Agência Estado
postado em 18/05/2019 11:45
O presidente Jair Bolsonaro reforçou ontem o discurso de que é vítima de um sistema corrompido ao compartilhar, por WhatsApp, um texto que afirma "que o Brasil, fora desses conchavos, é ingovernável". A mensagem foi interpretada no Congresso como mais um ataque do presidente ao que ele chama de "velha política". O texto, revelado pelo estadao.com.br, diz que o presidente sofre pressões de todas as corporações, em todos os Poderes, e que o País "está disfuncional", mas não por culpa de Bolsonaro. "Até agora (o presidente) não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou."
Procurado para comentar a mensagem, o presidente afirmou, por meio do porta-voz, Otávio do Rêgo Barros, esperar apoio da sociedade para "reverter essa situação". "Venho colocando todo meu esforço para governar o Brasil. Infelizmente, os desafios são inúmeros e a mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas. Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação e colocarmos o País de volta ao trilho do futuro promissor", disse Bolsonaro, em nota, sem detalhar a quais grupos se referia.
Mais tarde, em entrevista no Palácio do Planalto, o porta-voz afirmou que a intenção do presidente foi apenas compartilhar uma mensagem recebida, que está "em consonância com o pensamento dele".
A avaliação de auxiliares do presidente é a de que, ao convocar a sociedade para uma solução, Bolsonaro tenta manter ativas suas redes de apoio, após manifestações contrárias ao governo tomarem as ruas do País. Como resposta, aliados de Bolsonaro planejam uma marcha em apoio a ele, no dia 26.
O tom do texto compartilhado por Bolsonaro em grupos de WhatsApp também vai ao encontro do discurso adotado nos últimos dias por aliados de que há uma conspiração para "derrubar o capitão", como escreveu nesta semana o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, em sua conta no Twitter.
O próprio Bolsonaro, ao comentar o contingenciamento de verba para educação, em visita aos Estados Unidos, disse que opositores querem tirá-lo da Presidência. "Quem decide corte não sou eu. Ou querem que eu responda a um processo de impeachment no ano que vem por ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal?", perguntou.
O movimento também coincide com o avanço das investigações contra o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente. Flávio teve o sigilo bancário e fiscal quebrado pelo Tribunal de Justiça do Rio. Anteontem, o presidente disse entender que ele e seu governo são os alvos dos investigadores.
Interlocutores de Bolsonaro ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo afirmaram não saber quantas pessoas receberam a mensagem, mas relataram que ele próprio pediu para que cada um replicasse o conteúdo. Ao compartilhar o texto, escreveu: "Um texto no mínimo interessante. Para quem se preocupa em se antecipar aos fatos, sua leitura é obrigatória. Em Juiz de Fora (6/set/2018), tive um sentimento e avisei meus seguranças: Essa é a última vez que me exporei junto ao povo. O Sistema vai me matar. Com o texto abaixo cada um de vocês pode tirar suas próprias conclusões."
Repercussão
Sob reserva, parlamentares criticaram o que consideraram intenção do presidente de expor a classe política "como corrupta" para se fortalecer, o que foi mal visto no Congresso. "O Brasil está precisando de moderação", disse o líder do DEM, Elmar Nascimento (BA).
Aliados do presidente, porém, elogiaram a manifestação. "O texto é um grito de alerta para toda a população quando diz que, do jeito que são as coisas, nunca a vontade daqueles que votam será respeitada. Bolsonaro foi transparente e verdadeiro. Este é o sentimento", disse o senador Major Olímpio (SP), líder do PSL na Casa.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se esquivou de comentar. "Pergunta pra ele", respondeu Maia ao ser questionado se saberia quem está pressionando o presidente. Em discurso no Rio, sem citar o texto publicado por Bolsonaro, Maia afirmou que a polarização política e o uso das redes estão levando a contestações ao modelo de democracia representativa liberal em vários países. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.