Rodolfo Costa
postado em 13/05/2019 06:00
O ;tsunami; que pode atingir o governo esta semana, sugerido na sexta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro, tem o próprio comandante do país como causa original. A analogia usada pelo chefe do Palácio do Planalto é consequência de suas equivocadas decisões ao longo do curto mandato. A resistência em mudar a articulação política com os parlamentares e as poucas viagens pelo Brasil jogam contra a construção de uma base aliada e a favor da reincidência de derrotas no Congresso.
Quando Bolsonaro começou a receber presidentes e líderes partidários, em 4 de abril, e acenou que o importante é a ;boa política;, alguns congressistas acreditaram que, enfim, ele mudaria o diálogo. Imaginaram que o governo, por meio da Casa Civil, finalmente abriria as negociações por cargos nos estados, inserindo apadrinhados em superintendências estaduais e regionais da administração pública indireta nas unidades da Federação.
O resultado disso foi decepcionante para parlamentares dispostos a compor uma base governista. Para a maioria, os diálogos por cargos não fluem. Sem as indicações, deputados e senadores ficam enfraquecidos em suas bases eleitorais, sobretudo os novatos, que, em 2019, não têm emendas impositivas a receber ; recursos que o governo é obrigado a executar. Com as eleições municipais de 2020 no horizonte, é uma ameaça ao fortalecimento dos políticos nos estados.
A relação poderia ser diferente se Bolsonaro, pelo menos, viajasse o país. Mas nem isso, o presidente tem feito. Desde o encaminhamento da reforma da Previdência, em 20 de fevereiro, até sexta-feira, 10, ele realizou, dentro do país, um total de 13 viagens oficiais. Foi quatro vezes ao Rio de Janeiro, três vezes a São Paulo, duas vezes a Foz do Iguaçu (PR) e uma vez a Macapá, Curitiba, Navegantes (SC) e Ribeirão Preto (SP). Embora em uma das agendas tenha ido ao estúdio do SBT, na capital paulista, para uma entrevista ao Programa do Sílvio Santos, que garante a ele uma exibição em escala nacional na TV aberta, parlamentares julgam que é muito pouco.
Um governo que tem como prioridade aprovar a reforma da Previdência não pode se dar ao luxo de, em quase três meses de mandato, percorrer apenas 13 municípios. Sobretudo em localidades onde Bolsonaro sagrou-se vencedor nas urnas, nas últimas eleições. Em ambos os turnos, o presidente foi vencedor nos estados de Santa Catarina, Paraná, Amapá, Rio de Janeiro e São Paulo, únicos visitados até o momento. ;O presidente está se preocupando mais em ;pregar para convertidos; do que em construir uma base social e parlamentar. Isso é perigoso;, alerta o cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais.
Só para convertidos
Das 13 viagens feitas no país, Bolsonaro foi a sete solenidades militares e evangélicas. São dois grupos que se encontram na base do governo. Ainda que essas duas alas tenham tido entreveros recentes, o presidente prestigia esses eventos há algum tempo. ;Um presidente precisa percorrer o país, afagar a base e construir apoio não apenas com quem tende a concordar com ele. A estratégia atual, sem visitas ao Nordeste, por exemplo, é equivocada. E o Centrão e a oposição sabem jogar bem em cima disso;, avalia Ribeiro.
O entorno político de Bolsonaro diz que ele ainda tenta encontrar o melhor arranjo para as viagens. O presidente procura marcar presença em lugares que possibilitem a ele alguma entrega do governo ou participação em evento de início de algum programa governamental, como na sexta-feira, quando prestigiou o começo das operações do Centro Integrado de Inteligência e Segurança Pública da Região Sul. Mas ele pode e deve buscar agendas diferentes, sobretudo para construir uma base para a aprovação da reforma da Previdência, recomenda o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO). ;Qualquer reforma e plano de governo precisam do empenho do presidente em rodar o país, conversar com governadores, prefeitos e empresários;, destaca.
O sucesso da articulação com o Congresso está nos detalhes, até nos gestos mais simples. Resta a Bolsonaro ouvir melhor seus conselheiros. A própria viagem dele ao Nordeste foi reduzida. Em 23 de maio, era previsto que o presidente fizesse um reconhecimento da área das obras da transposição do rio São Francisco, além de uma atividade na fábrica da Fiat em Goiana (PE). Um assessor palaciano afirma, contudo, que ele cumprirá apenas a agenda prevista para o dia 24, onde comandará, com a presença dos nove governadores da região, a reunião do Conselho Deliberativo (Condel) da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que votará o Plano Regional de Desenvolvimento (PRDNE).