Carlos Marcelo/Estado de Minas
postado em 06/04/2019 07:00
;Presidente, o senhor completa 100 dias à frente do governo na próxima semana. Qual foi o dia mais tenso?;. Jair Bolsonaro, presidente da República, ri e murmura: ;Mais tenso, mais tenso...;. Diante do chefe, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, responde, antes de mais um gole do inseparável chimarrão: ;A gente paga um preço por estarmos todos aprendendo.;
Durante café da manhã com jornalistas de alguns jornais e tevês do país (e a apresentadora Luciana Gimenez), no terceiro andar do Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro demonstrou descontração. E desapego. Quase no fim do encontro de uma hora, a reportagem quis saber de Sérgio Moro, apontado antes das eleições como um dos homens públicos mais populares do país pela atuação na Lava-Jato, se o ministro gostaria de ocupar o único lugar da mesa onde havia uma pequena câmera à frente para registro das falas presidenciais. Antes de o ministro da Justiça responder (;Tem de ser um pouco louco;), Bolsonaro se antecipa e pergunta: ;Quer trocar, Moro?;.
Risos do ministro, dos jornalistas e do presidente, que complementa: ;Eu disse na campanha que, em janeiro, ou estaria aqui nessa cadeira ou na praia. Me dei mal;. Mais risos. Horas depois, em evento com servidores do Planalto, o presidente chegou a dizer, também em tom de brincadeira: ;Não nasci para ser presidente, e sim militar.;
Além dos titulares da Casa Civil e Justiça, Jair Bolsonaro estava acompanhado de três generais ministros: o porta-voz Otávio do Rêgo Barros; o secretário-geral da Presidência, Floriano Peixoto; e o chefe do gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno (;Nosso guru;, como definiu Lorenzoni). Bolsonaro revelou que fará, na próxima semana, uma exposição dos pontos que considera mais importantes dos primeiros 100 dias de seu governo. Provocado a eleger a marca do início de seu mandato, ele respondeu: ;A transparência;. Fez uma pausa: ;Também a escolha de ministros sérios;. Depois de outra pausa, encerrou com uma frase de efeito: ;Não fomos acusados de nada do que os outros foram acusados;.
Muitas vezes, durante o café da manhã (água, suco de laranja, pão de queijo, biscoito de queijo e bolo de coco), um ministro complementava as respostas do presidente. Se o assunto eram as articulações com o Congresso Nacional, Lorenzoni tomava a iniciativa. Supostas divergências entre os militares no Planalto? Assunto para Heleno comentar. E de forma incisiva: ;Tentam criar brigas para nos desunir, mas podem perder a esperança. Somos amigos há 40 anos. Não existe esse troço de ala militar;.
Economia
Para o balanço dos 100 dias, porém, foi Sérgio Moro quem tomou a palavra para enaltecer uma iniciativa do ;mais importante; dos ministérios, na avaliação de Bolsonaro: o da Economia. ;O governo apresentou uma reforma consistente de Previdência, e isso não é trivial;, destacou o titular da Justiça, antes de citar o pacote anticrime e outras medidas no âmbito de seu ministério ; como a reestruturação das equipes da Polícia Federal e da Lava-Jato que, segundo Moro, ;nos bastidores, ia se esvaziando;.
O presidente parecia bem à vontade durante o encontro com jornalistas. Brincou na hora de fazer fotos com o grupo reunido: ;Vocês vão se queimar, hein?;. Respondeu tudo que lhe foi perguntado. Ou quase tudo. Silenciou apenas depois da seguinte questão: ;O senhor está satisfeito com o desempenho do ministro Vélez?;. Mas deu pistas em relação ao destino do titular do MEC. ;É uma boa pessoa, de coração grande, muito bom para conversar. Mas não tá dando certo. Está faltando gestão. Até segunda-feira, isso vai estar resolvido.;