Politica

Bolsonaro pressiona deputados e senadores pela aprovação de reformas

Chefe do Planalto joga para o Congresso a responsabilidade de fazer o Brasil 'decolar economicamente'. De Nova York, presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sugere que a falta de clareza da agenda política do governo dificulta a aprovação das reformas

Rodolfo Costa
postado em 15/05/2019 06:00

Bolsonaro usou as redes sociais para pressionar o Congresso a votar as reformas governistas: contra-ataque ao Centrão

O presidente Jair Bolsonaro decidiu partir para o contra-ataque, após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), abandonar a articulação política do governo. O chefe do Executivo federal usou as redes sociais para pressionar o Congresso a aprovar as reformas governistas. A estratégia é devolver a pressão imposta pelo Centrão ao Palácio do Planalto, entornando o caldo sobre o parlamento e jogando sobre os congressistas a responsabilidade pela geração de emprego e renda.

A economia brasileira está estagnada. Os índices de desemprego continuam altos e a geração de postos de trabalho é pior do que em relação ao ano passado. Mas, em vez de tomar medidas efetivas para mudar esse quadro, Bolsonaro busca lavar as mãos e deixar que o parlamento lide com a fervura junto à sociedade. ;Não esqueçamos que precisamos do Congresso para que possamos, definitivamente, decolar economicamente e realizar as tão necessárias transformações econômicas que o Brasil precisa;, escreveu, ontem, no Twitter. Na vida real, contudo, o governo não faz as articulações que deveria.

O Planalto tenta, ainda, se isentar dos protestos que começam hoje com a greve nacional na educação. O discurso é de que a aprovação da reforma da Previdência, em tramitação no Congresso, pode descontingenciar os recursos cortados de universidades e instituições educacionais. Intrinsecamente, é uma resposta à convocação feita pela Câmara para que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, explique hoje, no plenário, o contingenciamento.

A pressão feita por Bolsonaro passa, simultaneamente, pela articulação do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). O deputado conseguiu, ontem, na reunião do colégio de líderes, o encaminhamento de medidas provisórias (MPs) no plenário da Casa, incluindo a 870, que trata da reforma administrativa. Com Maia em viagem a Nova York, a maioria decidiu não pautá-las. Vitor Hugo usou da estratégia de Bolsonaro e jogou no colo do Centrão o ônus da decisão. ;Agradeço aos líderes do PSL, Pros, PSC, Cidadania, Novo, PV, Podemos e Patriotas por terem apoiado o governo na ideia de avançar na votação das pautas de interesse do país, na nossa visão;, disse, no Twitter.

Líderes dos partidos citados por Vitor Hugo foram com ele à reunião com Bolsonaro no Planalto, classificada pelo parlamentar como ;excepcional;. ;(São) movimentos de aproximação. Continuaremos a defender a integralidade da MP (870) e que elas (MPs) sejam incluídas na pauta o quanto antes;, sustentou. A articulação feita pelo deputado agrada Bolsonaro, mas é avaliada pelo Centrão ; ligado a Maia ; como perigosa, uma vez que associa a interlocução feita por ele como a de um líder do PSL a serviço do presidente, não do governo.

Desconforto


Os movimentos de Bolsonaro não passaram batidos. Pelo Contrário. Maia, por exemplo, não deixou barato o tuíte de Bolsonaro e a interlocução de Vitor Hugo. De Nova York, em palestra para investidores e empresários, sugeriu que a falta de clareza da agenda política do governo dificulta a aprovação das reformas. ;Ainda não compreendemos, olhando a longo prazo, quais são as políticas que esse governo trouxe para sobrepor os 13 anos de governo do PT, que trouxe uma agenda que foi muito criticada, inclusive pelo DEM;, declarou.

O presidente da Câmara ressaltou aos investidores que não é o Democratas que está no governo, mas a ;direita mais extrema;. ;E, até agora, a gente não entendeu qual é essa agenda. Esse, também, é um outro problema;, frisou. ;Se a gente sabe como tirar algo que se esgotou, mas a gente ainda não sabe o que colocar no lugar, isso, também, gera certo desconforto na relação entre os Poderes, porque o deputado vai votar uma matéria como a Previdência e quer entender como essa votação vai gerar um impacto na melhoria da qualidade de vida dos seus eleitores.;

A estratégia de embate governista não é a melhor para o momento e pode impor derrotas ao governo nas próximas semanas, analisou o cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais. ;As ações de Maia são respostas à dubiedade do governo, que sinaliza de um jeito em um momento e muda a interpretação, em outro. O governo nasceu e vive do conflito, mas esse não é o momento de mantê-lo;, alertou.

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