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Parte da esquerda aponta arbitrariedade e interesses na prisão de Temer

Antes opositores do ex-presidente Michel Temer, representantes da esquerda foram ao Plenário da Câmara dos Deputados criticar a prisão do emedebista

Alessandra Azevedo
postado em 21/03/2019 14:30

Boulos se preocupou com a possibilidade de uso político da prisão

O anúncio das prisões do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco, nesta quinta-feira (21/3), tem repercutido de formas variadas no mundo político. Parlamentares e lideranças partidárias, muitos deles de esquerda, comemoraram a decisão da Justiça. Mas alguns opositores do emedebista concordam, pelo menos em parte, com a defesa do ex-presidente e alertam para a falta de processo legal.

Para eles, a decisão pode ser uma "cortina de fumaça" para tirar as atenções de medidas impopulares e contornar a queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Alguns acreditam que seja uma retaliação do ministro da Justiça, Sergio Moro, contra as críticas feitas a ele nesta quarta-feira (20/3) pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A líder da minoria na Casa, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), uma das vozes mais ativas no Congresso contra o governo do emedebista, demonstrou "estranheza" pelo momento em que o mandado foi expedido. Para ela, "tem cheiro de prisão arbitrária". "Delação não é prova. Todos acompanhamos o golpe, e eles precisam ser punidos, mas só concordamos com prisão de acordo com o processo legal", explicou.

O deputado Ivan Valente (Psol-SP) fez questionamentos parecidos. Para ele, a escolha do momento da prisão tem a ver com "a crise brutal" enfrentada hoje pelo governo. "Houve desgaste do presidente Jair Bolsonaro nas pesquisas e uma péssima repercussão da viagem internacional dele", comentou.

O entendimento deles é parecido com o do PT, que, em nota, disse esperar que as prisões tenham sido decretadas "com base em fatos consistentes, respeitando o processo legal, e não apenas especulações e delações sem provas, como ocorreu no processo do ex-presidente Lula e em ações contra dirigentes do PT". Do contrário, continua a nota, "estaremos diante de mais um dos espetáculos pirotécnicos que a Lava Jato pratica sistematicamente, com objetivos políticos e seletivos".

"Acima da lei"

Até Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que foi candidato à Presidência da República pelo PSol, se preocupou com a possibilidade de uso político da prisão. "Esperamos apenas que não sirva para fortalecer xerifes de toga, que se consideram acima da lei, nem pra desviar da crise do desgoverno de Bolsonaro", comentou, no Twitter. Antes da ressalva, ele reforçou que "Temer é um bandido, que já deveria estar preso há tempos".

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Correligionária de Boulos, a deputada Áurea Carolina (PSol-MG) também disse esperar que "o golpista Michel Temer seja julgado pelas evidências de seu envolvimento com esquemas históricos de corrupção", mas pontuou que a prisão "se dá em um momento em que o governo coleciona derrotas no STF e vê naufragar seu projeto privatista de um fundo bilionário".

Além disso, Áurea lembrou que Temer foi salvo duas vezes pela Câmara por "entusiastas do projeto entreguista" que, agora, "seguem fazendo vistas grossas às denúncias sobre a família Bolsonaro".

Semelhanças

As considerações dessa ala da esquerda têm alguns pontos em comum com a defesa de Temer e do partido do ex-presidente. Em nota, a presidência nacional do MDB disse que "espera que a Justiça restabeleça as liberdades individuais, a presunção de inocência, o direito ao contraditório e o direito de defesa".

O MDB lamentou "a postura açodada da Justiça à revelia do andamento de um inquérito em que foi demonstrado que não há irregularidade por parte do ex-presidente da República, Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco".

O ex-ministro da Casa Civil de Temer, Carlos Marun, classificou a prisão como um "exibicionismo do Judiciário", em entrevista ao programa Ganhando o Jogo, da Rádio Guaíba.

Entenda

O ex-ministro Moreira Franco, que também foi preso na operação, é casado com a sogra de Maia. Na quarta-feira (20/1), o presidente da Câmara chamou Moro, ex-juiz da Lava Jato, de ;funcionário de Bolsonaro;, disse que o projeto de lei anticrime proposto por ele é um ;copia e cola; de uma proposta já existente e afirmou que o ministro estaria "confundindo as bolas".

As falas vieram após o ministro ter cobrado mais rapidez na tramitação do pacote. Ele também reclamou do fato de Maia ter criado um grupo de trabalho para avaliar o projeto na Câmara, antes de ser colocado para votação.

Depois que o presidente da Câmara respondeu com as críticas ao projeto e à atitude de Moro, na quinta-feira (21/3), o ministro divulgou uma nota dizendo que o projeto é "inovador e amplo". Também mencionou que "o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais".

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