Politica

Prisão de Temer ocorre em meio a um cenário de crise na Lava-Jato

Detenção é determinada em meio às batalhas travadas entre o Ministério Público Federal no Paraná e o STF, que colocam em xeque o futuro da força-tarefa

Simone Kafruni, Renato Souza
postado em 22/03/2019 06:00
Procuradores e ministros do STF trocam acusações públicas: estopim foi acordo entre Lava-Jato e Petrobras
Assim que a detenção do ex-presidente Michel Temer foi concretizada, o assunto foi parar nos bastidores da vida política em Brasília. Muitos questionaram quais seriam os desdobramentos e o cenário por trás da ação que levou o homem forte do MDB para a cadeia. A detenção dele ocorre em meio a um intenso cenário de crise na força-tarefa da Lava-Jato. Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) toma decisões que afetam diretamente a rotina da operação, procuradores do Ministério Público Federal no Paraná (MPF) lideram uma campanha de reação. A prisão do emedebista é vista como uma importante sobrevida das investigações.

Além da decisão do Supremo de enviar ações penais contra políticos para a Justiça Eleitoral, um inquérito em tramitação na Corte tem como alvo pessoas que atacaram o tribunal pela internet e até mesmo procuradores da República que criticaram atos dos magistrados. Ministros e procuradores se enfrentaram em acusações públicas. Um acordo entre a Lava-Jato e a Petrobras foi o estopim para a troca de acusações.

O professor Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), afirmou que, além de elevar a incerteza no cenário político, a prisão de Temer e do ex-ministro Moreira Franco deve acirrar os ânimos entre Legislativo, Executivo e Judiciário. ;Já está ocorrendo um conflito importante entre os Poderes. Esse episódio pode ter desdobramentos que, de certa forma, intensifiquem essa confrontação;, considerou. Calmon destacou ainda que não está claro o que vai ocorrer. ;É cedo para saber se vai ocorrer contestação no Supremo Tribunal Federal ou como Executivo e Legislativo vão agir;, ressaltou.

O professor disse, contudo, que, num ambiente de conflito e incerteza, a formação de uma coalizão grande ou de consenso em torno de determinadas propostas ficam mais difíceis. Para o especialista, o grupo de Temer era relativamente articulado sob a liderança dele. ;Obviamente, na medida em que essa liderança some, vai presa, o grupo fica acéfalo. Isso não significa que não se possa estabelecer uma nova coordenação. Tudo vai ter de ser refeito.;

Suspenso

O acordo entre a Lava-Jato e a Petrobras previa a criação de um fundo que seria abastecido por parte dos R$ 2,5 bilhões recuperados a partir das negociações com o departamento de Justiça norte-americano. Ao efetuar o depósito, foram convertidos em moeda nacional US$ 682,5 milhões pela estatal. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o acordo e determinou o imediato bloqueio de todos os valores depositados na conta corrente vinculada à Justiça Federal em Curitiba, que havia homologado a negociação entre a estatal e o Ministério Público Federal no Paraná. O ministro ainda proibiu qualquer movimentação do dinheiro sem que haja expressa decisão do STF.

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