Politica

Lideranças costuram acordo para liberar pauta de votações da Câmara

Centrão recua na proposta de recriar ministérios, e líderes consentem que a MP da reforma administrativa seja votada hoje no plenário. Não há entendimento, porém, sobre a permanência do Coaf no Ministério da Justiça

Rodolfo Costa , Luiz Calcagno
postado em 22/05/2019 06:00

Acerto foi anunciado pelo líder do PSL, Delegado Waldir (GO): 'O acordo é ter ministério único, Desenvolvimento Regional, como era antigamente'

Mesmo com as manobras da esquerda para obstruir a votação da Medida Provisória n; 870, de 2019, também conhecida como reforma administrativa, a expectativa é de que o texto vá hoje à votação no plenário da Câmara dos Deputados. A MP, que reduziu para 22 o número de ministérios, perde a validade em 3 de junho e, se isso acontecer, a Esplanada ganhará outras sete pastas, chegando a 29, mesma quantidade da gestão de Michel Temer. Reunião de lideranças da Câmara, porém, acertou ontem os pormenores para a votação desta e de outras medidas provisórias que travam a pauta da Casa.


Após articulação entre o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o governo conseguiu um acordo com o Centrão para manter o Ministério do Desenvolvimento Regional como está, ou seja, sem desmembrá-lo nas pastas de Cidades e de Integração Nacional, como prevê o relatório aprovado na comissão mista que analisou a MP. Antes de entrar na reunião, o líder do PSL, deputado Delegado Waldir (PSL-GO), garantiu: ;O acordo é ter ministério único, Desenvolvimento Regional, como era antigamente;. O entendimento entre Planalto e Congresso foi bem recebido pelo mercado financeiro, que, nas últimas semanas, vinha manifestando preocupação com a falta de sintonia entre os dois poderes. Ontem o dólar operou estável, e a bolsa subiu 2,8%.

Mas nem tudo são rosas. Delegado Waldir também afirmou que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) permaneceria com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, em vez de voltar ao Ministério da Economia, como estabeleceu o relator da MP, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), com apoio de vários parlamentares. No fim do dia, porém, a mudança parecia não se confirmar ; o que talvez seja o preço a pagar para mobilizar o Centrão, bloco político que reúne PP, PR, MDB, PSD, PRB, PTB e Solidariedade, além do DEM e PSDB, para votar junto com o PSL e outros partidos independentes a favor da MP 870.

A estratégia do grupo é ambígua. Para a sociedade, sobretudo a parcela dos eleitores mais fiéis do presidente Jair Bolsonaro que irá às ruas nas manifestações de domingo, a mensagem é de que o bloco político não quer barganhar cargos. Para o governo, porém, o recado de que o bloco não quer um posto ministerial também é um gesto tático, de ruptura. Ao votar para manter os postos ministeriais como estão, o Centrão indica que a Casa Civil precisará pensar em outras formas de contar votos, ou seja, de articular a composição de uma base aliada, ou continuará refém do diálogo ;projeto a projeto;, como vem acontecendo.

O recuo do Centrão em relação ao Coaf, entretanto, não deve ocorrer, o que é admitido pela Casa Civil. ;Se transferir o Coaf para a Economia vai nos trazer os votos para a aprovação da MP, tudo bem. Mas a ideia é manter a equipe de Moro (ministro da Justiça);, afirmou um interlocutor do governo. O líder do PR na Câmara, deputado Wellington Roberto (PB), não vê prejuízo no Coaf sob o comando do ministro Paulo Guedes. ;Nos maiores países, o órgão equivalente ao Coaf está no respectivo ministério da Economia. Acredito que a exceção é a Suécia, onde está debaixo do guarda-chuva da polícia;, disse o parlamentar.

Oposição


Líder da minoria na Câmara, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que governo e Centrão, juntos, têm força para ;atropelar a oposição;. Mas que, ainda assim, a intenção é obstruir o andamento das pautas. Para ela, a aprovação da MP n; 870, com o Coaf no Ministério da Economia, e a demarcação de terras indígenas fora da pasta da Agricultura, por exemplo, já representariam uma derrota para Bolsonaro. ;O substitutivo não agrada ao governo. Ela (a reforma) sai com aspectos completamente diferentes;, avaliou.

Jandira também disse acreditar que o governo não conseguirá aprovar a MP n; 868/2019, que altera o marco regulatório do saneamento básico e permite, entre outras medidas, a privatização das estatais de distribuição de água, e que a n; 863, que permite o aumento de capital estrangeiro nas companhias aéreas, caducará antes da votação. Já a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) disse acreditar na aprovação da MP das companhias aéreas. Ela admitiu que a do saneamento não tem consenso.

Para Joice, a MP da reforma administrativa é ;a menina dos olhos do governo;. ;É a que mais nos preocupa. Tem uma parte dos partidos de centro que acha que poderia até jogar a MP 870 para a semana que vem, que ainda dá tempo. Mas a maioria, até o presidente da Casa, Rodrigo Maia, optou por conversar com partidos para liquidar essa fatura;, disse. ;Vai ter apresentação de destaques;, completou. Ela admitiu que o governo não está disposto a ceder o Coaf, mas apresentou uma postura diferente. ;Para mim, o mais importante é votar. Se (o Coaf) ficar com o Moro, é maravilhoso. Se ficar na mão do Paulo Guedes, também é maravilhoso. Tá em casa, como o próprio Sérgio Moro já disse;, garantiu.

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