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''Quem sabe?'', diz Marco Aurélio sobre anulação de processos da Lava-Jato

Ministro do STF não descarta possibilidade de que a revelação de conversas entre Moro e Dallagnol leve à anulação de processos, mas ressaltou que ainda é cedo para prever os desdobramentos do caso

Apesar de entender que é cedo para prever os desdobramentos que virão da divulgação de conversas entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), não descartou, nesta segunda-feira, a possibilidade de anulação dos processos resultantes da operação, o que inclui as acusações e condenações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dezenas de outros políticos.

"Quem sabe? Ainda dependerá da provocação do interessado e também do órgão julgador. É muito cedo para imaginar, entender os desdobramentos", afirmou Marco Aurélio, que também disse ver a possibilidade de o Supremo ser acionado para analisar o caso. "Poderá (chegar no STF). Se observada a organicidade do direito, poderá. Mas não com queima de etapas. Desde 1988 não se tem mais a vocatória que o Supremo pensava", disse.

O ministro criticou ainda a forma de agir de Moro, que na época dos diálogos era responsável por julgar as ações da Lava-Jato, e os procuradores responsáveis pela operação. "Vejo com péssimo olhos. O diálogo a ser mantido pelo juiz com o Ministério Público, que é Estado acusador, e com os advogados de defesa deve ocorrer no processo. Ou seja, de forma transparente e pública", avaliou.

Troca de mensagens

Os diálogos entre Moro e Dallagnol e entre os procuradores entre si foram publicados pelo The Intercept Brasil e, segundo o site, mostram o ex-juiz e Dallagnol em uma constante troca de mensagens, que incluiria sugestões de Moro sobre como proceder nas investigações e até mesmo a indicação de possíveis testemunhas. As conversas teriam ocorrido antes da primeira condenação do ex-presidente Lula, a quem Moro sentenciou a mais de nove anos de prisão.

Após divulgar nota no domingo, na qual afirmava que não existia anormalidade nos diálogos publicados pelo Intercept, Sérgio Moro negou, nesta segunda-feira, que tenha dado qualquer tipo de orientação à força-tarefa da Lava-Jato. "Não tem nenhuma orientação ali naquelas mensagens", disse o ministro.