Agência Estado
postado em 27/03/2019 15:38
"Me iludi", afirmou o chanceler Ernesto Araújo sobre a defesa pública que fez de governos petistas durante a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso e condenado na Lava Jato. As declarações foram dadas durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional na Câmara dos Deputados.
"Realmente, durante algum tempo eu acreditei que nos governo do PT, sobretudo o governo Lula, Brasil tinha encontrado um conjunto de políticas adequado. Mas nesse momento - eu pelo menos não sabia - dos escândalos de corrupção, o quanto isso era insustentável. Erro de avaliação meu, que não sou economista, mas não percebia o quanto a projeção econômica brasileira estava baseada no chamado boom das commodities", afirmou ao deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que o questionou sobre as suas declarações.
Em 2018, Ernesto Araújo publicou uma tese de 352 páginas na qual defendeu a estratégia de relações exteriores que o PT implementou no governo Lula. O documento de 2008, chamado "Mercosul: Negociações Extrarregionais", foi apresentado por Araújo ao Centro de Altos Estudos (CAE) do Itamaraty.
As ideias defendidas pelo então presidente Lula e pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, foram caracterizadas pela abertura de novas frentes de relação política e de negócios com países em desenvolvimento, ou do eixo sul-sul, como eram chamados os países africanos e sul-americanos, além das potências médias como a Índia, ou de antagonistas dos EUA, como Rússia e China.
Durante a audiência, ele disse que errou na avaliação. "Não percebia. Falha minha. Acreditava na propaganda do governo", afirmou o chanceler, completando: "Me iludi. Achava realmente que certas realizações eram sustentáveis".
O chanceler afirmou que a "exportação" de corrupção do País nas últimas décadas a países da América Latina foi um fator de preocupação dos vizinhos. A vinda do chanceler à comissão lotou o plenário 2. Entre os presentes, embaixadores da Espanha, Luxemburgo e Uruguai, e o assessor especial da Presidência Felipe Martins, que permaneceu sentado atrás da cadeira do presidente da comissão, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ao celular. Sua atenção só era desviada em alguns momentos para sorrir em tom de ironia a perguntas da oposição.