Politica

Especialistas veem gestão preocupante

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 03/06/2019 04:04
Günther Mros, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), afirmou que, além de uma deficiente articulação com o Congresso, a política externa do governo pode estar enfrentando resistências também em razão de seu autodirecionamento, sob o comando do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Na opinião de Mros, é uma contradição do próprio presidente Bolsonaro, que, durante a campanha eleitoral, criticava o ;viés ideológico; da diplomacia dos governos passados.

;Anteriormente, havia, nas escolhas de chanceleres e de embaixadores, um cálculo que ultrapassava a agenda de governo. Eram decisões de Estado;, disse o docente. Ele criticou também a ideia do presidente de contar com os serviços dos embaixadores para melhorar a sua imagem pessoal. ;Os embaixadores têm a função de representar o Estado brasileiro. É com a imagem do país, não com a do presidente, que eles devem se preocupar. Essa preocupação dele demonstra que a atividade dos embaixadores sofrerá um direcionamento inadequado à função que eles deveriam exercer;, argumentou. ;Essa não é a postura de um estadista, porque o presidente confunde, propositalmente ou não, questões de Estado com seus interesses pessoais. Um clima de constante campanha eleitoral.;

Para o professor Juliano da Silva Cortinhas, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (Irel/UnB), a existência de postos diplomáticos importantes sem titulares é ;mais um sinal da incapacidade política e de gestão; do governo Bolsonaro e, mais especificamente, do ministro Ernesto Araújo. ;A diplomacia brasileira vive um período assustador com a gestão do ministro Ernesto Araújo, um diplomata que não tinha status anterior para ocupar a função de chanceler brasileiro, que era e continua sendo uma figura cercada de um obscurantismo intelectual, pois crê em um mundo que não tem respaldo na realidade;, analisou. ;A ideia de que todo o sistema internacional continua vivendo sob a égide da Guerra Fria e que há uma disputa entre capitalismo e o comunismo, que os comunistas alimentam o globalismo para se sobrepor aos ideais liberais e ocidentais, enfim, é uma crença que está totalmente desconectada da realidade das relações internacionais.; Para o especialista, o chanceler brasileiro tem um ;descompromisso total com o conhecimento científico e com as tradições históricas da política externa brasileira;.

Cortinhas também disse que, em contato com diversos diplomatas brasileiros, tomou conhecimento de que há uma celeuma interna no Itamaraty, em que servidores mais experientes tentam demover o ministro Araújo de ideias nada condizentes com a tradição diplomática do país. ;Ele é um ministro que não tem capacidade de conduzir os seus pares, porque não tem sabedoria, não tem experiência para isso e também porque vejo poucos diplomatas com intenção de serem comandados por ele;. (JV)

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