Agência Estado
postado em 30/06/2019 08:45
Os sinais de que o Planalto está insatisfeito com o desempenho de Onyx Lorenzoni à frente da Casa Civil estão diretamente refletidos nas agendas oficiais do ministro. Alvo de "fritura" pelo governo desde que perdeu o comando da articulação política e a supervisão da Subchefia para Assuntos Jurídicos, Onyx enfrenta uma queda acentuada e contínua no número de reuniões com parlamentares, ministros e até mesmo com o próprio presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos três meses de compromissos oficiais, essa redução fica evidente.
Em abril, por exemplo, o ministro chegou a participar de ao menos 19 reuniões com Bolsonaro. Em maio, o número de encontros com o presidente despencou para quatro. Neste mês, foram apenas três. Ponderadas as ocasiões em que o presidente esteve fora do País, em viagens, o fato é que o tête-à-tête oficial se esvaiu.
No Japão, Bolsonaro insinuou que pode fazer trocas na equipe nos próximos dias. Ao ser questionado sobre o escândalo das candidaturas-laranja envolvendo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), Bolsonaro disse que "até segunda-feira os 22 são ministros".
A agenda de compromissos de Onyx sinaliza ainda uma aparente falta de prestígio quando analisados os encontros que o ministro teve com deputados e senadores, nos últimos meses. Nos dez primeiros dias de abril, Onyx recebeu mais deputados do que em todo o mês de junho. Naquele mês, foram ao menos 51 reuniões com parlamentares. Em junho, no entanto, o chefe da Casa Civil se reuniu 27 vezes com deputados e senadores. Em alguns casos, ele se encontrou com deputados, senadores ou ministros em uma mesma reunião.
O futuro do ministro é incerto. Bolsonaro transferiu a articulação política da Casa Civil para a Secretaria de Governo há 11 dias. Agora, o responsável pela negociação do Palácio do Planalto com o Congresso será o general Luiz Eduardo Ramos, que assumirá a Secretaria de Governo no lugar do ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido duas semanas atrás.
PPI. A Casa Civil também perdeu a Secretaria para Assuntos Jurídicos, que faz a análise de decretos e projetos de lei, além do comando da Imprensa Nacional. Oficialmente, o governo Bolsonaro defende Onyx e ressalta que, apesar da desidratação de sua pasta, ele ficou com o comando do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), que concentra as concessões de infraestrutura do governo e planos de desestatizações.
Na prática, porém, as concessões são tocadas pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que não abre mão de estar presente em cada um dos leilões que o governo realiza nas instalações da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. A coleta dos resultados do PPI, portanto, já tem dono.
Nos bastidores, há comentários de que Tarcísio se movimenta para herdar o gabinete de Onyx, no quarto andar do Palácio do Planalto. O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), também está de olho na vaga, assim como o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), aliado de Bolsonaro. O secretário especial da Previdência, Rogério Marinho (PSDB), ainda é um nome lembrado, mas só poderia ser liberado após a votação das mudanças na aposentadoria, uma vez que é considerado um hábil articulador no Congresso.
O Estado mostrou na sexta-feira, 28, que a proximidade de Onyx com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), incomoda Bolsonaro. O presidente se queixa, nos bastidores, de que o ministro está fazendo o "jogo" do Legislativo, dando a impressão de que o Palácio cedeu ao "toma lá, dá cá".
A agenda de Onyx mostra que a soma dos encontros que ele teve com Maia e Alcolumbre, em maio, é maior que o número de reuniões mantidas por ele com Bolsonaro.
No último mês, foram pelo menos cinco reuniões individuais com o presidente do Senado. O chefe da Casa Civil ajudou a eleger Alcolumbre. Já com Maia, houve um encontro.
A quantidade de reuniões de Onyx com os demais ministros da Esplanada também diminuiu no último mês. Em abril, foram 18 encontros entre o ministro e seus colegas. O número aumentou em maio, quando ele se reuniu com os chefes das pastas em ao menos 21 ocasiões, mas caiu para 11 em junho.
Procurada para comentar, a Casa Civil não havia respondido até a conclusão desta edição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.