Agência Estado
postado em 08/06/2019 08:57
Eleito na onda que levou Jair Bolsonaro ao Planalto, em 2018, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que, em vez de gastar energia com temas menores, Bolsonaro deveria "se preocupar com coisas mais importantes". Como exemplo, citou o auxílio financeiro aos Estados e a revisão do pacto federativo, uma das promessas de campanha do presidente. "Pauta de governo é pauta relevante", afirmou.
Durante a campanha o senhor disse que não é um "mini-Bolsonaro". O que difere o senhor do presidente?
Foi a minha primeira entrevista depois que anunciei a candidatura. Alguns colegas disseram: "Puxa vida, perdemos a eleição, você tem de grudar sua imagem na do Bolsonaro". Acontece que todos nós temos diferenças. Eu nunca fui político, Bolsonaro já era um político com 28 anos (de mandatos), tinha experiência no Legislativo, sempre foi muito ligado, a vida toda, à política. Também não defendo com unhas e dentes... Há algumas pessoas que têm ojeriza à defesa de minorias. Mas, se você é de extrema-direita, pode estar criando uma minoria.
E na prática administrativa?
Não entendo que um governador, por exemplo, deva se envolver em questões de menor relevância.
Por exemplo?
Um exemplo é a questão do homeschooling (ensino residencial). É visível que esse não é um programa de governo para a Educação. Não sou contra homeschooling, mas não entendo que deva ser a bandeira de um chefe de Poder. O grande problema da educação brasileira não é essa pequena parcela que quer educar os filhos em casa, são as escolas sem laboratório, tecnologia e internet, com os telhados caindo, são as crianças em estado de vulnerabilidade que não conseguem chegar à aula, é a falta de transporte público e de estrutura rodoviária.
Isso vale para outras áreas?
Eu entendo que as pautas de um estadista têm de ser aquelas que atendam à grande maioria das demandas por ações do Estado. Pauta de governo é pauta relevante.
Aumentar o limite de pontos para suspensão da carteira de motorista, por exemplo, é pauta de estadista?
Eu acho que não. O governo tem de se preocupar com coisas mais importantes como, por exemplo, o auxílio financeiro aos Estados. Estamos vendo no fórum dos governadores que os Estados não têm como pagar suas contas.
Como o senhor avalia estes primeiros cinco meses do governo Bolsonaro na economia?
O governo fez as propostas. Talvez não tenha caminhado rapidamente como a gente queria, esperava, já no primeiro semestre fazer todas as mudanças. Houve dificuldades políticas de encaminhamento. Mas o governo está fazendo a parte dele. Penso que logo depois que a nova Previdência for aprovada, o governo deve encaminhar a reforma tributária. Mas o auxílio aos Estados não pode esperar nem ser condicionado a que estas reformas aconteçam. Tem de ser concomitante.
O senhor vetou um projeto de lei que permitia a servidores trans usar o nome social no serviço público por razões ideológicas?
De forma alguma. Vetei o projeto por razões técnicas e, dez dias depois, refiz outro muito mais completo do que o anterior, por meio de decreto do Executivo. A militância de extrema-direita às vezes não entende como a gente pensa. Recebi as Mães pela Diversidade aqui no gabinete, postei uma foto na minha rede social com a bandeira da diversidade e sempre entendi o problema que elas enfrentam quanto à violência contra os filhos. Depois recebi o MST. Até me perguntaram se era "fake news". Em Santa Catarina, temos 20 mil famílias assentadas. Eles existem. Não são uma ficção. Um estadista tem de governar para todas as pessoas.
Houve alguma reação?
Acabei de participar de um evento do Ministério Público Federal sobre inclusão, acolhimento e interiorização dos imigrantes. A política da xenofobia muitas vezes é plantada por gente que se diz de extrema-direita. A gente sabe que nosso Estado não pode ser xenófobo, ele é resultado da mistura de povos, por isso ele é bom. Mas, às vezes, as pessoas cobram da gente como se uma ideologia de extrema-direita fosse prevalecer na ação de governo.
Por que o senhor desistiu de nomear dois técnicos para o segundo escalão que fizeram postagens críticas a Bolsonaro?
Não foi só esse o conteúdo das publicações. Havia, claramente, um apoio nosso ao governo Bolsonaro e, sendo do mesmo partido, explicitamente apoiando o governo, embora seja crítico de algumas ações. O meu corpo de funcionários tem de acreditar nisso também, nesse alinhamento com o governo federal.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.