O presidente Jair Bolsonaro não participará das manifestações marcadas por aliados no domingo, 26, quando correligionários, deputados e senadores do PSL irão às ruas defender o governo. O chefe do Executivo federal também orientou os ministros de Estado a não participem dos protestos. A estratégia é evitar a associação do Palácio do Planalto aos atos.
Formalmente, os movimentos que darão sustentação aos protestos, com trios e carros de som, como o Nas Ruas, em São Paulo, prestará apoio ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, e ao pacote anticrime; à Medida Provisória (MP) 870, que deve ser votada hoje; e à reforma da Previdência. Entretanto, os apoiadores mais fiéis preparam gritos de ordem em defesa enfática ao presidente. O clima despertou preocupação entre parlamentares, que temem ataques ao Congresso.
O presidente não vai endossar pautas mais radicais, como fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), que ganharam as redes sociais na última semana. ;O governo é democrático e entende a cooperação dos Três Poderes para a elevação do nosso país;, destacou o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros. Ele garantiu que não haverá participação do governo nos atos. ;O presidente gostaria de declarar que as manifestações têm sempre caráter livre e espontâneo, especialmente essa de que estamos tratando, que deve ser pacífica, não sendo contra grupos ou instituições;, acrescentou.
A postura de Bolsonaro mostra que ele ouviu os conselheiros mais próximos. Conforme o Correio havia antecipado ontem, a equipe mais próxima atuou nos últimos dias para convencer o presidente a se manter longe das manifestações. Falta, no entanto, convencer lideranças partidárias, que fazem críticas às manifestações. Para congressistas, a postura dos filhos do presidente e de alguns dos correligionários mais próximos, como o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), que apoiam o dia de protestos, personifica o desejo do presidente. ;É um tiro no pé. Quem divide não governa;, criticou um líder partidário. ;O capital político de Bolsonaro está queimando a cada dia que passa;, analisou outro.
Análise
Segundo análise da Levels Inteligência em Relações Governamentais, nas redes sociais há um posicionamento favorável a Bolsonaro em 83,7% das postagens, contra 16,3%. Os números mostram uma reorganização da rede governista contra a narrativa de crise de governabilidade. Tais mensagens pró-presidente correspondiam a 18% na última sexta-feira, logo depois de Bolsonaro compartilhar um texto sobre conchavos e a impossibilidade de governar o Brasil fora dos acordos políticos.
A principal dúvida do Planalto é que, sem grupos de mobilização, como o MBL, as chances de o protesto de domingo fracassar são enormes. O trabalho da Levels revela, entretanto, que a turma pró-Bolsonaro nas redes publica sete tuítes por conta, em contraste com a oposição (dois tuítes por conta). Ainda é possível avaliar uma tag de cunho religioso, conclamando os apoiadores e rezarem por Bolsonaro. Assim, é possível avaliar que o clima de campanha, pelo menos nas redes, está de volta ; o problema é apostar todas as fichas nos protestos de domingo, como querem parte dos integrantes do PSL.
A questão é que há um clima de apreensão tanto no governo como na oposição. No caso de Bolsonaro, o Planalto prevê três riscos. O primeiro é o número de pessoas ficar abaixo das expectativas, deixando o governo nas cordas. Depois, com o aumento do volume das críticas ao Centrão ; mais direcionadas ao DEM ;, o risco de desarranjo na base é ainda maior. Por último, as chances de um protagonismo no domingo de grupos radiciais, mais militarizados em defesa do fechamento do Congresso e do Supremo.
Da parte da oposição, o risco é que os protestos atinjam um número razoável de pessoas, fortalecendo Bolsonaro. ;Na prática, ninguém está confortável, pois existe uma série de fatores que podem fortalecer ou fragilizar Bolsonaro no domingo;, disse um parlamentar do Centrão ouvido pela reportagem.
Brincadeira
Ontem pela manhã, o presidente participou de cerimônia de hasteamento da Bandeira Nacional no Palácio da Alvorada. A um grupo de estudantres do ensino fundamental, Bolsonaro fez uma brincadeira com o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao dizer que ele vai depender do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ;com toda a certeza;. A fala provocou risadas entre ministros e auxiliares que participaram do evento, antes da reunião do Conselho de Governo.
À tarde, no Palácio do Planalto, Bolsonaro participou de ato de Consagração do Brasil ao Imaculado Coração de Maria. A cerimônia foi idealizada pelo deputado Eros Biondini (PROS-MG), com participação da Congregação Mariana e outros grupos católicos.
;O presidente gostaria de declarar que as manifestações têm sempre caráter livre e espontâneo, especialmente essa de que estamos tratando, que deve ser pacífica, não sendo contra grupos ou instituições;
Otávio Rêgo Barros, porta-voz da Presidência