Beatriz Roscoe*
postado em 29/05/2019 17:16
Em entrevista ao CB.Poder, uma parceria da TV Brasília e do Correio, o presidente da BMJ consultoria Wagner Parente falou sobre o governo de Jair Bolsonaro e destacou o conflito entre os poderes como a principal dificuldade. Segundo ele, construir uma relação de confiança entre os poderes é a base para que haja uma tomada de decisão saudável em uma democracia.
;O que falta é a confiança entre os poderes;, disse. Segundo ele, essa briga está afundando a economia e frustrando o mercado. ;Havia uma expectativa muito grande após as eleições de que o país voltasse para os eixos, aprovasse reformas e o que aconteceu foi uma falta de organização muito grande do governo no congresso;, disse. Para Wagner, a falta de organização levou algumas medidas a ficarem empacadas no parlamento, o que fez com que o governo tentasse trabalhar com alguns atos infralegais como os decretos. ;No entanto, as medidas que tendem a impactar a economia precisam passar pela aprovação do congresso. Por isso precisa existir um diálogo, uma confiança;.
Na análise de Wagner, o executivo sempre foi propositivo no Brasil e a atuação de Bolsonaro enquanto deputado sempre foi pautada não pela proposição, mas pela defesa de ideologias e práticas. ;No momento em que ele precisa ser protagonista, existe ali um tempo de aprendizado para que ele consiga propor alguma coisa. No Brasil não se consegue impor algo goela a baixo do congresso, é preciso negociar e existe uma inexperiência do presidente;, afirmou.
Para Parente, geralmente avalia-se os governos por meio de uma régua que corresponde à capacidade do governo mover a base. ;Não me parece que o governo Bolsonaro quer ter sua base e isso é muito desgastante para o governo no congresso. Tenho pena das lideranças do governo no Senado e na Câmara, que precisam se mobilizar e se esforçar para conseguir votos a cada votação. Isso é muito desgastante;.
Segundo Parente, a reforma da previdência tem mais dificuldade do que se era imaginado pelo governo. ;O governo acreditou que a aprovação da reforma seria automática, e por isso demorou a buscar articulação;, declarou. Ele afirma que a principal pauta econômica é a reforma previdenciária, mas que não pode ser apenas ela. De acordo com Wagner, apesar de a reforma ser um importante sinal dos investidores, outras reformas também são importantes: ;A reforma da previdência é importante mas não impacta imediatamente a economia. Já a tributária tem efeito em curto período de tempo, e o projeto de reforma tributária foi gestada pela Câmara. Foi uma reforma muito mais ampla e complexa do que a apresentada pelo poder executivo;.
Sobre as manifestações ocorridas no último domingo, Wagner Parente acredita que foram arriscadas para o governo. Segundo ele, caso não fosse expressiva, poderia gerar um grande desgaste. No entanto, em sua visão as manifestações foram relevantes, mas o presidente Jair Bolsonaro não sai nem fragilizado nem fortalecido após o ato. ;O povo que elegeu o governo de Bolsonaro não foi somente o que foi para a rua. Ele venceu as eleições com certa gordura, e essa gordura já não existe mais, ele perdeu apoiadores já nos 100 primeiros dias de governo. A forma de governar do presidente é pressionando o congresso, e sem a população, vai tudo por água abaixo;.
Na avaliação de Parente, o governo precisa melhorar a relação com os outros poderes, e a primeira coisa a ser feita é que o presidente pare de gerar crises para o próprio governo. ;Aquela história de velha política, nova política, isso não ajuda o governo em nada. Ele coloca todo mundo que não pensa igual em um lado ruim, de quem não presta;. De acordo com Wagner, o Brasil já viu o que aconteceu quando o governo não dialoga com o congresso (no governo de Dilma Rousseff), e se o governo Bolsonaro não melhorar a relação com o parlamento, continuará tendo dificuldades.