Claudia Dianni
postado em 10/04/2019 18:37
O presidente Jair Bolsonaro e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, convidaram 40 embaixadores de países islâmicos para um jantar hoje, a partir das 19 horas, na sede da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). O jantar é uma ação de desagravo com países árabes e islâmicos devido à insatisfação gerada com a visita de Bolsonaro a Israel no início do mês, quando, além de anunciar a abertura de um escritório de negócios em Jerusalém, o presidente não respondeu a convite da embaixada da Palestina no Brasil para que visitasse também locais palestinos. O Palácio do Planalto alegou falta de tempo para incluir a Palestina na missão do governo brasileiro.
Até o final da tarde, os embaixadores da Argélia, Egito, Irã, Kuwait, Turquia, Catar, Marrocos, Palestina, Indonésia e Cazaquistão estavam na lista das presenças confirmadas. A Arábia Saudita confirmou o envio de um representante.
A aproximação do presidente com Israel vem causando polêmica desde antes do presidente tomar posse, quando em novembro do ano passado, Bolsonaro prometeu seguir o aliado político Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. A capital israelense, Tel Aviv, é onde todos os países - agora com exceção de EUA e Guatemala-, mantêm suas representações, já que Jerusalém, cidade considerada sagrada, é reivindicada como capital de Israel e de um futuro estado palestino, portanto, a comunidade internacional espera a assinatura de acordo de paz.
O anúncio provocou reações políticas e comerciais nos países islâmicos, os principais importadores de aves congeladas do Brasil.
Logo depois da visita do presidente a Israel, o grupo Hamas, movimento palestino que controla a Faixa de Gaza, em nota, pediu que o Brasil revertesse sua política para a região e que a Liga árabe pressionasse o governo brasileiro a não apoiar a ocupação israelense em territórios palestinos.
Também a Autoridade Palestina condenou o anúncio do governo brasileiro de abrir o escritório em Jerusalém e em nota informou que decidiu chamar de volta seu embaixador no Brasil, Ibrahim Mohamed Khalil Alzeben , para consultas e para estudar uma resposta à medida.
Embora não tenha descartado os planos de transferir a embaixada brasileira para Israel, Bolsonaro substituiu a ação de troca da embaixada pela abertura do escritório.
Já no ano passado, a Liga Árabe enviou uma carta de protesto ao Palácio do Planalto e a Arábia Saudita descredenciou cinco frigoríficos brasileiros que embarcavam para o País. O Brasil exporta cerca de U$ 16 bilhões para países islâmicos, dos quais US$ 4 bilhões são frangos congelados, o principal produto da pauta de exportações. Metade dos embarques de frango são de aves halal, uma modalidade de abate específica que segue os rituais islâmicos.
A presença da Indonésia entre os convidados do jantar é especificamente importante para os exportadores, pois há quatro anos o Brasil moveu uma ação contra o país na Organização Mundial do Comércio (OMC) devido à imposição de barreiras tarifárias e sanitárias que impediam as vendas. Com a vitória do Brasil no ano passado, na disputa, o Brasil se prepara para começar as exportações para esse mercado.