Desde 2014, a economia brasileira está metida em um pântano. Diante das incertezas do governo de Dilma Rousseff, a atividade degringolou e o país mergulhou em uma das mais profundas recessões da história. A expectativa era de que, com a eleição de Jair Bolsonaro, o otimismo se restabelece e as travas do Produto Interno Bruto (PIB) se soltassem, gerando mais empregos e renda. A base de toda a euforia que tomou conta dos agentes econômicos e financeiros era a perspectiva de reforma da Previdência Social, fundamental para equacionar o rombo das contas públicas.
Mesmo com todos os atropelos, até o início desta semana, tudo indicava que as mudanças no sistema previdenciário seriam aprovadas sem traumas. Não por acaso, o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, rompeu a marca histórica dos 100 mil pontos. De lá para cá, porém, o quadro mudou por completo. Uma guerra aberta nas redes sociais pelo filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, e por seguidores dele e do pai contra o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, fez o clima azedar. O Ibovespa cedeu mais de 6% e o dólar atingiu R$ 3,90, a maior cotação do ano. O pessimismo em relação à reforma da Previdência passou a imperar.
Sabe-se que o governo enfrenta sérios problemas para conduzir sua articulação com o Congresso. Para tentar contornar os obstáculos e tornar a tramitação da reforma mais fácil, Maia assumiu o papel que deveria ser de um governista. Os investidores viram nisso um forte comprometimento do presidente da Câmara com o projeto elaborado pela equipe econômica, que poderá resultar em uma economia para o Tesouro Nacional de R$ 1,1 trilhão ao longo de uma década. Agora, o que parecia quase certo, passou a ser incerteza. O Congresso, também contaminado pela prisão do ex-presidente Michel Temer, demonstra já não ter o mesmo compromisso com o governo.
Apesar dos abalos, ainda é possível reverter todo o mal-estar. Basta, para isso, que o presidente da República contenha o descontrole de seu filho mais novo, que, a todo instante, procura demonstrar o poder que tem dentro do governo. Bolsonaro militou no Congresso por quase 28 anos. Sabe exatamente como a Câmara e o Senado funcionam. Conhece as demandas dos parlamentares. Portanto, tem todas as condições de manter um amplo diálogo com aqueles que foram eleitos para fazerem as leis do país. Partir para o enfrentamento com o Legislativo, acreditando que o apoio das redes sociais é suficiente, será um erro enorme.
O Brasil precisa da reforma da Previdência. Sua aprovação garantirá o ajuste das contas públicas e evitará a explosão da dívida pública. Sem mudanças nos sistemas de pensões de aposentadorias, o país deixará de cumprir compromissos básicos, como pagamentos de servidores e aposentados, e poderá decretar calote nos investidores. Certamente, não é esse o destino que o Palácio do Planalto quer para a nação. Sendo assim, a ordem é reconstruir as pontes com o Congresso e evitar a repetição dos erros dos últimos meses, que custaram 15 pontos percentuais da popularidade do governo.