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Ministro cancela ida à Câmara

Depois da divulgação de novas conversas vazadas com Dallagnol, Moro desiste de ser sabatinado pelos deputados na quarta. Reportagem aponta que a força-tarefa se mobilizou para proteger o então juiz

postado em 24/06/2019 04:16
Após a publicação da reportagem, Moro postou nas redes sociais:

Após a revelação de novos trechos de mensagens atribuídas ao titular da pasta da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, relativos à época em que ele era juiz federal em Curitiba, o ministro decidiu cancelar a ida à Câmara nesta semana para ser sabatinado por deputados. A audiência estava marcada para quarta-feira. Por meio da assessoria, Moro, que está em viagem aos Estados Unidos para visitar órgãos de segurança e inteligência, apenas explicou que não poderia comparecer e não definiu outro dia. A iniciativa de prestar esclarecimentos no Congresso havia partido do próprio ministro, que, na última semana, passou nove horas respondendo a perguntas de senadores sobre conversas que ele supostamente teve com procuradores da Operação Lava-Jato. Há a expectativa de que uma nova data possa ser marcada para a primeira semana de julho.

As últimas conversas foram divulgadas ontem pelo jornal Folha de S.Paulo, em parceria com o site The Intercept. Nelas, Moro dialoga com o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava-Jato em Curitiba. Segundo a publicação, em 2016, integrantes da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) se mobilizaram para proteger Moro e poupar tensões com o Supremo Tribunal Federal (STF), após ele ser repudiado pela Corte por divulgar escutas telefônicas do ex-presidente Lula.

De acordo com a reportagem, o objetivo era evitar que a divulgação de documentos da empreiteira Odebrecht que haviam sido anexados, sem sigilo, pela Polícia Federal a um processo da Lava-Jato em 22 de março de 2016 estremecesse a relação com o Supremo. Fazia parte do material uma ;superplanilha; com nomes de políticos associados a pagamentos da empreiteira que tinham direito a foro especial. Dessa forma, eles só poderiam ser investigados com autorização do STF.

Os diálogos divulgados mostram que, com as investigações sobre a Odebrecht avançando rapidamente, Moro e os procuradores do MPF estavam preocupados quanto à possibilidade de o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato na Corte, dissolver inquéritos que estavam sob responsabilidade do então juiz. À época, segundo a matéria, Moro reclamou da Polícia Federal com Dallagnol. ;Tremenda bola nas costas da PF. E vai parecer afronta;, diz a mensagem atribuída a ele, enviada ao procurador da República pelo aplicativo Telegram.

Deltan teria respondido que não houve má-fé da PF em divulgar os documentos. Apesar disso, Moro não se contentou, conforme as mensagens apresentadas ontem pela Folha. ;Continua sendo lambança. Não pode cometer esse tipo de erro agora;, teria criticado o hoje ministro do governo Bolsonaro.

Apoio incondicional

Dessa forma, como relata a reportagem, Moro revelou a Deltan que enviaria ao Supremo ao menos um dos inquéritos em andamento em Curitiba, que tinha como alvo o ex-marqueteiro de campanhas do PT, João Santana. Entretanto, Deltan responde a Moro que contatou a Procuradoria-Geral da República e o sugere enviar outro inquérito ligado à empreiteira.

Durante a troca de mensagens com Moro, segundo o material publicado, Deltan promete apoio incondicional ao então magistrado. ;Saiba não só que a imensa maioria da sociedade está com Vc, mas que nós faremos tudo o que for necessário para defender Vc de injustas acusações;, garantiu Deltan.

O coordenador da Lava-Jato ainda frisa a Moro que ;uma das coisas que mais tenho admirado em Vc ; uma nova face de suas qualidades ; é a serenidade com que enfrenta notícias ruins e problemas;. Por fim, o procurador da República pede a Moro que ;continue firme;.

Repúdio

Diante das novas denúncias, a assessoria de Moro se manifestou em nota oficial ao dizer que não confia na autenticidade de mensagens obtidas de forma criminosa e que podem ter sido editadas ou adulteradas total ou parcialmente. ;O ministro da Justiça e da Segurança Pública repudia a divulgação de suposta mensagem com o intuito único de gerar animosidade com movimento político que sempre respeitou e que teve papel cívico importante no apoio ao combate à corrupção;, informou o texto.

Ainda segundo a assessoria, ;causa revolta que se tente construir um enredo com mensagens, cuja autenticidade não se pode reconhecer, a partir de fatos que envolvem um processo judicial público e que só atestam a correção e isenção com que o ministro atuou enquanto juiz federal na Operação Lava-Jato;.

O ex-juiz federal também usou as redes sociais para se pronunciar. ;Um pouco de cultura. Do latim, direto de Horácio, parturiunt montes, nascetur ridiculus mus (A montanha pariu um rato).;


"O ministro da Justiça e da Segurança Pública repudia a divulgação de suposta mensagem com o intuito único de gerar animosidade com movimento político;
Trecho de nota divulgada pela assessoria do Ministério da Justiça e da Segurança Pública


Pedido de desculpas
O Movimento Brasil Livre (MBL) tornou público um áudio de quase três minutos de duração atribuído a Moro em que ele pede desculpas ao grupo por ofender os seus integrantes em uma suposta conversa com o procurador da República Deltan Dallagnol, em 2016. No diálogo, o então juiz teria se referido aos militantes como ;tontos;, por protestarem em frente ao apartamento do à época ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki. ;Consta ali um termo que não sei se usei mesmo. Acredito que não. Pode ter sido adulterado. Mas queria pedir minhas escusas se eventualmente utilizei porque sempre respeitei o Movimento Brasil Livre;, disse o ministro. ;Aquilo lá eu fiz com convicção na absoluta correção, mas gerou toda uma pressão, foi um período complicado. E achei que esse protesto na época era um tanto quanto inconveniente;, completou. Após a repercussão do arquivo nas redes sociais, a assessoria de Moro disse não ter conhecimento do áudio.


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