetiva da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Segundo o ministro, isso será definido durante as reuniões preparatórias da viagem, que não tem previsão de visita a territórios palestinos.

Ao ser questionado sobre a troca de embaixadores de 15 representações no exterior, prevista pelo novo governo, Araújo destacou que a preferência para os novos titulares será técnica. ;A lista que fechamos das mudanças atuais inclui apenas embaixadores de carreira. Washington não está nessa lista;, disse ele, acrescentando que, em relação à embaixada de Washington, não haverá a restrição.

Positivo

Na avaliação de Araújo, o saldo da visita de Bolsonaro aos EUA foi positivo. Ele tentou rebater as críticas de que o Brasil teria cedido mais do que os EUA nas conversas bilaterais. ;Não cedemos muito nessa visita. Se colocar um patamar de avaliação de interlocutores de fundos de investimentos, há entusiasmo com os sinais dados com o Brasil;, declarou. ;O mundo está olhando o Brasil e reconhece que é um novo acordo. Muita gente quer que o gigante continue adormecido.;

Ele não detalhou, contudo, como o país tem mais a ganhar do que a perder se realmente abrir mão do status de país em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC) para receber o apoio formal dos Estados Unidos para a entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma vez que Chile e México já pertencem à OCDE e não abriram mão desse status.

Para o ministro, o principal saldo positivo foi a inclusão do país como aliado preferencial dos Estados Unidos na Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) e o acordo de salvaguardas tecnológicas para a Base de Alcântara, no Maranhão.

Em relação à Venezuela e às medidas que podem ser adotadas pelo Brasil e pelos EUA, Araújo não deu detalhes, mas tentou reforçar que é preciso combater o terrorismo de integrantes do Hezbolah que há no país vizinho.

Prosul

O outro bloco seria o Prosul, integrado por Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Costa Rica, Nicarágua, Panamá e República Dominicana.

Desconforto

No início da entrevista, Araújo demonstrou inquietação, pois seu papel na viagem acabou sendo ofuscado pelo filho do presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que acompanhou o pai na conversa privada com Trump, e, portanto, desempenhando o papel de chanceler, que deveria ter sido do titular do Itamaraty. Ao ser questionado sobre isso, o ministro tentou minimizar o desconforto. ;Fazemos parte da mesma equipe. Ele ajudou muito na construção dessa parceria, e achei excelente que ele pudesse participar da conversa, porque reforça essa ideia de que faz parte desse novo relacionamento;, afirmou.

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