postado em 02/07/2019 04:19
Presidente do Banco Central em duas ocasiões, antes (1992/1993) e depois do Plano Real (1995/1997), o economista Gustavo Loyola disse que ;o real foi uma belíssima obra que mostra que o Brasil tem jeito;. De acordo com ele, o órgão merece um presente de aniversário de 25 anos, que a moeda completou ontem: a independência.
Loyola afirmou que a medida é importante para que a instituição possa cumprir seu papel sem interferências governamentais. ;O banco fica protegido, pois com pressões políticas, o BC pode acabar não fazendo o seu trabalho, que é manter a inflação baixa e estável. Por exemplo: pode não agradar a alguns políticos que o banco aumente as taxas de juros, porque isso gera impopularidade, ou pode ser levado a estimular a economia em um ano eleitoral;, explicou, durante o Correio Debate: 25 anos do real. Com a independência, os dirigentes do Banco Central passariam a ter mandatos fixos com estabilidade, a exemplo das agências reguladoras.
O economista disse que o BC cresceu muito e que não há nenhuma instituição brasileira que teve maior estabilidade. Ele também vê o Plano Real como um processo de modernização e de reformas em curso. ;Sendo um processo, não acabou. Continuamos com uma agenda inacabada. Isso não é um juízo negativo, mas a constatação de que é um processo e, dificilmente, poderia se esgotar durante o governo FHC;, resumiu.
De acordo com o analista, até 2008, de forma geral, houve continuidade das políticas de responsabilidade fiscal e macroeconômicas, propiciadas pelo fim da inflação. ;No início do governo Lula, até 2008, houve alguns pequenos retrocessos na gestão macroeconômica, mas tudo mudou com a crise financeira;, avaliou. ;Embora a resposta à crise financeira tenha sido, no geral, correta, o governo gostou de gastar mais, e criou-se um ambiente intelectual no mundo de que precisava ter medidas de estímulo, mas, de maneira muito conveniente, se deixou de lado a ideia de que esses estímulos têm que ser usados na hora certa e na dose certa.;
Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, o Brasil tem uma carga tributária que condiz com os altos gastos públicos. ;Só teremos carga tributária menor quando a despesa pública for menor. Ela é produto de um custo crescente;, ressaltou. Ele também explicou que a expansão quase colocou em xeque as conquistas dos últimos 25 anos. ;Nós estamos celebrando o 25; ano do Plano Real, mas nós flertamos com o risco de a história ser bem diferente.;
O especialista disse que a mudança de viés iniciada em 2016 permitiu a reversão do quadro de risco. Ele destacou, principalmente, a Emenda Constitucional n; 95, que estabeleceu o teto dos gastos. De acordo com o economista, mesmo sendo um tema, recolocou o país na trajetória de solvência fiscal.
Reforma trabalhista
Honorato também entende que a reforma trabalhista, aprovada em 2017, direciona o país para o caminho correto da flexibilização do mercado. ;Sei que tudo isso gera uma frustração, porque nós, economistas, defendemos muito essas reformas e, hoje, somos cobrados pelo crescimento (pequeno). O capítulo do crescimento é a parte. Lembra muito a fase de transição do governo FHC para o do Lula, em que muitas reformas foram feitas, e o mundo estava desabando. Quando o governo petista, corretamente, não só mantém como aprofunda algumas reformas, inclusive do mercado de crédito, o país decola;, declarou. ;Nós estamos vivendo exatamente esse processo na minha visão. Nós fizemos uma série de reformas que vão dar resultado;, comparou.
Loyola, por sua vez, é otimista com relação à aprovação das mudanças estruturais, mas entende que elas só sairão do papel com a ;boa e velha política;. ;Estamos em um momento bom, até porque, o sistema atual tributário, como o previdenciário, faliu. Há também espaço para reforma no marco regulatório do saneamento, privatizações, concessões;, afirmou.
*Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa