postado em 22/06/2019 04:16
O presidente Jair Bolsonaro reconheceu que a articulação política do governo não funcionou nestes seis meses de gestão. A declaração respalda a transferência da Subchefia de Assuntos Parlamentares (Supar) da Casa Civil, chefiada pelo ministro Onyx Lorenzoni, para a Secretaria de Governo, que passará, em julho, a ser comandada pelo general Luiz Eduardo Ramos. ;Retornamos ao que era feito em governos anteriores;, assumiu.
Na gestão do então presidente Michel Temer, por exemplo, a articulação política era, majoritariamente, feita pela Secretaria de Governo. A Casa Civil, então sob a responsabilidade de Eliseu Padilha, cuidava da coordenação de Estado e apenas auxiliava na articulação política. Mas era na Segov que os ministros-chefes Antônio Imbassahy e, posteriormente, Carlos Marun, recebiam deputados, senadores, prefeitos e governadores em romarias ao longo da semana. Eles ouviam as demandas e as despachavam dentro do governo e em lideranças no Congresso.
O governo Bolsonaro tentou fazer diferente. Até a edição da Medida Provisória (MP) n; 886, que transferiu a Supar para a Secretaria de Governo, Lorenzoni conduzia a coordenação política com deputados e senadores e também a coordenação de Estado, a chefia sobre os demais ministérios. A Segov detinha a interlocução com governadores e prefeitos e o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), responsável por conduzir a conclusão de obras.
Deixar Lorenzoni com as duas coordenações foi avaliado por alguns como uma das causas do insucesso da articulação política. O professor de ciência política da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Felippo Madeira é um dos que fazem essa leitura. ;O presidente deu sinais claros do prestígio do ministro, mas acabou justamente sendo esse o problema: com muito poder, Onyx ficou inacessível para o Congresso;, argumentou.
Relacionamento
Parlamentares classificam Lorenzoni de ;intempestivo;. Ele é visto como alguém que não conduz uma articulação de Estado, sendo acusado de prestigiar apenas congressistas próximos, sobretudo, aliados mais fiéis. Embora não tenha usado esse argumento para explicar a retirada da interlocução do ministro, Bolsonaro disse que Ramos terá um relacionamento melhor com o Congresso.
A análise foi sustentada com base no histórico profissional e na proximidade do presidente com o futuro titular da Secretaria de Governo. ;O general é meu amigo desde 1973 e passou por assessoria parlamentar por dois anos. Tem vasta experiência em outras áreas. Foi adido militar em Israel, participou de operações das mais variadas de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Rio de Janeiro e é uma pessoa extremamente qualificada a ter um melhor relacionamento com o parlamento;, avaliou o chefe do Planalto.
Apesar da evidente desidratação, o presidente procurou afagar Lorenzoni. ;Ele está fortalecido, no meu entender. Aqui não tem ministro fraco ou forte. Todos têm de jogar juntos. Eu, na minha vida toda, sempre fui goleiro, e é a missão mais ingrata do time, que é a do Onyx;, ponderou. Entre a Casa Civil, a Secretaria de Governo e a Secretaria-Geral, Bolsonaro acredita que a chefiada por Lorenzoni é mais desafiadora. ;(Esses) ministérios são fusíveis. Para não queimar o presidente, eles se queimam. A função do Onyx é a mais complicada aqui;, declarou.
Além da articulação política, Lorenzoni perdeu o comando da Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), que foi transferida para a Secretaria-Geral. Em troca, a Casa Civil recebeu o PPI. As escolhas, destacou o presidente da República, foram feitas procurando manter a coerência com a postura adotada na campanha. ;Depois que a gente faz, acha que podia ter feito melhor e não cometido o erro. Quando montamos aqui, por inexperiência nossa, tivemos algumas mudanças nas funções de cada um que não deu certo. Grande parte retornamos ao que era feito em governo anterior;, disse, ressaltando, por exemplo, a devolução da articulação política à Secretaria de Governo.