Politica

Centrão rechaça o ato

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 26/05/2019 04:04
Os protestos a favor do governo representam uma aposta de alto risco ao presidente Jair Bolsonaro. No melhor dos cenários, com demonstração de apoio ; a depender do volume de manifestantes nas ruas ;, a força da gestão bolsonarista continua como está. Com alguma representatividade popular, mas fragilizada em relação ao Congresso. No entanto, no pior dos cenários ; com outra baixa adesão de populares ;, o isolamento do capitão reformado deve ficar mais evidente e fortalecer o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), principais alvos dos atos de hoje.

As manifestações são democráticas, mas vistas por congressistas como uma estratégia do governo de jogar os poderes contra o povo. É algo que, historicamente, não dá certo, alerta o deputado Wellington Roberto (PR-PB), líder do partido integrante do Centrão na Câmara. ;Se vitimizar e fazer essa queda de braço jogando o Congresso contra a sociedade não é algo que garante a sobrevivência de um governo;, pondera. Sem construir maioria e apresentar uma agenda econômica, a cobrança virá, cedo ou tarde. ;O povo não se alimenta de briga e redes sociais. Se o presidente não fizer algo, o caos e o tsunami ao qual se referiu virá.;

A postura da busca pelo confronto feita por Bolsonaro faz parlamentares e especialistas o associarem aos ex-presidentes Jânio Quadros, Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff. O primeiro renunciou e os outros dois sofreram impeachment, respectivamente. O economista e cientista político Ricardo Sennes, sócio-diretor da consultoria Prospectiva, avalia similaridades entres os quatro e o contexto político-econômico: a visão autoritária de interpretar a eleição como mandato de caráter absoluto para impor a própria agenda; fragmentação partidária; crise fiscal; e crise econômica.

A pulverização de partidos e a crise fiscal impõem a Bolsonaro um quadro ainda pior em relação aos outros ex-presidentes. Os dois fatores são agravados pela inflexibilidade no diálogo com o Congresso, a visão autoritária de poderes amplos para imposição da agenda analisada por Sennes. Se não mudar o relacionamento, o governo caminha para uma paralisia decisória crônica, sobretudo quando a reforma da Previdência for aprovada. ;O presidente não teria mais uma pauta de convergência com o Congresso;, justifica. O aprofundamento das investigações sobre o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, poderia, somado a tudo isso, ser o estopim para uma crise maior: a interrupção de mandato.

Interrupção

No início do mandato, a Prospectiva calculava uma probabilidade de 5% de interrupção do mandato de Bolsonaro. Hoje, essa taxa está em 15%. A consultoria fez previsão semelhante em relação à gestão Dilma. A previsão era de que ela romperia com o PT e sofreria impeachment na metade do primeiro mandato. ;Dado seu ;DNA; e a natureza do grupo mais próximo a ele, é pouco provável imaginar que dê uma guinada e construa maioria;, explica.

Sem um comportamento político flexível de Bolsonaro, o cientista político e sociólogo Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), prevê, a médio prazo, em meados de 2020, dois cenários. ;Ou ele ;derrota; o Parlamento e o Judiciário e abre uma trilha de fazer do Brasil uma Venezuela, como fez Hugo Chávez. Ou o Congresso e o Judiciário ;derrotam; Bolsonaro e ele tem o mesmo destino que Jânio, Collor e Dilma;, avalia.

O clima político no Congresso não é propenso ao impeachment. No entanto, no cenário mais pessimista, em que Bolsonaro não renuncia e persiste na relação atual com o Congresso, essa é uma possibilidade vislumbrada no cenário mais pessimista previsto pelo historiador e cientista político José Murilo de Carvalho, professor emérito da UFRJ e membro da Academia Brasileira de Letras. ;Sem entendimento com o Congresso cujos membros foram eleitos como ele o foi, as reformas não virão e sua base de apoio vai murchar, como já está murchando. O cenário para um pedido de impeachment estará criado e, sem base no Congresso, ele poderá ter o destino de Dilma;, sustenta.




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