Osaka (Japão) ; Sob uma temperatura de 28;C em Osaka, no Japão, o presidente Jair Bolsonaro iniciou em clima quente a primeira participação dele na cúpula do G20, integrada pelos países de maior economia do mundo. As políticas públicas do governo brasileiro para o meio ambiente provocaram mal-estar entre o chefe do Planalto e a chanceler alemã Angela Merkel e fizeram com que o país também fosse duramente criticado pelo presidente da França, Emmanuel Macron. O dirigente europeu afirmou que não assinaria um acordo com o Mercosul se Bolsonaro concretizasse a intenção de retirar o Brasil do Acordo de Paris sobre o clima. Como resultado da saia justa, a reunião do chefe do Planalto com Macron, prevista para esta sexta-feira, acabou cancelada.
O primeiro dia de Bolsonaro em solo asiático foi marcado por irritação e por uma resposta incisiva a Merkel. A primeira-ministra disse desejar ter uma conversa clara com o brasileiro, na reunião em Osaka, sobre desmatamento. O presidente rebateu: ;Nós temos exemplo para dar para a Alemanha sobre o meio ambiente. A indústria deles continua sendo de carvão, e a nossa, não. Eles têm muito a aprender conosco;, afirmou o capitão reformado ao chegar ao hotel St. Regis, no centro de Osaka, onde ficará hospedado pelos próximos três dias. ;O presidente do Brasil que está aqui não é como os anteriores, que vieram aqui (G20) para serem advertidos. A situação aqui é de respeito para com o Brasil;, frisou. Ele não se referiu a uma situação específica de advertências anteriores.
Bolsonaro, entretanto, disse que é preciso avaliar o que Merkel falou e aproveitou para criticar a imprensa. ;Eu vi o que está escrito, mas, lamentavelmente, o que a imprensa escreve não é aquilo;; Nesse momento, um dos jornalistas disse que a declaração da chanceler foi publicada pela imprensa alemã. ;Não interessa se é alemã, e deixa completar o raciocínio, faz favor. Então, tem de fazer a filtragem para não deixar se contaminar pela mídia escrita.;
Heleno
A declaração de Merkel teria sido uma resposta a ONGs e parlamentares alemães ligados às causas ambientais sobre acordos de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, mesmo com decisões controversas do governo brasileiro sobre o tema. Ela disse que não poderia frear as negociações, mas que falaria com o presidente do Brasil sobre a questão.
Logo depois de Bolsonaro, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, afirmou que o Brasil não se mete em assuntos de outros países e, assim, não é razoável que outras nações se envolvam em temas internos brasileiros. ;O Brasil é um dos países que mais respeitam o meio ambiente. Ninguém tem moral para falar da política de meio ambiente no Brasil;, destacou. ;Temos de ter uma política que nos interesse, o famoso desenvolvimento sustentável. Ninguém pode dar palpite. Quais as florestas que o europeu preservou? Por trás tem uma estratégia de preservar o meio ambiente para depois eles explorarem, e hoje estão cheios de ONGs por trás deles.;
Durante a rápida coletiva, Bolsonaro não deu detalhes sobre o encontro bilateral que terá com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, previsto para ocorrer na tarde desta sexta-feira (madrugada no Brasil). ;Espero ter uma reunião reservada. E se é reservada é reservada.; Como pano de fundo da cúpula do G20, que ocorre hoje e amanhã, está a disputa comercial entre chineses e norte-americanos, com denúncias de espionagem e ;terrorismo econômico;. ;O Brasil não tem lado na questão comercial, a gente não quer que haja briga para a gente se aproveitar. Nós queremos a paz.;
O deputado Eduardo Bolsonaro, que está na comitiva e é presidente da Comissão de Relações Exteriores, ressaltou que o Brasil tem um governo democrático. ;É um governo aberto. Assim, os debates realmente ocorrem, mas a decisão final é do presidente.; Segundo ele, existem vários argumentos para todos os lados. ;A China é o nosso maior parceiro internacional, não podemos virar as costas, mas, ao mesmo tempo, não podemos vender tudo para eles, porque poderíamos ficar na mão de outros países, isso não é bom. No final das contas, o governo tem uma voz só, que é a do presidente Bolsonaro.;
Drogas
Bolsonaro encerrou a entrevista sem comentar a apreensão de cocaína com um segundo sargento no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) de apoio à comitiva presidencial. O militar foi preso em Sevilha ; uma das paradas previstas inicialmente ; pela polícia espanhola. O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse que o governo está tomando todas as medidas com o objetivo de fornecer dados para que as autoridades tomem as providências legais.
;O presidente, o Ministério da Defesa e o Comando da Força Aérea não admitem, em hipótese nenhuma, procedimentos desse tipo em relação aos seus recursos humanos;, frisou Rêgo Barros. ;Isso deve ser rapidamente apurado, e a pessoa, punida dentro dos trâmites legais.; As falhas na segurança, segundo o porta-voz, estão sendo verificadas a partir de inquérito policial militar sob responsabilidade da FAB. ;Todas as malas são fiscalizadas. Esse sargento era da comissaria, ele entra muito antes. Mas espera-se que esses eventos não ocorram;, emendou Heleno, que considerou ;uma falta de sorte; o episódio ter ocorrido no momento do G20.
;Nós temos exemplo para dar para a Alemanha sobre o meio ambiente. A indústria deles continua sendo de carvão, e a nossa, não;
Jair Bolsonaro, presidente da República