postado em 10/06/2019 04:03
Os maiores interessados na legalização dos jogos de aposta deixam de fora uma parte importante do debate: os prejuízos que cassinos e casas de jogos trazem à população em decorrência do vício. Para Carlos Salgado, psiquiatra e conselheiro da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), nos moldes do que ocorre com o cigarro e as bebidas alcoólicas, os danos provocados pela compulsão tenderão a trazer mais ônus para o Estado. Isso porque atingem os jogadores e seu entorno familiar.
Salgado explica que, o cérebro do jogador compulsivo funciona de modo semelhante ao de pessoas dependentes de álcool, cigarro e outras drogas. Para o psiquiatra, legalizar os jogos fará com que mais pessoas que sofrem dessa tendência de comportamento se tornem dependentes.
;A doença tem sede no sistema de reconhecimento e gratificação que temos naturalmente. É comum usuários de jogo serem usuários, também, de álcool e outras drogas. A pessoa nasce com essa a tendência. É um sorteio na vida;, explica Salgado. ;A casa de jogo franqueada, liberada, propicia a chance de mais gente se expor e descobrir uma tendência oculta a essa adesão de forma patológica. Do ponto de vista psiquiátrico, medidas restritivas são importantes;, acrescenta.
De acordo com ele, a restrição de jogos no país faz com que a ocorrência de novos casos no Brasil seja menor. ;A tendência de liberar o cassino é sob o pretexto de emprego, economia e turismo, mas é uma porta para as pessoas ficarem presas no jogo. Jogadores mais conscientes, dizem que só duas pessoas ganham: o dono do cassino e o mentiroso. Não tem como ganhar. A coisa é montada para que o sujeito perca. Há um domínio do resultado por parte da empresa;, alerta.
Laerte (nome fictício) perdeu R$ 300 mil em decorrência do vício em bingo. Por pouco não perdeu o emprego e a família. Integrante do Jogadores Anônimos do Brasil de João Pessoa (PB) ele afirma, com um certo orgulho, que está há sete anos sem jogar. ;A vida perde o valor. O aniversário de um filho, uma filha, uma data festiva, um compromisso religioso, tudo isso perde o sentido. Você até pode estar presente, mas, mentalmente, quer ir para a casa do jogo. Seus hormônios do prazer só funcionam assim;, conta.