Agência Estado
postado em 26/03/2019 19:21
Em depoimento à Justiça Federal nesta terça-feira, 26, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) confirmou que, durante sua gestão, recebia propina do Grupo Petrópolis. A empresa tem sede no Estado do Rio e fabrica seis marcas de cerveja, entre elas Itaipava, além de outras bebidas.
Cabral não informou quanto recebia mensalmente, mas afirmou ser verdadeira a versão já exposta por seu operador financeiro Carlos Miranda, que firmou acordo de delação premiada.
Segundo Miranda, a propina paga pelo Grupo Petrópolis era de R$ 500 mil mensais, em troca de benefícios fiscais do governo estadual. Desse valor, conforme o operador, R$ 150 mil ficavam para Miranda, outros R$ 150 mil para o agente fazendário Ary Ferreira da Costa Filho (que foi assessor especial de Cabral), e os R$ 200 mil restantes iam para uma espécie de 'caixinha' da propina, para uso geral.
"O grupo Petrópolis, sim, tinha propina. Houve ajuda (do grupo a Cabral) em campanha eleitoral e, de fato, havia esse recurso, como o Carlos Miranda falou no depoimento dele, que parte era para lavagem de dinheiro, outra parte ficava para o Ary e outra para gastos do caixa", afirmou Cabral durante o depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
Ao longo do depoimento, que durou apenas 18 minutos, Cabral deu outros detalhes sobre esquemas de lavagem de dinheiro. Afirmou que, em campanhas eleitorais, recebeu dinheiro de caixa 2 do então dono de uma rede de supermercados carioca, mas negou que essa empresa participasse de um esquema regular de propinas.
"Talvez o Ary (Costa Filho, assessor especial durante sua gestão como governador) tenha pego dinheiro em meu nome (na rede de supermercados), mas que eu saiba só houve ajuda em campanha eleitoral".
Defesa
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Grupo Petrópolis informou que não obteve nenhum benefício fiscal ou financeiro durante os governos de Cabral. "A empresa sempre atuou de acordo com a legislação e suas relações com o Estado do Rio de Janeiro foram pautadas pelos critérios de geração de empregos para a região, razão pela qual nunca precisou de qualquer subterfúgio para atuar no Estado", afirmou a empresa, em nota.
Pezão
Outro operador financeiro de Cabral, Sérgio de Castro Oliveira, afirmou ter sido responsável por pagar mesadas ao então vice-governador (e depois governador) Luiz Fernando Pezão (MDB) e aos secretários estaduais Régis Fichtner e Wilson Carlos: "Tinha um valor fixo, no começo cada um recebia R$ 50 mil. Tanto o Régis (Fitchner), quanto o Wilson (Carlos) eu paguei R$ 50 (mil), e o Carlos (Miranda) pagava o restante do dinheiro. Pezão começou com R$ 50 (mil), chegou a ser R$ 100 (mil), no final já levava R$ 150 (mil). Minha função era levar o dinheiro", afirmou.
A reportagem procurou representantes de Pezão, Fichtner e Wilson Carlos na noite desta terça-feira, mas até as 18h30 não havia conseguido localizá-los. Em ocasiões anteriores, Pezão e Fichtner negaram ter recebido propina. Não foi possível falar com Ary Ferreira da Costa Filho.