A ;lavagem de roupa suja; levada a público pelo presidente Jair Bolsonaro sobre o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, teve efeito instantâneo. O economista pediu demissão formal ao ministro da Economia, Paulo Guedes, em nota distribuída na manhã de ontem. Com a ;cabeça a prêmio;, a queda era vista dentro do governo como uma questão de tempo. As declarações de Bolsonaro, no sábado, só apressaram o inevitável.
O sucessor de Levy pode ser indicado ainda hoje. São apontados para ocupar o posto o secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar; o secretário de Produtividade e Emprego, Carlos da Costa; o presidente do Conselho de Administração do BNDES, Gustavo Franco; e Solange Vieira, titular da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Mas não está descartada a opção por alguém de fora do governo.
O próximo presidente do BNDES terá três grandes desafios pela frente: abrir a ;caixa-preta; do banco; trabalhar em parceria com a secretaria especial de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia; e devolver recursos para o Tesouro Nacional. Afinal, a queda de Levy está associada a esse tripé de fatores, afirmam interlocutores de Guedes e Bolsonaro.
A abertura da ;caixa-preta; é, sobretudo, uma exigência de Bolsonaro. Na última quinta-feira, em declaração contextualizada na defesa ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, o chefe do Executivo federal disse que ;R$ 400 e poucos bilhões (foram) entregues para companheiros comunistas e amigos do rei aqui dentro;, em indireta aos empréstimos feitos pelo banco de fomento na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a países como Cuba e Venezuela.
O pedido para dar transparência ao uso dos recursos do BNDES no governo do PT se transformou de uma exigência, há três meses, e uma obsessão para Bolsonaro. A indicação, por Levy, do advogado Marcos Barbosa Pinto para a diretoria de Mercado de Capitais do banco foi a gota d;água. Ex-chefe de gabinete da presidência exercida por Demian Fiocca, no mesmo BNDES, entre 2006 e 2007, Pinto não teve apenas a associação ao governo petista pesando contra ele, mas, também, a lentidão na venda de participações da BNDESPar, braço de participações do banco de fomento.
Barbosa acompanhará Levy na saída do banco, o que impõe a exigência de que o futuro presidente indique alguém para a diretoria que deverá ser atuante no programa de privatização e parcerias com o setor privado, comandado pelo secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar.
A opção por uma pessoa de fora do governo não seria surpreendente, diz um interlocutor de Guedes. O certo é que, além de alguém que preencha os pré-requisitos de abrir a ;caixa-preta; e facilitar a venda de participações da BNDESPar, o próximo presidente precisará ser atuante e se articular com os diretores para devolver recursos adiantados ao banco pelo Tesouro em anos passados. O ministro quer receber R$ 126 bilhões em 2019, dos quais foram pagos, até o momento, R$ 30 bilhões.
O agora ex-presidente do BNDES informou, em nota, ter solicitado a Guedes o desligamento. ;Minha expectativa é que ele aceda;, disse Levy. O economista agradeceu ao ministro o convite para ;servir ao país; e desejou sucesso na aprovação das reformas. Sem qualquer referência a Bolsonaro, agradeceu, ainda, a ;lealdade, dedicação e determinação da diretoria;. ;E, especialmente, agradeço aos inúmeros funcionários do BNDES, que têm colaborado com energia e seriedade para transformar o banco, possibilitando que ele responda plenamente aos novos desafios do financiamento do desenvolvimento;, atendendo às muitas necessidades da nossa população e confirmando sua vocação e longa tradição de excelência e responsabilidade.;
R$ 126 bilhões
É quanto o Ministério da Economia espera receber do BNDES neste ano
Protesto de funcionários
Funcionários do BNDES vão promover um ato contra o que classificam de ;antipatriótica desconstrução; do banco. A manifestação, organizada pela associação dos funcionários, está marcada para quarta-feira, véspera do aniversário de 67 anos da instituição. O ato foi marcado em 13 de junho, portanto, antes da demissão do presidente Joaquim Levy, mas ganhou maior repercussão a partir dos acontecimentos no fim de semana. A nota reclama da ;medida do relator da reforma da Previdência de acabar com os repasses constitucionais do PIS e Pasep para o BNDES;. Segundo a associação, cinco ex-presidentes devem participar do protesto.