Denise Rothenburg
postado em 24/05/2019 06:00
Um bem-humorado Jair Bolsonaro entra sorrindo, pontualmente às 9h, para o seu quinto café da manhã com jornalistas desde que assumiu o mandato, no terceiro andar do Planalto, na sala de reuniões do terceiro andar. São 17 profissionais, coincidentemente, o número de seu partido. Cumprimenta um a um de forma afetuosa. À mesa, quando vão começar as perguntas, com cada um chamado pelo porta-voz, Rêgo Barros, o semblante não esconde a tensão. O presidente esfrega as mãos, o rosto. Tem a exata noção dos problemas que enfrenta, seja na economia, seja na relação com o Congresso, fruto da "mudança de paradigma" que pretende implantar no país.
[SAIBAMAIS]As soluções, porém, ainda estão em construção. Acha que vai aparecer "muita gente" na manifestação do próximo dia 26 em seu apoio. Àqueles que pretendem comparecer aos atos interessados em protestar contra o Supremo Tribunal Federal, o presidente adverte: "Quem estiver com essa pauta, estará na manifestação errada. Não fará bem ao Brasil", fazendo uma comparação com o regime de Nicolás Maduro na Venezuela: "(Um pedido desses) Está mais para Maduro do que para Jair Bolsonaro. Quem fala em fechar o STF não está alinhado com a minha política", ressaltou. "Espero não ter nenhum infiltrado de camisa verde e amarela, com faixa pedindo para fechar o Supremo".
Todos os ministros da "Casa" (Onyx Lorenzoni, da Casa Civil; general Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional; Santos Cruz, da Secretaria de Governo; e Floriano Peixoto, secretário Geral da Presidência) acompanham a conversa, que passou um pouco das 10h por causa da foto, e, na sequência, mais algumas perguntas, antes de o presidente se dirigir ao próximo compromisso ; o ministro Paulo Guedes e a direção da Fiat, que chega com anúncio de novos investimentos no Brasil. Em meio a tantos problemas, uma boa notícia. A seguir, os principais temas tratados no café.
Privatizações
Vem aí um programa de privatizações forte e em várias etapas. Citou que, para os Correios, por exemplo, já há sinal verde. O secretário que comanda a área de privatizações no Ministério da Economia, Salim Mattar, está trabalhando ainda na área de refino da Petrobras, setor que o presidente espera que ajude a reduzir o preço do gás. Mas há duas instituições que ele, pessoalmente, não pretende incluir nessa programação: Caixa Econômica e Banco do Brasil. "Não pretendo mexer", disse. E previu: "Vai ter uma grita aí". Vale lembrar que, nos Estados Unidos, o ministro Paulo Guedes havia mencionado a perspectiva de privatização do Banco do Brasil.
Coaf e MP 870
Em termos de organização de governo, o presidente tem esperanças em ver a Medida Provisória 870, que organizou o governo, aprovada até a semana que vem nas duas Casas e minimizou o fato de a Câmara ter devolvido o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ao Ministério da Economia. "Foi 1 x 1 o jogo ontem, né? Faz parte. O Parlamento tem legitimidade para mudar", disse ele, ressaltando a independência do Congresso. "Não temos base fixa. De acordo com o entendimento, votam de uma forma ou de outra. O Parlamento é um poder independente, conforme está na Constituição", disse ele.
Relação com o Congresso
Perguntado sobre a frase de segunda-feira, em que disse que o problema do país é a classe política, o presidente se coloca "no bolo". "Estamos, nós, políticos, no poder desde que saiu o (presidente João Batista) Figueiredo. Um deputado não aguenta ouvir isso daí? Está chateado? Eu me incluo no bolo. Somos todos políticos, eu sou, o Onyx é, o general Heleno é", aponta. "Meus 28 anos de Parlamento deram uma ideia do que enfrentaria nessa relação. Estamos mudando um paradigma", disse, citando como exemplo o corte de um patrocínio de R$ 800 milhões da Petrobras a uma empresa de Fórmula 1. "Quando mexe, bota gente poderosa contra. Não sou o dono da verdade, mas procurarei mudar o Brasil. Então, o tiro vem. Poderia estar reeleito deputado federal, poderia estar no Senado ou aposentado. Mas estou feliz, tive a oportunidade de escolher os meus ministros. Agora, às vezes, é um parto sem respiração. Eu tenho engolido sapos até pela fosseta lacrimal".