O governo não deu o braço a torcer e, sem mea-culpa, minimizou o recuo de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Sem sequer citar o resultado, o presidente Jair Bolsonaro disse, pela manhã, nas redes sociais e, à noite, em transmissão ao vivo em uma dessas mídias, que ;faz o dever de casa;. Afirmou que ele e os presidentes dos demais Poderes terão a ;oportunidade ímpar; de fazer história ao lado da população brasileira. As mensagens foram bem-avaliadas por congressistas ; com quem o Palácio do Planalto divide a responsabilidade de aprovação das agendas econômicas ; pela postura de tentar evitar o tensionamento com o parlamento.
A resposta de Bolsonaro à estagnação econômica foi articulada por conselheiros e ministros palacianos. Enquanto o titular do Ministério da Economia, Paulo Guedes, declarou que trabalha para liberar recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o Planalto procurou apresentar medidas de curto prazo e não deixar toda a carga sobre a reforma da Previdência. Colocou a máquina estatal para, nas entrelinhas, anunciar benfeitorias que o governo planeja para a geração de empregos e a distribuição de renda. O porta-voz escolhido foi o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto.
Em cerimônia no Planalto, o ministro anunciou que o governo vai apresentar mudanças no programa Minha Casa, Minha Vida na semana que vem. A ideia é ampliar quatro faixas de financiamento dessa ação, que é uma das principais políticas públicas de Estado. É bem-vista politicamente e socialmente, por atacar o deficit habitacional e gerar empregos na indústria da construção civil. A associação da imagem de lançamentos de unidades imobiliárias a deputados e senadores aliados ao governo é uma prática comum desde a criação do programa, em 2009.
Dentro da estratégia de Canuto está, também, o anúncio de um novo nome para o programa. ;É um novo governo, um novo programa. Ele está sendo reformulado. Então, não apenas mudar o nome por mudar. É uma nova visão;, justificou. O aumento do número de faixas e de categorias para atender a diferentes demandas é uma das metas do ministro. Ele avaliou que, após 10 anos de execução, o programa apresenta uma série de problemas que precisam ser corrigidos, como comercialização irregular de lotes, invasão das unidades por facções criminosas e conflitos sociais nos condomínios.
Estímulo
Os detalhes do ;novo Minha Casa, Minha Vida; serão apresentados por Canuto durante audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados, na terça-feira. Os anúncios foram feitos em cerimônia de lançamento da Política Nacional de Desenvolvimento Regional que, por sinal, também gera bônus ao governo, por prever investimentos em obras no Nordeste, no Centro-Oeste e na Amazônia. ;A gente quer investir em infraestrutura, educação e inovação. Há muitas cadeias produtivas que já existem nessas regiões. A gente quer identificar qual é o investimento prioritário para que essa cadeia produtiva tenha maior agregação de valor, gere mais renda, mais riqueza;, destacou.As mudanças na política habitacional, bem como as medidas de entrega e conclusão de obras e investimentos em infraestrutura ; a exemplo do Programa de Parceria de Investimentos (PPI) ;, são respostas que o governo tenta dar de estímulo à economia, enquanto a reforma da Previdência não é aprovada na Câmara. Sem a aprovação, a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), disse ser ;absolutamente compreensível; o resultado do PIB. ;Nós sabemos que, para gerar emprego e ter investimento, a gente tem de destravar o país. E o primeiro passo é a nova Previdência;, justificou.
Confiança
Na tradicional live, Bolsonaro classificou a articulação pela aprovação da reforma da Previdência como uma ;encruzilhada;, mas ressaltou que, mesmo sem a aprovação da matéria, a confiança do investidor está aumentando. Ele disse que a Scania está investindo R$ 1,4 bilhão em São Bernardo do Campo (SP); a Hyundai, R$ 125 milhões em Piracicaba (SP); a General Motors (GM), R$ 10 bilhões em fábricas paulistas; o Carrefour, R$ 2 bilhões no atacado e no varejo; a Honda, R$ 500 milhões em fábrica de motos em Manaus.