Após experimentar um vertiginoso crescimento em 2018, ao sair da condição de "nanico" para eleger um presidente da República, 52 deputados e 4 senadores, o PSL vem ganhando, em seus diretórios estaduais, uma feição singular que mistura representantes da "nova" e da "velha" política. Entre os dirigentes estão "caciques" locais (políticos de famílias tradicionais), militares, ativistas digitais e empresários.
Os líderes regionais do partido do presidente Jair Bolsonaro não possuem uma pauta nacional e defendem interesses difusos. Esse novo condomínio de poder reúne oito militares, sete empresários, quatro advogados, três ruralistas, uma professora, um médico e um pastor, um vereador e um chefe de gabinete.
Uma mostra da forma como o PSL passou pelo processo de reformulação para receber a candidatura presidencial de Bolsonaro e seus aliados, no ano passado, é que 24 dos 27 diretórios estaduais da legenda operam de maneira provisória e muitos acumulam dívidas, segundo levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo. Em 16 diretórios (AC, AL, AP, AM, GO, MT, PR, RJ, GO, MG, RN, RS, SP, RO, SC e SE) as comissões provisórias foram montadas em janeiro de 2019, com validade de seis meses. Outras sete (BA, CE, ES, MS, PB, PI e TO) estão "vencidas" desde 2018. Apenas quatro (MA, DF e PA) estão regularizados, com direção eleita. Boa parte dos diretórios não têm nem sequer sede própria.
A deputada Bia Kicis (DF) disse que o regimento interno do PSL prevê que filiados com mandato têm prioridade para comandar o diretório estadual. "No Distrito Federal, por exemplo, eu sou a única parlamentar. Então, permanecerei à frente do diretório. Já em São Paulo, que tem vários parlamentares eleitos, isso vai ser definido na base da conversa", disse.
A falta de filtros na formação do "novo" PSL, entretanto, preocupa os quadros ideológicos do bolsonarismo. "O PSL que disputou a eleição foi criado às pressas. Bolsonaro se filiou aos 44 minutos do segundo tempo e todo mundo foi no embalo. É como uma rede de pesca: entrou de tudo", disse o deputado estadual paulista Frederico D;ávila, principal representante dos ruralistas no PSL. Ele é defensor da ideia de que a legenda tenha uma "escola de ideologia". "Nada impede que em alguns lugares o PSL vire um partido de caciques", disse.
Eleita deputada federal por São Paulo, a ativista digital Carla Zambelli concorda. "Com a eleição do Bolsonaro teve muita gente que veio na onda sem ter a mentalidade conservadora e liberal", disse.
Apesar da ausência de uma linha ideológica clara, o perfil do PSL nos Estados apresenta uma forte tendência classista em relação à defesa da pauta dos militares. "Um terço da nossa bancada é de policiais civis e militares. Isso reflete nos Estados", observou o deputado Delegado Waldir (GO), líder do partido na Câmara.
Entre os clãs familiares que comandam o PSL nos Estados, dois se destacam: os Bolsonaro, no Rio, e os Francischini, no Paraná. No caso do Rio, a disputa pelo comando do partido virou uma questão familiar. O vereador Carlos Bolsonaro, que é filiado ao PSC, apoiou o nome deputada estadual eleita Alana Passos para suceder o irmão mais velho no comando do partido, mas Flávio decidiu permanecer na presidência.
Dois dos três governadores eleitos em 2018 presidem a sigla em seus Estados - Coronel Marcos Rocha, em Rondônia, e Antonio Denarium, em Roraima.
Fundo
O único objetivo comum a todas as linhas do PSL é a meta de lançar o maior número de candidatos a prefeito em 2020 para capilarizar a atuação do partido no País. Neste cenário, a sigla deverá discutir na próxima semana as diretrizes para a divisão do Fundo Partidário. Após a eleição, a legenda dos Bolsonaro passou a ter a maior fatia do Fundo - R$ 110 milhões de reais por ter eleito 52 deputados. O valor é 17 vezes maior do que o recebido em 2018.
Para se adaptar à nova realidade, o presidente nacional do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), concentrou o poder de distribuir o comando da legenda entre aliados nos Estados, mas concedeu autonomia para os dirigentes locais. A ideia, segundo ele, é regularizar a situação nacional até junho.
Para o cientista político Rodrigo Prando, da Mackenzie, o PSL "precisa primeiro virar um partido, porque hoje ele é um conjunto de interesses reunidos em torno da vitória do Bolsonaro". "A maioria dos seus integrantes recusa essa socialização que existe nos partidos." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.