A saída do economista Joaquim Levy do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é mais um sinal da tônica do governo de Jair Bolsonaro. Uma gestão marcada por decisões pessoais e, por vezes, destemperadas. Foi assim nas demissões de Gustavo Bebianno e Santos Cruz, ambos, respectivamente, ex-ministros da Secretaria-Geral e da Secretaria de Governo. O mesmo individualismo ceifou, também, o general Juarez Cunha da Presidência dos Correios.
É o jeito Bolsonaro de governar. No sábado, ao criticar Levy, disse que ;governo tem que ser assim;, no sentido de ter pulso firme ao tomar medidas em relação a indicados, ainda que em postos estratégicos. Sobretudo ;gente suspeita em cargos importantes;, ao comentar sobre o agora ex-presidente do BNDES.
Característica de Bolsonaro, essa forma de agir é classificada como insustentável a médio e longo prazos pelo cientista político Geraldo Tadeu, professor e coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). ;Governos não vivem quatro anos nomeando e demitindo pessoas semanalmente. Isso mostra a incapacidade de Bolsonaro de se expandir além das suas fronteiras mais estritas;, critica.
De acordo com Tadeu, Bolsonaro se mostra, cada vez mais, chefe de um governo de militância ideológica e revanchista. ;É uma gestão que tem uma base estreita, não dialoga com a sociedade civil, com a maioria dos partidos políticos, com as outras instituições. Tem uma postura autoritária e restrita a um núcleo duro de militância ideológica. Vimos isso no Ministério da Educação, na demissão do Santos Cruz e em inúmeras situações, desde a demissão do Bebianno, é um governo que não sabe trabalhar com a pluralidade e a diversidade;, sustenta.
Impactos
A demissão de Ricardo Vélez da Educação não foi uma decisão individual. O professor, indicado pelo escritor Olavo de Carvalho, acumulou antipatias no Parlamento e no governo. O problema, para alguns, é a forma como Bolsonaro se posiciona e se comunica publicamente. Ele deixou Vélez fritando por três dias, ao indicar como inevitável a demissão. ;Eu falei que tô com a aliança na mão direita, mas que, na segunda-feira, passo para esquerda ou é gaveta. É isso. Tem reclamações (em relação a ele) e estamos conversando para ver se resolvemos o problema;, disse Bolsonaro em uma sexta-feira. A demissão ocorreu três dias depois.
Em relação ao presidente dos Correios, afirmou, após café da manhã com jornalistas, que o demitiria por comportamento de ;sindicalista;. Já Bebianno foi fritado quando Bolsonaro compartilhou nas redes sociais uma publicação do filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), sugerindo que o então ministro estaria mentindo ao comentar que teria conversado com o presidente da República, quando Bolsonaro permaneceu internado após uma cirurgia.
Tadeu diz que é difícil analisar os impactos das atitudes do presidente no relacionamento com o Congresso. Mas alerta que, quanto menor a base social, política e administrativa do governo, maior a dificuldade em representar a opinião pública. ;E, também, menor será a capacidade de gerir propriamente dita;, pondera. (RC)
;Governos não vivem quatro anos nomeando e demitindo pessoas semanalmente. Isso mostra a incapacidade de Bolsonaro de se expandir além das suas fronteiras mais estritas;
Geraldo Tadeu, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)