Politica

Ponto a ponto com Bolsonaro: ''Não tem erro grave no governo''

Presidente avalia que sua gestão não tem falha até o momento, sai em defesa de Moro e nega embate entre ala ideológica e militar. Ele também diz acreditar na aprovação da PEC da Previdência e afirma que as próximas prioridades serão reforma tributária e pacote anticrime

Rodolfo Costa
postado em 15/06/2019 07:00

Presidente avalia que sua gestão não tem falha até o momento, sai em defesa de Moro e nega embate entre ala ideológica e militar. Ele também diz acreditar na aprovação da PEC da Previdência e afirma que as próximas prioridades serão reforma tributária e pacote anticrime

Santos Cruz

Eu o conheço desde 1980. É um grande amigo. Tive bom contato com ele antes e como presidente. Cumpriu sua missão, mas alguns problemas aconteceram. Chegou a um ponto de separação amigável, e continua no meu coração. Escreveu uma nota educada, gentil e verdadeira. O sucessor dele, general Ramos, virá no lugar. Somos amigos desde 1973, e ele tem suas qualidades também. Os colegas dele de São Paulo sabem como ele trata a imprensa. Ramos vai ajudar e muito na interlocução, e está tudo em paz entre nós três.

Futuro do general

Não demonstrou vontade de ocupar espaço no governo. É um combatente. A demissão gera algum constrangimento, dado nosso passado, mas estamos bem. Uma vantagem do Ramos em relação ao Santos Cruz é que ele foi assessor parlamentar. Vai ajudar muito na articulação política.

Articulação política

A Casa Civil já foi comandada pela Dilma (Rousseff) e pela Berenice Guerra. Ninguém duvidava se elas tinham capacidade ou não. Onyx (Lorenzoni, atual ministro) é muito melhor do que elas. Por que antes tinha menos ruídos? Por saliva ou (oferta de) estatais e ministérios? Tenho compromisso com a campanha. Esses dias, um parlamentar, que não vou dizer o nome, disse que queria um ministério, e eu disse que precisaria tirar o (Ricardo) Salles e colocaria o Zequinha Sarney (secretário do Meio Ambiente do DF), um rival (político). Resolvemos cumprir o tratado na campanha e escolher ministérios técnicos. E aí o colega não quis mais falar de ministérios. Nosso entendimento é por grande maioria. Passam por essas questões.

Decreto das armas

A questão das armas, a derrota no Senado, não é minha. Estou cumprindo com o Estatuto do Desarmamento. Mas tem gente que é doutrinado e jamais vai admitir. Sempre estarão contra algo encaminhado pelo governo.

Ideólogos x militares

Isso nunca existiu. Mas é natural se especular. Não vi tuitada do Olavo nem críticas (depois da demissão do Santos Cruz). Ideologia ninguém duvida aqui. Mostrei o que havia mostrado antes das eleições: Deus, família e Brasil. Certas questões, temos que valorizar. Nós perdemos a cultura de valorizar família e valores. São questões minhas que, às vezes, saem causas em relação aos militares e outras em relação a Olavo, que ajudou a abrir as portas do pensamento conservador.

Reforma da Previdência

Nossa base é diferente de antigamente. Tiraram BPC (Benefício de Prestação Continuada), aposentadoria rural, estados e municípios. Tem governador que quer aprovar, mas sem o voto da sua bancada. Nosso foco é a União e, se forçar a barra, não aprova nada. É natural ceder e aprovar o que for possível. Sinalizar que fizeram o possível. Fui ao jantar em São Paulo com (Paulo) Skaf (presidente da Fiesp). O mais importante foi o jantar, com empresários de patrimônio acumulado ;acima de trilhão; e que querem segurança (jurídica para investir). E falo muito com o Vitor Hugo (líder do governo na Câmara). Indicamos o que pode negociar. Mas não temos poder de falar não ou sim.

Próximas prioridades

São a reforma tributária e o pacote anticrime do Moro.

Política externa

Tem o acordo (comercial) entre Mercosul e União Europeia que está para sair. Falta uma coisinha ou outra, como o acordo com os vinicultores. O que podemos fazer é agregar mais valor com quem produzimos aqui. Buscaremos também ajudar os vizinhos. Já temos a Venezuela, que é um problema complicadíssimo. Em relação à China, por exemplo, não tenho problema nenhum.

Lula

Acho que presidiário presta depoimento, e não dá entrevista (o ex-presidente colocou em dúvida, numa entrevista, o atentado sofrido por Bolsonaro), mas tudo bem. Eu iria para um hospital que não fui eu que decidi, inclusive? Eu posso mostrar aqui a barriga aberta para vocês, sem problema nenhum. Agora, devolveria a pergunta a Lula: e o Celso Daniel (prefeito de Santo André), quem matou? Ou melhor, antes de matar, torturou. Porque qualquer legista sabe que hematoma só aparece em quem está vivo. Depois de morto, pode chutar o cadáver à vontade que não aparece hematoma. E ele apareceu cheio de hematoma e executado, lá em 2002. Agora, não vou entrar nesse debate com Lula, botar em dúvida se eu armei (o atentado). Alguém acha que eu teria grana e influência para armar um negócio nesse sentido? Ele fala que não sangrou. Lógico, na barriga do Lula, uma facada sairia muita cachaça dali, com toda certeza. Mas, geralmente, o local da facada, como foi no intestino, sangra para dentro. Eu me emociono quando falo desse assunto, porque senti a morte de perto. Agora, armou? Pelo amor de Deus. Na última cirurgia, fiquei urrando três dias depois dela, porque não tinha nada ali no hospital que me deixasse de sofrer dor naquele momento, um mal-estar terrível. Três cirurgias bastante complicadas, e não tenho de dar satisfações a esse cara. Esse cara está fazendo jogo que interessa a ele, tentando desacreditar todo mundo. Poderia começar a acreditar nele quando assumisse tudo o que fez no passado, assaltando aqui o poder público e buscando um poder absoluto em que, mais do que a grana roubada do povo brasileiro, acabaria roubando a liberdade da nossa população.

Carlos Bolsonaro

Dos três filhos, é o que mais conversa comigo. Ele levantou alguns problemas no passado, e eu falo o seguinte: tem de dar um tempo para que, ao dar o cartão vermelho para essa pessoa, não ter dúvidas. E tem que deixar a pessoa se enrolar um pouco mais, no linguajar popular. E ele é imediatista. Converso com ele, mas não sigo 100% o que ele fala. Exagera porque quer ver o caso resolvido rapidamente, mas está contido esse ímpeto por parte dele, até porque falo com ele que uma palavra, uma frase equivocada, pode mexer na Bolsa (de valores), mexe na vida de milhões de pessoas. Pode mexer em uma relação internacional do Brasil.

Moro

Acredito nele. Moro não inventou nada. Ele não precisava inventar provas. Tem um programa que me foi apresentado, há poucas semanas, em que é possível forjar conversas. Continuo acreditando no Moro. Acredito nele, e o Brasil deve muito a ele, que prendeu corruptos e levou ao ponto de inflexão na questão da corrupção.

Reforma da Previdência

Não acredito que seremos surpreendidos nisso (a não aprovação do texto). Mas é igual no futebol. Teve um 4 x 3 em que o meu Palmeiras abriu 3 x 0 e levou o 4 x 3. As meninas do Brasil (na Copa do Mundo de futebol feminino), que fizeram 2 x 0 e levaram a virada. Não podemos nunca menosprezar a possibilidade de o inimigo estar mais forte e que a gente vai perder, mas não acredito nessa possibilidade.

Erros e acertos

Grande acerto foi o time de ministros que conversam entre si. O erro foi tomar esse café da manhã com vocês (risos). Brincadeira. Não tem erro grave. Sou bom de tempo. Não acredito em erro grave até o momento.

Despacho de bagagem

Estou avaliando como sancionar (a MP n; 863/2018). Uma opção é sancionar sem vetos e assinar uma outra medida provisória regulando isso (a gratuidade do despacho de malas).

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