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Hacker atacou mais autoridades

Aumenta o número de agentes públicos que tiveram o celular invadido por meio de ataques virtuais. Além de Sérgio Moro e procuradores da Lava-Jato, há juízes, desembargador e ex-procurador. Até ministro do STF é mencionado em conversas divulgadas

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 13/06/2019 04:14
Sérgio Moro e Jair Bolsonaro tiveram outro encontro ontem, dessa vez com a participação de diretor-geral da Polícia Federal



No momento em que a Polícia Federal começa a investigar o hackeamento e a divulgação de conversas entre o então juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, e o coordenador da Operação Lava-Jato, Deltan Dallagnol, surgem mais autoridades que foram vítimas da investida criminosa. A interceptação atingiu juízes e procuradores e chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Além de Moro e Dallagnol, foram alvo de ataques a juíza que herdou os processos da Lava-Jato em Curitiba, Gabriela Hardt; o desembargador Abel Gomes, relator da força-tarefa no Rio de Janeiro; o juiz Flávio de Oliveira Lucas, também do Rio; o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot; os procuradores Januário Peludo, Paulo Galvão, Thaméa Danelon, Ronaldo Pinheiro de Queiroz, Danilo Dias, Eduardo El Haje, Andrey Borges Mendonça e Marcelo Weitzel, além do jornalista Gabriel Mascarenhas.

Outros dois procuradores que atuaram como auxiliares de Janot disseram ter sido vítimas de ataques cibernéticos, mas preferiram não ter o nome revelado. Em nota, a Justiça Federal confirmou ao Correio que a substituta de Moro foi grampeada e que ;o fato foi imediatamente comunicado à PF;. De acordo com o texto, a juíza não identificou informações pessoais que possam ter sido interceptadas.

Advogados de condenados pela Lava-Jato alegam que as mensagens atribuídas a Moro e Dallagnol indicariam uma atuação combinada no processo que resultou na condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que abriria espaço para questionamentos sobre credibilidade da maior operação de combate à corrupção no país.

Na terça-feira à noite, um suposto hacker entrou em contato com José Robalinho Cavalcanti, ex-presidente da Associação Nacional de Procuradores (ANPR), fazendo-se passar pelo procurador militar Marcelo Weitzel, que teve o celular invadido. Apenas ao fim da conversa Robalinho percebeu que estava conversando com um impostor. ;Ele me mandou um áudio, que, segundo ele, era muito bombástico contra a Lava-Jato. Eu estava em um jantar e não pude ouvir imediatamente. O áudio me pareceu a voz de um colega. Mas, diferentemente do que o falso Marcelo disse, eu respondi, de forma técnica, que não havia nada demais. Ele ainda discordou de mim, e, ao fim, disse: abraço do hacker;, contou Robalinho.

O mesmo invasor usou a conta de Weitzel para enviar mensagens de texto para o grupo do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) no Telegram. No desdobramento mais recente, o trecho de uma mensagem que teria sido trocada entre Dallagnol e Moro, publicado pela rádio Band News, cita o ministro do STF, Luiz Fux. Na conversa, o procurador diz ter ouvido do ministro que pode ;contar com ele para o que precisar;. No ano passado, Fux concedeu uma liminar para impedir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder entrevistas durante o cumprimento da pena. Segundo a Band News, ao saber da notícia, Moro respondeu: ;In Fux we trust;, que, em tradução literal, significa: em Fux nós confiamos. O conteúdo foi repassado à emissora pelo site The Intercept. A assessoria do STF foi procurada para comentar o caso, mas não se manifestou.

Em meio à crise deflagrada pelos ataques, procuradores discutem as mais variadas teses sobre as origens das invasões cibernéticas. Alguns até levantam suspeitas sobre o envolvimento da inteligência russa, o que não foi comprovado. Entre os alvos prevalece a ideia de que o hackeamento é uma ação orquestrada contra a Lava-Jato.

Encontro

O presidente Jair Bolsonaro recebeu Moro e o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ontem. Foi o segundo encontro do chefe do Planalto com o ministro, nesta semana, imediatamente após a divulgação das conversas, e a primeira reunião oficial com o diretor da PF. Eles marcaram um novo encontro para hoje à tarde. Ontem, os dois assistiram ao jogo entre CSA e Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro, no Estádio Mané Garrincha.

Procurado pelo Correio, o Planalto não comentou o que foi discutido no encontro entre os três. A PF também preferiu não falar sobre o assunto. Interlocutores do Palácio, no entanto, disseram à reportagem que o assunto teria sido justamente a divulgação dos áudios, além de uma tentativa do ministro, do presidente e do diretor da polícia de desenvolver um mecanismo combinado e eficaz para evitar novos ataques a autoridades.

Alvo de ataques

; Sérgio Moro ex-juiz e atual ministro da Justiça
; Deltan Dallagnol procurador
; Gabriela Hardt juíza
; Flávio de Oliveira Lucas juiz
; Abel Gomes desembargador
; Rodrigo Janot ex-procurador-geral da República
; Januário Peludo procurador
; Paulo Galvão procurador
; Thaméa Danelon procuradora
; Ronaldo Pinheiro de Queiroz procurador
; Danilo Dias procurador
; Eduardo El Haje procurador
; Andrey Borges Mendonça procurador
; Marcelo Weitzel procurador
; Gabriel Mascarenhas jornalista

No Twitter, Moro cita ;escândalos falsos;

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou que hackers e ;escândalos falsos; não vão interferir em sua ;missão; no governo. ;Hackers de juízes, procuradores, jornalistas e, talvez, parlamentares, bem como escândalos falsos, não vão interferir na missão;, escreveu no Twitter. Ontem, os presidentes de diversas comissões da Câmara fecharam um acordo para aglutinar em um só os vários requerimentos de convocação para o ministro prestar esclarecimentos sobre as conversas divulgadas pelo site The Intercept Brasil. Segundo deputados, ficou acertado entre as comissões que Moro vai à Câmara no dia 26, a última quarta-feira antes do início do recesso parlamentar.

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