Politica

Nas Entrelinhas: Marielle virou uma marca

Leonardo Cavalcanti
postado em 25/03/2019 10:27
O rosto de Marielle Franco está estampado nas ruas mais movimentadas de Santiago do Chile. No protesto contra a visita do presidente Jair Bolsonaro, na última sexta-feira, chilenas pintaram o nome da vereadora no chão e levaram cartazes com a foto dela rindo, igual a que se encontra na parede principal do Centro Gabriela Mistral, um dos pontos de encontro cultural mais populares da capital.

Marielle virou um símbolo de luta e ; por que não? ; ganhou uma leveza só percebida em revolucionários, sejam eles políticos, sejam artistas. Tal propriedade, queiram os seguidores ou não queiram os detratores, não se consegue facilmente, até porque não existe uma fórmula pronta. A transformação num símbolo de força é para poucos, como se sabe.

Marielle, a mulher negra, favelada e assassinada, passou a ser referência para outras pessoas no Brasil, na América Latina ; em Buenos Aires o rosto dela apareceu em manifestações ;, no mundo. É como se estivesse viva, a alimentar a alma de descontentes com a impunidade. Por mais que possa parecer óbvia a força da imagem da vereadora, é desconcertante percebê-la no cotidiano de uma cidade distante do Brasil.

[SAIBAMAIS]Sem comparações descabidas, a imagem de Marielle nas paredes e nas camisas lembra a foto iconográfica de Che Guevara feita por Alberto Díaz (Korda) em março de 1960 e só publicada sete anos depois. A imagem original de Korda ganhou todas as versões possíveis, produzidas por vários artistas ao longo dos anos. O fotógrafo nunca pediu qualquer dinheiro. Uma vez apenas embargou uma publicidade de um fabricante de vodka ; e só, segundo conta a história.

A imagem de Marielle tem uma unidade entre jovens, virou um símbolo de causas contra covardias e desigualdades sociais. Talvez esteja aí a explicação de brasileiros, chilenos e gente de todos os cantos compartilharem as fotos em paredes, nas camisas e nas redes sociais. Por essa, os assassinos de Marielle e todos aqueles agressivamente contrários às causas defendidas pela vereadora quando viva não esperavam.

Bolsonaro


Numa das melhores frases da guerra de declarações entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o capitão reformado disse que não seria arrastado para um campo de batalha diferente do dele. ;Eu respondo pelos meus atos no Executivo. O Legislativo são eles.; É uma boa declaração, forte e, mesmo que tenha saído da cabeça de um assessor, foi pronunciada pelo presidente ; pertence a ele. Há um detalhe, entretanto, pois Bolsonaro se sente mais confortável em outra arena: as redes sociais. E, talvez, aí esteja o maior risco.

A questão é que, se a desenvoltura de Bolsonaro nas redes sociais durante a campanha o favoreceu, a mesma coisa não pode ser dita no dia a dia do governo real, nas tratativas sobre a tramitação da reforma da Previdência. Nesse caso, se alguém está tentando arrastá-lo para outro campo de uma batalha fora do mundo virtual, não deixa de ser um bom conselheiro. Vejamos os próximos capítulos de uma semana que está ainda começando.

Prosur


Um dos resumos que se pode fazer sobre a criação do Prosur (Fórum para o Progresso da América do Sul) em substituição à Unasul (União das Nações Sul Americanas) é que, enquanto os dirigentes da região se basearem em princípios ideológicos, será impossível formam um grupo forte regional. Se a Unasul foi criada por presidentes em sua maioria de esquerda, a Prosur tem a marca dos chefes de direita, reunidos no Chile na semana passada. O que parece lógico nessa conversa é que, caso o vento mude, o atual fórum será desfeito, da mesma forma que o anterior. E as políticas de Estado, as mais importante, seguirão em segundo plano, com gastos de dinheiro e energia.

Transparência


O ministro da Transparência e Controladoria Geral da União, Wagner Rosário, ficou no Chile por mais dois dias depois de a comitiva de Bolsonaro voltar a Brasília. A missão foi a de trocar experiência com autoridades daquele país sobre mecanismos de controle de atividades de relações institucionais, mais popularmente conhecido do nome de lobby. O governo brasileiro está prestes a divulgar um decreto com normas para atuação de lobistas.

A imagem da vereadora, queiram os apoiadores ou não queiram os detratores, ganhou uma força que não se consegue facilmente, até porque não existe uma fórmula pronta para isso

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